Descrição de chapéu universidade enem

Volta à sala de aula aumenta pressão por bom desempenho no vestibular

Cobrança para recuperar o tempo perdido na pandemia intensifica ansiedade nos alunos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

De volta às salas de aula, estudantes que sofreram com sobrecarga mental em função das mudanças na pandemia agora enfrentam maior pressão psicológica por um bom desempenho nos vestibulares.

"Muitas pessoas têm a sensação de que 2020 foi perdido. Com a retomada das atividades, aumenta o sentimento de urgência para recuperar o que ficou pelo caminho", diz a neuropsicóloga Milena Fernandes Mata, especialista pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

Se por um lado a pressa para tirar o atraso nos estudos pode ajudar alguns a se dedicar mais, por outro pode intensificar quadros de ansiedade, comuns entre os jovens vestibulandos.

Lorena Taraborelli, 18, aluna do cursinho Poliedro; ela vai prestar vestibular para medicina
Lorena Taraborelli, 18, aluna do cursinho Poliedro; ela vai prestar vestibular para medicina - Jardiel Carvalho/Folhapress

Depois de tanto tempo em isolamento, conciliar a rotina com os livros e a retomada da vida social é alternativa para aliviar o estresse e aumentar a produtividade, afirma o professor de psicologia da PUC-SP Hélio Deliberador.

"Com a flexibilização das medidas restritivas é recomendável programar com cuidado saídas de casa ao menos duas vezes por semana. Isso inclusive ajuda o cérebro na adaptação para novas situações, como as que serão enfrentadas nos testes", diz.

Deliberador afirma que se dedicar exaustivamente aos conteúdos sem nenhum lazer reduz a capacidade de concentração. Mais do que isso, é grande a chance de não memorizar informações. O recomendado é que o vestibulando estude no máximo 12 horas por dia e faça intervalos de 30 minutos a cada 4 horas.

A estudante Lorena Bago Taraborelli, 18, vai prestar vestibular para medicina e estuda no mínimo 8 horas todos os dias. Mesmo com a volta do ensino presencial, ela escolheu continuar com as aulas online, que evitam os deslocamentos e garantem mais tempo para suas leituras.

A pressão do vestibular somada a tantas horas em frente ao computador aumentou a ansiedade e levou Lorena a ter crises de pânico.

"Não conseguia dormir direito. Acordava pensando no vestibular. Precisei de ajuda profissional e comecei a tomar remédio para controlar a ansiedade", afirma ela.

Nos últimos meses, Lorena retomou gradualmente a vida social e isso foi importante para ajudá-la a relaxar. Em novembro, porém, ela decidiu permanecer em casa para não correr o risco de ficar doente às vésperas do exame, ainda que já esteja vacinada.

"Quero me manter tranquila para os vestibulares e evitar qualquer surpresa desagradável. Não adianta saber todo o conteúdo e fazer a prova com o psicológico abalado ou problemas físicos", diz.

Uma das provas que Lorena irá prestar é a Fuvest, vestibular que dá acesso às vagas da USP. Assim como no ano passado, os candidatos não terão sua temperatura medida no dia da prova. A orientação, entretanto, é que as pessoas sintomáticas ou com suspeita de coronavírus não compareçam ao exame.

Preocupados com a saúde mental e física dos vestibulandos, escolas e cursinhos também buscam alternativas para garantir mais apoio e conforto aos candidatos.

No Colégio Móbile, em São Paulo, os estudantes do terceiro ano do ensino médio assistiram a uma palestra com uma psicanalista e foram orientados a ler "Sociedade do Cansaço", livro do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han.

"A obra é pertinente considerando que, mesmo na pandemia, a cobrança em relação ao desempenho se manteve", diz Francisco Lima Júnior, coordenador pedagógico da área de linguagens do ensino médio do Móbile.

No cursinho Etapa, os professores também orientam e dão apoio aos estudantes em conversas individualizadas. Já no Poliedro, as sessões são conduzidas por psicólogos por meio da internet ou de forma presencial.

