Descrição de chapéu Consciência Negra

Expulsão é o começo da reeducação contra racismo, diz advogada de Samara Felippo

Atriz defende expulsão de alunas que ofenderam sua filha; colégio Vera Cruz, que suspendeu adolescentes, diz que 'prioriza reabilitação e aprendizado'

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São Paulo

"O racismo não termina com a expulsão de alunos, a expulsão é o começo da reeducação contra o racismo", defende Thaís Cremasco, advogada da atriz Samara Felippo, que denunciou o caso de discriminação racial sofrido pela filha no colégio Vera Cruz, na zona oeste de São Paulo.

No último dia 22, duas alunas pegaram um caderno da adolescente, destruíram um trabalho que ela havia feito e escreveram uma ofensa de cunho racial em uma das páginas. Duas meninas de 14 anos admitiram ser as autoras das ofensas e foram suspensas por tempo indeterminado. Felippo, porém, cobrou a expulsão das alunas.

"A Samara não vai permitir que a filha estude em uma escola onde o racismo não é tratado com a seriedade que merece. Não estamos dizendo que a expulsão é a solução para o problema, mas é o começo de um processo de reeducação para que todos os alunos entendam a gravidade de um ato racista", disse Cremasco.

Samara Felippo
A atriz Samara Felippo - Reprodução/Instagram

Os pais de uma das jovens agressoras comunicaram a outros pais de alunos que retiraram a filha da escola. Eles pediram desculpas à vítima e à família dela.

Mesmo com a saída voluntária de uma das adolescentes, a atriz afirma que a direção do Vera Cruz deveria ter expulsado as estudantes assim que soube do episódio, como forma de mostrar que o racismo não será tolerado na escola.

A direção do colégio defende a decisão de não expulsar as estudantes com o argumento de que a abordagem deve ser mais educativa e transformadora. "Em vez de simplesmente remover as alunas do ambiente escolar, a escola preferiu focar na responsabilização e na possibilidade de aprendizado das envolvidas", disse o Vera Cruz, em nota.

No boletim de ocorrência registrado pela atriz, o caso foi tipificado como "preconceito de raça ou de cor", segundo a Secretaria de Segurança Pública. Um inquérito civil foi aberto e, caso sejam indiciadas, as duas adolescentes poderão responder por ato infracional em uma vara da infância e juventude.

Cremasco diz que, além da denúncia criminal, a atriz deve entrar com uma ação por danos morais contra a escola e os pais das meninas autoras das ofensas. "A gente entende que a escola está sendo omissa no dever de punir quem pratica racismo. Nós iremos discutir no processo essa omissão e o tempo de demora da escola em dar uma resposta a algo tão grave."

Advogada há mais de 20 anos, Cremasco atuou em 2022 contra outra escola particular para exigir punição em um caso de racismo. O caso envolveu os próprios filhos da profissional, que foram alvo de ataques racistas no colégio Porto Seguro de Valinhos, no interior de São Paulo.

Na ocasião a direção do colégio acabou expulsando oito alunos de 15 anos que ofenderam o filho da advogada em um grupo de WhatsApp com mensagens racistas, homofóbicas, nazistas e gordofóbicas.

"As escolas precisam ser totalmente intransigentes com racismo, caso contrário a impunidade com o racismo vai continuar acontecendo. O estatuto do Vera Cruz diz que, em caso de violência ou crime, o estudante pode ser punido com expulsão. Por que, então, em um caso de racismo não há expulsão?", questiona.

Os pais do Vera Cruz se mostraram divididos com o caso da filha da atriz. Uma parte das famílias escreveu uma carta em que pedia a expulsão como punição, por defender que a escola deve tratar o caso como crime. Outro grupo argumentou que o desligamento das meninas não resolve o problema do racismo, só o transfere para outra escola, e defendeu que o episódio é uma oportunidade para a escola definir novas ações de combate à discriminação.

Em nota, a direção do Vera Cruz nega que tenha sido permissiva com uma situação de racismo.

"A escola adota uma filosofia educativa que prioriza a reabilitação e o aprendizado em detrimento de punições severas como a expulsão. A decisão de não expulsar as alunas foi tomada após uma avaliação detalhada do contexto do incidente."

A direção da escola diz ainda que as estudantes não tinham histórico de outras agressões ou ofensas. E afirma ter levado em conta a "pronta responsabilização das alunas, no reconhecimento da gravidade do ato por elas e no apoio de suas famílias, o que indica uma oportunidade para um ensino significativo que poderia ser perdido com a expulsão".

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