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Evento milionário de barcos de luxo gera protestos de estudantes na USP

Universidade diz ter recebido R$ 400 mil para ceder espaço da raia olímpica para venda de embarcações

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São Paulo

Uma feira de barcos de luxo na raia olímpica da USP (Universidade de São Paulo) foi alvo de protestos de estudantes e funcionários pelo risco sanitário de realizar um evento deste porte durante a pandemia.

O São Paulo Boat Show, considerado o maior salão náutico da América Latina, aconteceu entre os dias 19 e 24 de novembro dentro da universidade. Para sediar o evento, a USP diz ter recebido cerca de R$ 400 mil pela cessão do espaço da raia olímpica.

A organização do evento diz ter seguido todos os protocolos sanitários e que estipulou um limite de receber 1.990 pessoas circulando simultaneamente pela feira. Em toda a edição, estima ter tido de 12.000 a 15 mil visitantes.

Feira de barcos de luxo aconteceu na raia olímpica da USP
Feira de barcos de luxo aconteceu na raia olímpica da USP - Reprodução Redes Sociais/São Paulo Boat Show

Contrária à decisão da reitoria, a congregação da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) emitiu uma nota em que questiona a pertinência de um evento comercial dentro do espaço acadêmico e o risco a que expôs estudantes, que moram no campus, e funcionários.

“A congregação repudia a maneira como decisões dessa envergadura são tomadas à revelia de uma democrática e ampla consulta às instâncias representativas da comunidade, assim como o negacionismo da pandemia e a intransparência das ‘cessões’ e ‘doações’ mencionadas”, diz a nota.

Estudantes do Crusp, moradia estudantil da universidade, fizeram um protesto na entrada do evento na segunda (23). O ato terminou depois de a Polícia Militar usar spray de pimenta e bombas de gás contra os manifestantes.

“É completamente descabido que a universidade seja usada no meio de uma pandemia para vender iates e escunas de luxo. O campus ficou com restrição de circulação por meses, eventos acadêmicos foram adiados para preservar vidas e agora realizam um evento sem nenhuma ligação com a função da USP”, disse Carina Matheus, 29, estudante de Pedagogia e moradora do Crusp.

Nas últimas edições, a feira acontecia em um centro de exposições, mas foi transferida para a raia olímpica neste ano por causa da pandemia. A organização diz ter procurado uma área aberta para o evento.

A feira teve a exposição de mais de 70 embarcações de luxo, com valores que variavam de R$ 45 mil a R$ 3,4 milhões. Também houve exposição de carros esportivos e helicópteros.

Além dos riscos com a aglomeração de pessoas, os alunos também gravaram vídeos em que motoristas dirigem em alta velocidade nas ruas do campus com os carros de luxo. Em um dos vídeos é possível ver o momento em que um dos veículos derrapa por causa da aceleração, enquanto outros carros circulam pela via.

“Acordamos no sábado com o barulho desses carros correndo pela universidade. É muita irresponsabilidade, nos colocaram em risco para o coronavírus e ainda usam o espaço dessa maneira”, disse Ana Maria dos Santos, 20, estudante de Ciências Sociais e moradora do Crusp.

Em um vídeo de divulgação do evento, a escolha da raia olímpica é justificada por ser um “cenário incrível” que não pode ser desperdiçado. “Quando você tem um evento desse tipo, que a sociedade vem à universidade e compartilha suas preocupações, ajuda muito na integração”, diz o reitor Vahan Agopyan, no vídeo.

A reitoria diz que o espaço é cedido regularmente para eventos esportivos e comerciais e que os valores arrecadados são usados para a manutenção e melhorias do local. A universidade diz que a raia tem custo de R$ 1 milhão ao ano.

Para o evento, diz ter recebido R$ 90 mil de aluguel da raia, melhorias na estrutura, metade da renda arrecadada com o estacionamento do evento e a doação de um barco de 18 pés, avaliado em R$ 70 mil, que será usado pela comunidade acadêmica para atividades esportivas, de ensino, pesquisa e extensão —sem especificá-las.

Em nota, a organização do São Paulo Boat Show diz que o evento foi autorizado pela reitoria pelos impactos positivos que traria à universidade, com o “legado em torno de R$ 400 mil para a raia”. Também informou que o evento foi liberado pela Prefeitura de São Paulo e seguiu todos os protocolos exigidos pelo governo estadual.

Sobre os carros em alta velocidade, a organização disse que o vídeo mostra a chegada do “Motogrid Brasil, um encontro realizado esporadicamente de forma organizada e respeitosa entre colecionadores de carros esportivos”, que não feriu a legislação e não causou nenhum dano à universidade ou aos alunos.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que a Polícia Militar foi acionada para atender uma ocorrência em que um grupo de alunos interditava o acesso ao campus, impedindo a entrada do público no local.

"Por volta das 15h20, os manifestantes investiram contra um funcionário da segurança, sendo necessária intervenção para dispersar a multidão. Ninguém ficou ferido e não houve danos patrimoniais", diz a nota sobre a atuação dos policiais.

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