Unicamp cancela ingresso para universidade por meio do Enem

Universidade diz que novas datas da divulgação do resultado do exame impossibilitam matrículas

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São Paulo

A Unicamp anunciou, nesta quarta-feira (22), que não será possível o ingresso por meio do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em 2021.

A Unesp também avalia não usar a nota do exame nacional neste ano para a seleção de alunos. Entidades criticam a decisão de não usar o Enem para a seleção.

A universidade alega incompatibilidade de calendário com o Enem, que teve a prova adiada por causa da pandemia do novo coronavírus --agora, a previsão é que as provas em papel aconteçam nos dias 17 e 24 de janeiro de 2021 e, as digitais, em 31 de janeiro e 7 de fevereiro de 2021.

Com a nova data de realização da prova, a divulgação dos resultados só será feita em 29 de março, após o início do ano letivo na Unicamp, que está previsto para 15 de março.

Agora, as 639 vagas previstas via edital serão transferidas para o vestibular —totalizando, assim, 3.234 vagas. Em nota, a universidade informa também que a reserva de vagas do exame para candidatos de escola pública (10%) e candidatos autodeclarados pretos e pardos (10%) ficará garantida —este último percentual se soma aos 15% que já eram previstos no vestibular.

Fred Amâncio, secretário de educação de Pernambuco e vice-presidente do Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), lamenta a decisão da Unicamp.

"Lutamos muito para que houvesse um adiamento da prova do Enem e essa data foi escolhida com o objetivo de contar com a sensibilidade das faculdades de permitirem o ingresso ainda no primeiro semestre dos alunos por meio do resultado dos exames", disse Amâncio.

"Para minha surpresa, por uma questão de 15 dias [entre o início das aulas e a divulgação das notas do Enem], a universidade optou por essa medida", completou.

O secretário acredita que o ingresso via vestibular próprio limita a seleção de alunos. "Espero que outras universidades não sigam esse caso e mantenham a utilização do Enem, porque essa é a forma mais democrática de acesso [ao ensino superior] do país."

A Unesp ainda avalia se vai usar a nota do Enem 2021 para a seleção do próximo ano. O possível recuo ocorre exatamente no ano em que a universidade planejava ampliar a oferta de vagas para seleção pelo exame nacional.

Uma reunião na próxima quarta (29) da Câmara Central de Graduação da Unesp vai decidir sobre o uso do Enem. Uma das propostas é de que a nota do exame só seja usada para selecionar estudantes para as vagas remanescentes, ou seja, aquelas que não forem preenchidas após as primeiras chamadas do vestibular próprio da universidade.

Já a USP decidiu manter a oferta de 25% de suas vagas para seleção pelo Enem. Das 11.147 vagas, 2.905 são ofertadas pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada), do Ministério da Educação.

Belmira Bueno, diretora-executiva da Fuvest, disse que a manutenção de dois tipos de ingresso na USP é uma forma de garantir mais condições de acesso para alunos de escola pública. “O aluno pode tentar garantir a vaga dele por dois exames, aumenta sua chance de sucesso. Fizemos o esforço de manter as duas possibilidades para diminuir as desigualdades sociais que se acentuaram com a pandemia.”

Para Belmira, a decisão de adiar a data da prova da Fuvest em 45 dias foi uma sinalização importante para os estudantes, mas não compensa todos os meses de perda de aula presencial. Ela lembra ainda que, neste ano, 50% das vagas disputadas pela Fuvest são reservadas para alunos de escola pública.

“O adiamento não compensa a perda de ensino e aprendizado, mas espero que seja um alento para esse momento de ansiedade e insegurança dos candidatos. E precisamos lembrar que alunos de escola pública estão concorrendo entre eles, o que atenua a desigualdade de condições que tivemos neste ano”, disse.

Coordenadores dos vestibulares das três universidades paulistas debatem ainda a possibilidade de que, excepcionalmente, as provas da próxima edição abordem apenas os conteúdos relativos ao 1º e 2º ano do ensino médio, como forma de minimizar as perdas de aprendizado deste ano. Ainda não há uma decisão sobre a proposta.

“Considero que seria uma forma mais justa de avaliar os alunos em um contexto tão atípico e excepcional. É preciso sensibilidade com as dificuldades que eles estão enfrentando neste ano”, diz Belmira.

Para Iago Montalvão, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) e estudante de economia na USP, a decisão da Unicamp é resultado da falta de diálogo do MEC com as universidades e pode desgastar a imagem do Enem.

"Para nós, o Enem é mais democrático do que o vestibular por permitir o acesso de pessoas de outros estados e até mesmo pelo formato pedagógico, que exige menos decoreba", afirmou.

Presidente da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e estudante de cursinho, Rozana Barrozo também considerou prejudicial a decisão da Unicamp. "É simbólico que as universidades deixem de aceitar vagas pelo Enem. É o resultado da política de um governo que desvaloriza a importância do Enem."

Em nota, o MEC informa as universidades podem optar por utilizar as notas do Enem em seus processos seletivos próprios, não cabendo ao MEC a gestão desses processos.

A pasta diz ainda que é responsável pela condução do processo seletivo do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), em que as universidades federais que aderem ao sistema podem utilizar a nota do Enem para a classificação, mas que não há registro de adesão da Unicamp em nenhuma das edições da seleção unificada.

Alteração nas provas

No início de julho, a Unicamp divulgou as novas datas para o vestibular de 2021. A primeira fase acontece entre os dias 6 e 7 de janeiro e a segunda, nos dias 7 e 8 de fevereiro. As datas foram mudadas em decorrência da pandemia de Covid-19.

Além disso, as provas da primeira fase seriam divididas em dois dias, de acordo com a área do curso escolhido pelos candidatos. As provas desta primeira fase terão questões reduzidas, antes eram 90 e agora serão 72 e o tempo para a realização também sofreu alteração, se antes poderia ser feito em cinco horas, passou para quatro. As inscrições podem ser feitas entre 30 de julho e 8 de setembro na página da Comvest.​

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