Descrição de chapéu acidente aéreo

Avião que caiu em Vinhedo perdeu 3.300 metros de altitude em menos de um minuto

Aeronave da Voepass partiu de Cascavel, no Paraná, com destino para o aeroporto de Guarulhos, na manhã desta sexta-feira (9)

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São Paulo e Brasília

O avião de médio porte que caiu nesta sexta-feira (9) em Vinhedo, no interior de São Paulo, perdeu 3.300 metros de altitude em menos de um minuto a partir das 13h21. A informação é do site Flight Aware, que monitora voos em tempo real ao redor do mundo.

Registros mostram que o turboélice comercial bimotor de médio porte da Voepass decolou às 11h59 de Cascavel, no Paraná, e começou a perder altitude às 13h20, quando estava a cerca de 5.100 metros. Cerca de um minuto depois, atingiu 1.798 metros, a última atualização disponível. Segundo a FAB (Força Aérea Brasileira), a perda de contato com o radar ocorreu às 13h22.

As imagens da queda, feitas a partir do solo mostram, que a aeronave perdeu sustentação no ar e desceu em queda livre. Nas primeiras horas após o acidente, especialistas em aviação ouvidos pela Folha levantaram duas hipóteses principais para o caso com base nos primeiros detalhes, ressaltando que é cedo para determinar as causas.

Imagem mostra um avião com o bico inclinado para baixo perto de casas
Avião comercial de médio porte cai em bairro residencial de Vinhedo (SP) - Reprodução/Folhapress

A maneira como o avião caiu, girando levemente no ar e em posição horizontal, manobra conhecida como "parafuso chato", indica, segundo especialistas, que o piloto havia perdido o controle da aeronave e as condições de arremeter —ou seja, apontar o nariz da aeronave para baixo e usar os motores para ganhar novamente sustentação no ar. Os vídeos reforçam a probabilidade de um problema de tração, ou seja, de ar circulando a partir das turbinas em direção à cauda.

O especialista em segurança de voo Roberto Peterka levanta a possibilidade de que gelo tenha se acumulado nas asas da aeronave. Já o engenheiro Hildebrando Hoffman, professor aposentado de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), levanta a hipótese de que tenha ocorrido uma falha na posição das hélices.

Eles descartam a possibilidade de falha elétrica ou no motor, pois há sistemas auxiliares que normalmente não fariam com que o avião caísse em queda livre, como se vê nas imagens. A pane seca também está descartada, uma vez que houve queima de combustível no solo, após a queda.

"Esse avião voa num nível [de altitude] onde tem muito gelo, então pode ser que o gelo tenha se acumulado nas asas e alterado o perfil de sustentação. Assim, ele perde a velocidade e a sustentação, e vem abaixo ", diz Peterka.

O nível em questão é uma altitude entre 15 mil e 20 mil pés. Aviões de maior porte costumam alcançar alturas mais elevadas, até 40 mil pés. As condições do tempo podem ter contribuído para a formação de gelo, segundo o especialista.

O avião era um turboélice modelo ATR-72, fabricado pela empresa franco-italiana ATR (Avions de Transport Régional). Foi fabricado em 2010, segundo o registro aeronáutico da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Operado pela Voepass, antiga Passaredo, levava 57 passageiros e quatro tripulantes. Ninguém sobreviveu, segundo a companhia aérea.

O voo 2283 saiu de Cascavel (PR) com destino ao aeroporto de Guarulhos (SP). O pouso estava previsto para as 13h54.

Aviões do modelo ATR-72 têm sistemas para prevenir a formação de gelo, ressalta o engenheiro Hildebrando Hoffman. Um dos recursos antigelo, ele afirma, permite injetar ar quente que sai dos motores em câmaras de borracha em partes críticas do avião para evitar a formação de gelo.

Hoffman também diz que chama atenção o fato de que asas e estabilizadores aparecem nas imagens aparentemente íntegros, ou seja, nenhum pedaço importante do avião parece ter se quebrado antes da queda. Isso, segundo ele, afasta a hipótese de um problema aerodinâmico.

"Essa situação [o modo como o avião caiu] se deve fundamentalmente porque por algum motivo ele deixou de ter tração, os motores deixaram de funcionar em regime normal", diz Hoffman. "Ele perdeu a tração e veio em queda livre praticamente na vertical, girando. Isso pode ter ocorrido porque algo aconteceu com o sistema de hélices, que precisa estar numa posição correta para causar tração."

O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), da Força Aérea Brasileira, informou que recuperou a caixa-preta do avião que caiu na tarde desta sexta-feira (9). O acidente foi considerado de alta complexidade e havia uma preocupação de que altas temperaturas pudessem ter danificado os equipamentos.

A unidade de São Paulo, Cenipa 4, afirmou que conseguiu encontrar um equipamento que grava vozes da cabine e outro que contém dados do voo como altitude, meteorologia e velocidade, entre outros. Durante uma entrevista coletiva, o chefe da Seção de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, brigadeiro do ar Marcelo Moreno, afirmou ainda que os instrumentos serão encaminhados para a capital federal, onde há um laboratório de análise desses materiais.

Segundo a FAB, a tripulação não declarou emergência e nem reportou estar sob condições meteorológicas adversas. A Anac informou ainda que, de acordo as informações colidas até a noite desta sexta, a aeronave estava em situação regular, com a renovação do certificado de aeronavegabilidade prevista para junho de 2026.

"A aeronave estava regular, em todas as condições de aeronavegabilidade. Temos a rastreabilidade desde que a aeronave foi construída e isso será levantado e a informação será prestada à investigação feita pelo Cenipa", disse o diretor da Anac Luiz Ricardo afirmou.

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