Descrição de chapéu Escolha a escola

Pais contam por que trocaram os filhos de escola durante a pandemia

Insatisfação com dinâmica das aulas online e necessidade de equilíbrio das contas na crise motivaram mudanças

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Lisandra Matias
São Paulo

Veja abaixo cinco histórias de pais e mães que trocaram os filhos de escola durante a pandemia. A insatisfação com a dinâmica das aulas online e a necessidade de equilíbrio das contas na crise estão entre os motivos listados das mudanças.

‘Não queria um colégio preocupado apenas com o conteúdo’

No meio da pandemia, ficou difícil para a professora universitária Cristiane Ottoni, 48, gerenciar o trabalho a distância e, ao mesmo tempo, as aulas online do filho Pedro, 8. Os dois viviam em Santos, no litoral de São Paulo, quando ela resolveu contar com a ajuda dos seus pais, que residem na capital paulista, para acompanhar o ensino remoto do menino.

Pedro mudou para a casa dos avós, saiu da escola que frequentava em Santos e começou, em 2021, o 3º ano no Colégio Santa Maria, na zona sul de São Paulo.

“Além de ser perto da casa dos meus pais, o colégio tem perfil humanista e preocupação com questões sociais. Eu não queria uma escola preocupada só com o conteúdo”, diz a mãe, que se reveza entre as cidades.

O menino aprovou o novo colégio. “Mudar de escola foi legal, porque eu fiz novos amigos e agora eu tenho uma professora só de artes, minha aula favorita”.

Segundo Cristiane, a adaptação foi rápida e teve muito cuidado por parte do colégio. Ela destaca um elemento curioso que foi aproveitado no processo de acolhimento: um galo.

“Ele ganhou um pintinho, que cresceu. O Pedro se apegou a ele.” A ave aparecia nas aulas e virou a sensação da turma. “A professora aproveitou essa história para se aproximar dele e ajudá-lo a criar vínculo com as outras crianças.”

‘Fiquei encantada com a metodologia de aprendizagem ativa’

Quando adotou os irmãos Cauã, 11, e Mirelly, 9, no final de 2018, a professora Maria das Graças Gomes Nascimento, 53, os matriculou em uma escola pública. Mas, ao conseguir a guarda definitiva das crianças, ela decidiu colocá-los em um colégio particular.

“Na pandemia, o ensino online demorou a começar, e muitos professores não estavam preparados para lidar com a tecnologia. Havia um descompasso entre o material impresso e as aulas do aplicativo.”

Maria das Graças passou a buscar opções e ficou sabendo que a Camino School, na Pompeia, zona oeste de São Paulo, estava com inscrições abertas para bolsas de estudo para indígenas, negros ou quilombolas.

Ela fez as inscrições —as crianças são descendentes de uma comunidade quilombola— e conseguiu bolsa integral para os dois. Mirelly ingressou neste ano no grade 4 (4º ano) e Cauã no grade 6 (6º ano).

“A escola é trilíngue, e as aulas são em inglês. Fiquei encantada com o modelo de educação construtivista e a aprendizagem ativa baseada em projetos”, afirma Maria das Graças.

Mirelly diz que gostou da mudança. Os receios do começo, de as crianças não gostarem dela e de não entender as aulas, foram superados. “Estou aprendendo inglês, já fiz amigos e apresentei um projeto de robótica de que meus colegas gostaram", diz.

‘Antes de decidir pela troca, pesquisei muito, li relatos de pais e falei com diretoras’

Os irmãos Enzo, 14, e Beatriz, 12, trocaram de escola duas vezes nos últimos três anos. Em 2019, deixaram o colégio bilíngue onde estudavam desde a educação infantil, porque seus pais acharam que era hora de começar a preparação para o vestibular.

“Mas não gostamos do novo colégio e da metodologia. A Bia teve dificuldade para acompanhar matemática, se sentiu isolada, e a escola não soube lidar com a situação”, conta a química Cintia Matuyama, 49, mãe dos adolescentes.

