USP busca apoio de empresas e de ex-alunos para oferecer bolsas a cotistas

Modelo de convênio permite a doadores definir valor do auxílio, duração e número de estudantes beneficiados

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São Paulo

Após atingir em 2021 a meta de seu programa de cotas, de reservar 50% das vagas de todos os cursos para estudantes de escolas públicas, a Universidade de São Paulo pretende agora organizar uma política de apoio aos cotistas. Entre as estratégias está a de buscar convênios com empresas e ex-alunos para oferecer bolsas aos estudantes, e um edital com as regras para essa colaboração será lançado nas próximas semanas.

Um modelo para isso deverá ser o de uma parceria com o Itaú-Unibanco, que começou em 2018, quando foi implementado o programa de cotas da USP, cuja inclusão se ampliou gradualmente, a cada ano. Em parceria com a universidade, o banco sorteou 80 cotistas para receber mensalmente auxílio de R$ 800 até o fim da graduação.

Para manter a bolsa, os alunos beneficiados devem entregar relatórios semestrais com as disciplinas que cursaram, qual foi o desempenho e que dificuldades encontraram.

Imagem panorâmica da praça do Relógio, na Universidade de São Paulo
Praça do Relógio, na Universidade de São Paulo - Adriano Vizoni - 26.03.2021/Folhapress

Com as bolsas, a expectativa é a de que se reduza a evasão —mais alta entre os cotistas. Muitos não conseguem prosseguir na universidade porque precisam trabalhar, especialmente no caso de cursos em horário integral.

No 1º semestre de 2018, início do programa de cotas, 18,6% dos alunos pretos, pardos e indígenas de escolas públicas abandonaram a USP, enquanto a desistência dentre os demais foi de 13,4%. No caso dos que recebem a bolsa Itaú-Unibanco, a evasão foi de apenas 2,1%.

Dos cerca de 100 mil alunos da USP, por volta de 30 mil são cotistas, mas só a metade deles recebe suporte da reitoria —como auxílio-transporte (R$ 250), moradia (R$ 500), programa de alimentação (entrega de marmitas) e de compra de livros (créditos na editora da USP).

A USP investe anualmente cerca de R$ 260 milhões em ações voltadas aos cotistas. Segundo o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior, o valor é insuficiente diante do aumento da inclusão de estudantes de baixa renda.

"Nossa ideia é aumentar o apoio interno, com verbas da própria universidade, e também buscar colaboração externa para a manutenção desses alunos, até que 100% dos cotistas tenham auxílio financeiro e acadêmico", diz o reitor.

"Pretendemos apresentar a empresas e a outros possíveis colaboradores, como ex-alunos, um modelo fácil para que façam convênio com a Fusp", diz Carlotti, referindo-se à Fundação de Apoio à USP, entidade sem fins lucrativos criada para flexibilizar a gestão da universidade, facilitando também as parcerias com a iniciativa privada.

O reitor cita os chamados fundos de "endowment" (patrimoniais), em que doações são aplicadas no mercado financeiro e revertidas para a universidade. Comuns nos EUA, começam a surgir no Brasil. Na USP, há iniciativas recentes em que ex-alunos colaboram com as faculdades, inclusive com programas de bolsas, como o Amigos da Poli (engenharia) e o Sempre Sanfran (faculdade de direito, no largo São Francisco).

Carlotti explica que nos últimos anos as universidades se tornaram mais flexíveis para doações. "Mudou o conceito de investimento privado na universidade." Algo impensável anos atrás, hoje é possível, diz o reitor, até que alguma sala da USP, por exemplo, seja nomeada em reconhecimento a uma doação. "Há flexibilidade, desde que tudo seja feito dentro das regras da universidade, mantendo a sua autonomia."

O reitor lembra que, para os doadores, é importante haver segurança sobre os recursos investidos. Um exemplo de iniciativa para isso, afirma, é a pesquisa da USP Ações Afirmativas no Ensino Superior Brasileiro, que acompanhou as notas de todos os alunos ingressantes de graduação da capital paulista desde 2018, quando começou o programa de cotas. O levantamento mostrou que cotistas têm desempenho pouco inferior ao dos demais, e que suas notas melhoram progressivamente. "Quem colabora com bolsas pode acompanhar o desempenho dos beneficiados."

Ampliar o orçamento para os auxílios a cotistas é indispensável, mas, segundo o reitor, além disso, é necessário organizar os apoios. "Hoje os alunos precisam fazer várias inscrições e entrevistas para obter auxílios", explica. O processo tem de ser unificado, simples e mais perene, diz, evitando que os alunos tenham de renovar pedidos.

O primeiro passo para isso foi dado no início deste mês, com a criação da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento, que será voltada à diversidade e centralizará programas de apoio aos cotistas. Além de suporte financeiro e acadêmico, diz o reitor, é preciso cuidar de aspectos socioemocionais e investir na "sensação de pertencimento".

Coordenadora da pesquisa sobre o desempenho de cotistas e não cotistas da USP, a professora Marta Arretche, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, ressalta que estudos mostram que, além da questão financeira, a evasão está ligada ao fato de alunos de escolas públicas, pretos, pardos e indígenas não se sentirem parte da universidade e de terem dificuldade de se integrar às atividades acadêmicas. Por isso, ela ressalta, programas para mantê-los são indispensáveis e devem ser abrangentes.

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