94% dos alunos de 9º ano têm nível de aprendizado abaixo do adequado em matemática

Dados são de avaliação feita pela Prefeitura de SP para identificar perdas durante a pandemia

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São Paulo

Nas escolas municipais de São Paulo, 94% dos alunos do 9º ano do ensino fundamental estão com nível de aprendizado abaixo do adequado para a série em matemática. Entre os que estão no 6º ano, 85% não aprenderam o que era esperado.

Os dados são da Prova São Paulo, avaliação feita pela Secretaria Municipal de Educação, no fim do ano letivo de 2021. Os resultados mostram um aumento da defasagem dos estudantes em relação a 2019, última vez em que a prova havia sido aplicada.

O aumento de alunos com aprendizado abaixo do esperado aconteceu em todas as áreas avaliadas: matemática, língua portuguesa e ciências naturais.

"É o efeito devastador da pandemia no aprendizado dos nossos alunos. Essa perda já tinha sido verificada em outros países e agora começamos a dimensionar o tamanho do problema que temos pela frente", diz Fernando Padula, secretário de Educação do município. O Brasil foi um dos países que ficou mais tempo com escolas fechadas.

Primeiro dia de aula de 2022 na escola municipal Remo Rinaldi, em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

A avaliação identificou que, entre os alunos de 6º ano do ensino fundamental, 36% tinham conhecimento abaixo do básico, e 39%, no nível básico em língua portuguesa. Esses dois níveis são considerados abaixo do adequado para a série, totalizando 75% dos estudantes nessa série.

Não alcançar os resultados esperados para essa etapa significa que o aluno terminou o 6º ano sem conseguir identificar a ideia central de um texto simples ou sem saber analisar informações em gráficos e tabelas.

Apenas 23% dos alunos alcançaram o nível considerado adequado em língua portuguesa e 2% com conhecimento avançado.

O número de alunos com conhecimento abaixo do adequado em matemática no 6º ano é ainda maior. Os resultados mostram que 51% tinham aprendizado abaixo do nível básico, e 34%, no nível básico, somando 85%. Esses estudantes não conseguem, por exemplo, solucionar problemas simples que envolvam uma das quatro operações fundamentais: adição, subtração, divisão e multiplicação.

Apenas 13% atingiram o patamar adequado e 2% estão com conhecimento avançado em matemática.

Em ciências naturais, 85% dos alunos do 6º ano também estão nos dois níveis considerados abaixo do adequado para a série.

9º ano

Os resultados do 9º ano mostram índices ainda maiores de alunos com grave defasagem. Apenas 10% conseguiram aprender o que é considerado adequado em língua portuguesa - os outros 90% estão com conhecimentos abaixo do nível básico ou básico.

Em matemática, só 6% atingiram o patamar adequado e 94% estão com conhecimento abaixo do esperado. São alunos que terminaram o ensino fundamental sem ter aprendido, por exemplo, como resolver problemas de probabilidade ou sem saber usar o teorema de Pitágoras. ​

A avaliação também foi feita com os estudantes do 3º ano, série em que encerram o ciclo de alfabetização, mas os dados ainda não foram computados pela secretaria. Dos cerca de 380 mil alunos das séries avaliadas, 71% fizeram a prova.

Segundo Padula, os resultados vão ajudar a pasta a fortalecer programas de recuperação contínua do aprendizado dos alunos nos próximos anos, com foco especial na alfabetização mesmo para estudantes que estão em séries mais avançadas.

"Estamos pensando em criar turmas para aprimorar a alfabetização mesmo daqueles que estão em séries em que esse aprendizado já deveria ter acontecido", disse. As escolas poderão ofertar a recuperação no contraturno, estão previstas de 4h a 10h semanais de aulas complementares para alunos com maior defasagem.

Os professores da rede municipal também receberão cursos de formação para que possam elaborar estratégias de ensino que levem em consideração o aumento da defasagem dos estudantes. Eles também receberão vídeos com opções de abordagens diferentes para os conteúdos que forem identificados como de maior dificuldade pelos estudantes.

A partir deste ano, a secretaria vai ampliar a participação de estagiários dando apoio em sala de aula. Até o ano passado, eles só atuavam nas turmas de 1º e 2º ano do fundamental. Agora, também vão dar suporte ao 3º ano.

O secretário lembra que muitos desses estudantes ficaram quase dois anos sem frequentar as escolas, por isso, destaca que o início deste ano letivo presencial e obrigatório a todos é o primeiro passo para a recuperação do aprendizado.

No ano passado, a prefeitura só autorizou as escolas municipais a voltarem a receber todos os alunos, ou seja, sem rodízio, no fim de outubro. Ainda assim, o retorno dos estudantes era facultativo.

Em outubro do ano passado, uma auditoria do TCM (Tribunal de Contas do Município) constatou que o município ainda não tinha adotado nenhuma ação eficiente para avaliar e entender o tamanho do prejuízo educacional dos estudantes.

O tribunal também alertou para a baixa efetividade do programa de recuperação que foi feito em 2021, já que, dos mais de 400 mil alunos de 1º a 9º ano, pouco mais de 10 mil tinham se inscrito para receber o apoio, mas só compareceram de fato, em média, 1.407 por dia.

Para Mônica Gardelli, doutora em educação e currículo pela PUC-SP, os resultados da prova são uma constatação de que o ensino remoto não funcionou na cidade de São Paulo. Além do formato a distância ser menos eficaz para estudantes, a prefeitura ainda demorou para garantir que todos os estudantes tivessem acesso a equipamentos e internet para acompanhar as atividades online.

Não adianta ensinar uma fórmula matemática para um aluno que não aprendeu a somar ou multiplicar. Vai ser preciso voltar nesses dois anos para que eles possam avançar

Mônica Gardelli

doutora em educação e currículo pela PUC-SP

A prefeitura anunciou em agosto de 2020 que iria comprar tablets para todos os alunos, mas a maioria deles só recebeu o equipamento no segundo semestre de 2021, quando as aulas presenciais já tinham sido retomadas.

"Desde o início da pandemia já se sabia que o ensino remoto tinha muitas deficiências e, mesmo assim, demoraram muito para tomar providências. Essas crianças ficaram muito tempo sem contato com os conteúdos escolares, elas não só deixaram de aprender como também podem ter esquecido o que sabiam e ainda não estava bem consolidado", diz Gardelli.

Ela destaca a importância de respostas rápidas neste ano para que as escolas foquem na recuperação desses aprendizados. Para isso, as escolas e os professores devem ter autonomia para adaptar o currículo escolar e o plano de aulas de acordo com o nível de conhecimento de seus alunos.

Segundo Padula, as escolas já podem consultar seus resultados e individuais e terão ajuda de especialistas da secretaria para interpretar o que mostram os dados. A partir dessas informações podem criar seu próprio plano de ensino adequado à realidade dos seus estudantes.

"Não podemos seguir em frente com o que estava previsto, sem olhar para o que perderam. Não adianta ensinar uma fórmula matemática para um aluno que não aprendeu a somar ou multiplicar. Vai ser preciso voltar nesses dois anos para que eles possam avançar", diz.

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