Em 2020, quando veio a pandemia, as coisas ficaram ainda mais difíceis. “A escola demorou para organizar as aulas online, a comunicação com os pais era muito ruim”, diz Cintia.

Ela passou a procurar outras opções próximas da região onde mora, no Ipiranga, zona sul de São Paulo. “Eu pesquisei muito antes de mudá-los de novo. Vi sites e blogs, entrei em contato com várias escolas, conversei com diretoras e coordenadoras e li relatos de pais na internet.”

Antes mesmo de visitar a escola, ela já tinha reservado as vagas para o ano seguinte. “Decidi sem conhecer o espaço, de tão segura que eu estava.”

Em 2021, Enzo e Beatriz ingressaram no 9º ano e no 7º ano, respectivamente, no Centro Educacional Pioneiro, na Vila Clementino, zona sul da capital paulista. “Mudar de colégio no meio da pandemia foi ruim porque eu não conhecia os colegas. Mas os professores são legais e sinto que eles querem me ajudar a aprender”, diz Beatriz.

‘Busquei um lugar onde ele se sentisse acolhido e pudesse desenvolver a autonomia’

A educadora Alessandra Damasceno, 43, já andava descontente com o colégio do seu filho, Nicolas, 15, quando a pandemia e o ensino remoto acentuaram sua insatisfação.

“Além de críticas ao material didático, às intervenções pedagógicas e à metodologia —muita aula expositiva, preenchimento de apostila e falta de diálogo—, eu considerava alguns comentários e atitudes da coordenação preconceituosos e excludentes”, diz.

As aulas online, segundo ela, seguiam no mesmo passo, sem interação e discussões. “Eram só para cumprir tabela”.

Aproveitando o ingresso de Nicolas no ensino médio, ela resolveu mudar o filho de escola e de rede, saindo da particular, onde havia estudado todo o ensino fundamental, para a pública. Atualmente, ele cursa o 1º ano do ensino médio na Escola Estadual Professor Mauro de Oliveira, na Vila Anglo Brasileira, zona oeste de São Paulo.

“Eu buscava um lugar onde ele se sentisse acolhido, pudesse desenvolver a autonomia e aprendesse a se colocar. Fiquei sabendo dessa escola, que trabalha com projetos para desenvolver o protagonismo. Conversei com o diretor e gostei da proposta. E ainda economizo para poder pagar um cursinho, se for necessário”, afirma Alessandra.

“Eu achava que toda escola pública era ruim. Pensei que ia chegar lá e não ter aula. Mas hoje posso dizer que eu amei ter trocado de escola. Os professores são ótimos, consideram o que a gente pensa e dá vontade de aprender”, diz Nicolas.

‘A mudança ajudou a equilibrar as contas’

Durante a pandemia, o comerciante Rover Giustino, 49, passou por dificuldades financeiras. Proprietário de um estacionamento e de um lava-rápido na Mooca, zona leste de São Paulo, ele viu o movimento cair bruscamente.

Uma das saídas para contornar a crise foi mudar a filha de colégio. Roane, 13, foi para a Escola Vereda, no mesmo bairro, onde está cursando o 8º ano do ensino fundamental.

“A mensalidade é semelhante à da escola antiga. Mas agora ela fica em período integral, e o material didático, o lanche e o almoço estão incluídos, o que representa uma economia de cerca de R$ 500 mensais”, diz Giustino. Segundo ele, essa diferença está sendo importante para equilibrar as contas.

“Além disso, tem a questão da localização, já que essa escola é mais perto de casa. Também gostamos da proposta pedagógica. Enfim, um ótimo custo-benefício”, afirma.

Roane conta que gostava da escola antiga, mas já se acostumou com o novo ambiente —ela mudou em agosto de 2021, já no presencial.

“Sempre fui de conhecer pessoas novas e gostei dos professores. O professor de matemática, por exemplo, propõe umas dinâmicas diferentes. Ele faz os alunos darem aula, como se a gente fosse o professor. Achei divertido", diz.

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