Descrição de chapéu Escolha a escola

Sala de aula vira oficina para criança pôr a mão na massa

Atividades de educação maker aplicam teoria em experimentos práticos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Baseado no conceito de “faça você mesmo”, o movimento maker chegou às escolas tradicionais e está transformando estudantes do ensino fundamental e médio em projetistas e criadores de novas tecnologias.

Objetos escolares
Produção com objetos escolares - Eduardo Knapp/Folhapress - Produção Aline Prado

Em salas de aula convertidas em laboratórios, alunos usam ferramentas de serralheria, cortadoras a laser e impressoras 3D para traduzir conteúdos teóricos em experimentos práticos.

As atividades são desenvolvidas em disciplinas obrigatórias específicas de ensino maker ou em aulas opcionais, em que os estudantes têm contato com fundamentos de marcenaria, costura, robótica e programação. Entre os projetos desenvolvidos estão maquetes, carros movidos a propulsão e jogos que utilizam inteligência artificial.

O objetivo é estimular crianças e adolescentes a exercer um papel mais ativo nas aulas. 

“O modelo de educação tradicional é mecânico. Aqui, o aluno percebe que tudo o que ele aprende tem significado, e ele pode criar algo novo”, diz Bárbara Ferreira, instrutora do espaço maker do Colégio Franciscano Pio XII, na zona oeste de São Paulo.

Complementando as aulas de história sobre a Idade Média, os alunos do sétimo ano da instituição construíram no laboratório maquetes para representação de feudos. Aproveitaram o protótipo e desenvolveram pequenas catapultas, armas usadas no período medieval, para observar o movimento do lançamento oblíquo, estudado em física.

As alunas Beatriz Freire, Carolina Berenholc e Rafaella Trindade (da esq. para a dir.), 13, adaptam um gerador durante aula no Stance Dual, em SP
As alunas Beatriz Freire, Carolina Berenholc e Rafaella Trindade (da esq. para a dir.), 13, adaptam um gerador durante aula no Stance Dual, em SP - Keiny Andrade/Folhapress

A escola também aproveita essas aulas para incentivar os alunos a pensarem em aplicações de novas tecnologias. “Quando fazemos modelagens em uma impressora 3D, discutimos a possibilidade da criação de próteses no campo da medicina”, diz Bárbara.

No Stance Dual, na região central de São Paulo, o ensino maker é oferecido do quinto ao nono ano na disciplina oficina/workshop. 

No oitavo ano, os alunos criam projetos com a temática da energia sustentável. Um dos trabalhos que estão sendo desenvolvidos é o protótipo de uma bicicleta em que o ciclista recarrega a bateria do celular enquanto pedala. A ideia é converter a energia mecânica em eletricidade.

Para isso, as alunas responsáveis pelo projeto trabalham na adaptação de um dínamo, aparelho que funciona como gerador, de forma que possa ser conectado ao celular.

A estudante Beatriz Freire, 13, diz que as aulas mostraram que é possível inserir a sustentabilidade em quase tudo. Ela planeja seguir a carreira de engenharia ou arquitetura, e é uma das autoras do projeto, ao lado das colegas Carolina Berenholc e Rafaella Trindade, da mesma idade.

A disciplina maker também aborda conceitos de empreendedorismo em aulas expositivas. Neste semestre, os alunos usam seus projetos como base para a criação de um modelo de negócio, com logomarca e vídeo promocional.

Os estudantes do ensino médio do Colégio Bandeirantes trabalham com a cultura do “faça você mesmo” em aulas ministradas por dois ou três professores de química, física, biologia ou artes.

Como os alunos têm fácil acesso a celulares e computadores, eles buscam inspiração em vídeos publicados na internet. Um dos canais mais populares é o Manual do Mundo, sobre ciência, experimentos e curiosidades, que tem mais de 12 milhões de inscritos e 2,1 bilhões de visualizações no Youtube.

Durante o laboratório maker os estudantes também aprendem a programar softwares para operar máquinas como as de corte a laser. 

No Liceu de Artes e Ofícios, na região central de São Paulo, os estudantes têm contato com a plataforma BIM (Building Information Model), que projeta virtualmente as etapas da construção de uma obra.

Segundo o professor de física do Colégio Bandeirantes, Renato Villar, o barateamento de tecnologias contribui para a disseminação desse modelo mão na massa. Hoje, uma impressora 3D usada nas escolas custa, em média, R$ 2.500.

O aluno Gabriel Garcia, 16,do segundo ano do ensino médio do Bandeirantes, sempre gostou das disciplinas de exatas. Diz que pensou em cursar engenharia, mas estava inseguro porque não sabia como o conhecimento teórico poderia ser aplicado na prática.

Os laboratórios, afirma, tiraram suas dúvidas. Hoje ele se diz decidido pela profissão. Um dos projetos desenvolvidos por ele estuda os efeitos da corrosão da chuva ácida em diferentes materiais, de concreto a prego.

Por usar equipamentos cortantes, as oficinas são ministradas para grupos pequenos, sob a atenção constante do educador, explica Guilherme Pasmanik, professor responsável pelo setor na Móbile, na zona sul de São Paulo. Na escola, a atividade tem até 28 estudantes.

“A cultura maker é bem-vinda desde que não se perca nela mesma. O conceito funciona como um meio, não como um fim. Não temos aula para aprender a martelar, mas para usar o martelo na resolução de um problema maior”, diz Villar, do Bandeirantes.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.