"O equilíbrio é fundamental, mas, na reta final para o vestibular, o cuidado precisa ser redobrado. Ter vida social é uma coisa, mas ir a aglomeração é outra. O barzinho cheio abriu? É melhor não ir, você é vestibulando", afirma Márcio Guedes, coordenador do Poliedro.

Veja a seguir depoimentos de alunas que estão se preparando para o vestibular

'Agora, sinto que preciso estudar mais e tirar o atraso do ano passado'
Mariana Rocha de Alencar, 18, estudante; ela vai prestar vestibular para medicina

Mariana Rocha de Alencar, 18, estudante do cursinho Etapa
Mariana Rocha de Alencar, 18, estudante do cursinho Etapa - Jardiel Carvalho/Folhapress

O vestibulando sofre muita pressão naturalmente. E, na pandemia, temos que nos preocupar com as coisas lá fora ao mesmo tempo em que nos preparamos para algo que vai mudar a nossa vida. É difícil encontrar alguém que não tenha sido impactado.

Estou no terceiro ano de cursinho e sinto que a pressão hoje é maior. As aulas não são baratas e muita gente teve problemas financeiros na pandemia. Isso aumenta a cobrança sobre o meu desempenho.

No ano passado, com as aulas online, não era a mesma coisa. Mas o que eu podia fazer? Agora, com a volta do ensino presencial, é como se tivesse que tirar o atraso.

Na reta final, vou avaliar o meu estado emocional. Conheço pessoas que ficam muito ansiosas nas provas. Sair com amigos ajuda a relaxar.

'Retorno da vida social me deixa em dúvida entre sair ou estudar'
Mariana Evans, 18, estudante; ela vai prestar vestibular para publicidade e propaganda

Mariana Evans, 18, estudante da escola Móbile, em São Paulo
Mariana Evans, 18, estudante da escola Móbile, em São Paulo - Jardiel Carvalho/Folhapress

Ficar isolada na pandemia fez eu me sentir sozinha e cansada. Isso afetou os meus estudos. No ano passado, com as aulas online, não consegui manter uma rotina. Eu ficava distraída, perdia prazos e acordava atrasada.

O meu rendimento melhorou a partir de agosto, com a volta do ensino presencial. Na minha escola, os coordenadores reservam espaço para conversas individuais sobre projetos de vida. Eles chamam os alunos sem que a gente peça. Isso aumentou a minha confiança.

Agora estou vacinada e retomo a minha vida social com moderação. Mesmo imunizada, continuo com medo de ter Covid-19 e transmitir para meus pais. A minha mãe é parte do grupo de risco: ela tem 58 anos e um problema respiratório.

Com a pandemia menos intensa, já tive dúvidas sobre sair ou me preservar e estudar. Cheguei à conclusão de que o importante é dosar. Também precisamos socializar para espairecer a mente.

Na reta final para a prova, pretendo fazer com que essas saídas sejam divertidas para a minha saúde mental.

Temas mais cobrados pelo Enem*

Biologia
1- Fundamentos da ecologia
2 - Ecossistema
3 - Sistema imunitário

Física
1- Acústica
2 - Resistores
3 - Energia, trabalho e potência

Geografia
1- Questões ambientais
2 - Globalização
3 - Climatologia

História
1 - 2ª Guerra Mundial e suas consequências
2 - 2º Reinado
3 - Era Vargas

Inglês
1- Interpretação de texto

Interpretação de texto
1 - Aspectos do texto
2 - Tipos de texto
3 - Funções de linguagem

Matemática
1 - Grandezas proporcionais e médias algébricas
2 - Problemas de 1º e 2º graus
3 - Porcentagem e matemática financeira

Português
1 - Estrutura e formação das palavras
2 - Tendências contemporâneas
3 - Preceitos básitos dos estudos literários

Química
1 - Ligações químicas, polaridade e forças
2 - Reações orgânicas
3 - Eletroquímica

*Nos últimos 5 anos por ordem de frequência, segundo o Poliedro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.