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Falta de regulamentação exige cuidado na hora de escolher escola bilíngue

Para não serem enganados, pais e estudantes devem analisar com cuidado a proposta da instituição

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São Paulo

Com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, matricular o filho em uma escola internacional ou bilíngue parece bom investimento. Mas é preciso cuidado: nem sempre essas instituições cumprem a promessa de desenvolver cidadãos globais e de preparar os alunos para o mundo.

Para não serem enganados, pais e estudantes devem analisar com cuidado a proposta da escola. Como não existe regulamentação específica no Brasil, qualquer instituição pode, em tese, se declarar bilíngue ou internacional.

A Oebi (Organização das Escolas Bilíngues de São Paulo) considera bilíngues apenas as instituições que ministram, no mínimo, 75% da sua grade curricular no idioma estrangeiro na educação infantil. No ensino fundamental, essa orientação cai para um terço e, no ensino médio, para um quarto.

A atriz mirim Gabriela Leão, 13, que estudou em escola bilíngue até os 11 e quer morar nos Estados Unidos para desenvolver a carreira 
A atriz mirim Gabriela Leão, 13, que estudou em escola bilíngue até os 11 e quer morar nos Estados Unidos para desenvolver a carreira  - Bruno Santos/Folhapress

Outro ponto a ser observado é o horário em que o estudante entra e sai da escola. Unidades bilíngues devem seguir as determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação e dos conselhos estaduais de educação. Para dar conta de acrescentar conteúdos curriculares, com aulas em português e também em um outro idioma, essas escolas deveriam ampliar a sua carga horária, funcionando em período integral ou semi-integral.

Uma escola bilíngue tem aulas de história ou matemática ministradas tanto em português quanto no segundo idioma, sendo uma o complemento da outra.

“Muitas escolas se dizem bilíngue, mas só têm aulas de inglês duas, três vezes por semana e usam esse rótulo sem saber o que estão fazendo”, diz a diretora de comunicação da Oebi, Marina Freitas.

A atriz mirim Gabriela Leão, 13, estudou até os 11 anos em uma escola bilíngue de São Paulo. Com fluência em inglês e confiante, ela planeja estudar o ensino médio nos Estados Unidos, onde quer frequentar cursos de teatro para desenvolver a carreira.

“Graças à escola bilíngue sou a pioneira da comunicação quando viajo com a família para fora”, diz Gabriela, que já participou de musicais com Miguel Falabella, Kiara Sasso e Lázaro Menezes.

As escolas bilíngues estão sujeitas às mesmas regras das escolas convencionais. Já as internacionais no país não seguem parâmetros brasileiros, mas sim os das nações às quais estão vinculadas.

Diferentemente das bilíngues, uma escola internacional não usa dois currículos, mas sim um predominantemente estrangeiro. Sem precisar adotar o padrão MEC, costuma ter mais professores de fora e, o português, a rigor, é considerado o segundo idioma. É como se um paulistano estudasse em uma escola de Nova York, mas sem sair de sua cidade.

A escola internacional costuma ter estudantes do mundo todo, o que torna o clima mais natural para a prática do idioma estrangeiro. Ela atrai, por exemplo, famílias expatriadas que não querem perder contato com a cultura materna.

Uma boa escola internacional é credenciada por instituições reconhecidas mundo afora, como a IBO (International Baccalaureate Organization), aceita por universidades de cerca de 150 países. É comum que alunos de escolas internacionais façam o ensino superior fora do país.

Estudar em uma dessas instituições ainda é privilégio para poucos. Uma escola internacional costuma ser pelo menos 30% mais cara do que uma bilíngue, que por sua vez, é ao menos 30% mais cara do que uma escola convencional.

Com a primeira unidade inaugurada em agosto em São Paulo, a escola internacional Avenues, com matriz nos Estados Unidos, já tem 734 matriculados. A mensalidade custa em torno de R$ 8.000.

O Colégio Positivo tem nove unidades no Sul do país e, em três delas, implantou o modelo bilíngue e, em outra, o internacional após perceber que o inglês é muito demandado por pais e alunos.

“Nos dois modelos o número de matrículas tem aumentado 5% ao ano” diz o diretor-geral do Colégio Positivo, Celso Hartmann. “É o futuro.”

A Abebi (Associação Brasileira do Ensino Bilíngue) estima que, em 2018, o mercado movimentará R$ 270 milhões somente com materiais didáticos bilíngues, ante R$ 220 milhões em 2017.

Marina Freitas, diretora da Oebi (Organização das Escolas Bilíngues de São Paulo), diz que há um boom dessas escolas e que esse crescimento está relacionado à desmistificação do bilinguismo. “Muitas pessoas acreditavam que aprender dois idiomas poderia confundir as crianças.”

Para a pesquisadora e professora bilíngue Bruna Ribeiro, estudar dois idiomas traz benefícios para a vida toda.

“A exposição da criança a mais de um idioma aumenta o número de conexões cerebrais, o que impacta positivamente o desenvolvimento não só da sua capacidade linguística mas também da cognitiva, criativa, intelectual e social”, afirma Bruna.

Educadores defendem oferta de terceiro idioma

Considerado uma obrigação, e não mais um diferencial em grande parte do mercado de trabalho, o idioma inglês costuma ser o único ensinado nas escolas convencionais. Raramente as instituições investem em um terceiro idioma.

Segundo o linguista e professor da Unifesp Marcello Marcelino, que desenhou o programa bilíngue da escola Red House International School, em São Paulo, o espanhol aparece de forma tímida.

Outros idiomas são ensinados só em instituições que têm ligação com alguma cultura, como o hebraico nos colégios judaicos, e o italiano e o alemão nos fundados por imigrantes.

“Em geral, as escolas apresentam o terceiro idioma na forma em que o inglês era antigamente —quase para compor currículo”, diz Marcelino, que reitera haver exceções.

O mandarim, que já esteve em alta no país, hoje raramente é oferecido nos colégios. Isso porque essa língua não é tão exigida pelo mercado, diz a pedagoga Leyla Nascimento, presidente da federação mundial de RH (que reúne profissionais da área).

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