Sem reforma, Governo de SP transfere alunos para escola a mais de 4 km de onde estudavam

Prédio tem rachaduras desde 2020, mas obras só começaram em outubro de 2022

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São Paulo


Depois de adiar a reforma de uma escola por mais de dois anos a ponto de o prédio precisar ser interditado por oferecer risco aos alunos e funcionários, a Secretária da Educação de São Paulo vai realocar os estudantes em uma unidade em outro bairro da cidade, a mais de quatro quilômetros de onde estudavam.

A situação levou pais de alunos da escola estadual Alarico Silveira, na Barra Funda, zona oeste da capital, a fazer um protesto em frente à secretaria na manhã desta quinta-feira (26).

Pais da escola Alarico Silveira protestam pela demora na reforma da unidade
Pais da escola Alarico Silveira protestam pela demora na reforma da unidade - Arquivo Pessoal

Em nota, a pasta disse que a atual gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem "acompanhado a execução das obras em andamento e trabalhado para otimizar os prazos de entrega de reformas e melhorias".

Segundo os pais, há anos a unidade sofre com problemas estruturais, mas desde 2020 os funcionários perceberam que os danos no prédio colocavam os alunos e professores em risco. Mesmo com rachaduras nas paredes e parte do piso se deslocando, as aulas foram mantidas no local até outubro do ano passado.

Naquele ano, a direção da escola chegou a interditar o uso de alguns espaços por causa dos danos. A cozinha, partes do pátio, duas salas de aula e uma das quadras foram interditadas pelo risco de desabamento.

Mesmo com os danos estruturais, a Alarico Silveira foi uma das selecionadas em 2020 para integrar o PEI (Programa de Escola Integral). Funcionários da unidade disseram à Folha que, ao aceitar o modelo, foram informados de que o prédio passaria por adequações e reformas para que os alunos tivessem uma estrutura adequada para passar sete horas na unidade, o que não ocorreu.

A situação foi relatada pelo deputado Carlos Gianazzi (PSOL) em uma sessão da Assembleia Legislativa no fim de novembro de 2020.

"Meus filhos começaram a estudar nessa escola em 2021 e a situação era de calamidade. As salas de aula tinham rachaduras, o chão se descolava quando chovia. Eu ficava muito preocupado de deixar meus filhos o dia todo em um lugar tão perigoso", conta Rogério Rodrigues Tenório, 52, pai de três alunos da unidade.

Pátio da escola tem rachaduras nas paredes
Pátio da escola tem rachaduras nas paredes - Arquivo Pessoal

Foi só em outubro que as obras na unidade começaram a ser feitas. Sem conseguir outra escola ou espaço para transferir os alunos, a Secretaria de Educação decidiu que as turmas teriam aulas online até o fim do ano.

"Depois de as crianças terem passado quase dois anos com ensino remoto, eles voltaram para essa situação por causa da inação da secretaria que não corrigiu o problema a tempo. A aprendizagem dos meus filhos foi ainda mais prejudicada por ficarem dois meses sem aula presencial", diz Tenório.

Para o ano letivo de 2023, os pais foram informados de que os alunos seriam transferidos para a escola estadual Benedito Tolosa, na Casa Verde, na zona norte da cidade. De carro, a unidade fica a 4,4 quilômetros da escola de origem dos estudantes.

Ainda assim, os pais foram informados que os alunos, com mais de 12 anos (a maioria dos que estudam na escola), não terão direito ao transporte escolar e só terão direito ao passe escolar. Ou seja, terão que usar o transporte público para ir estudar.

"Meus filhos estudavam na rua de casa, agora terão que pegar um ônibus, atravessar a marginal Tietê, passar pela Favela do Moinho para ir à escola. É uma situação muito ruim e de muito risco", diz Tenório, que tem filhos de 12, 13 e 15 anos que terão que fazer o trajeto sozinhos.

Uma professora da escola Alarico Silveira, que também é mãe de aluno da unidade, decidiu matricular o filho em outro local por causa da situação. Ela pediu para não ser identificada por medo de represália.

Segundo o Censo Escolar, no ano passado, a Alarico Silveira tinha 443 alunos matriculados e a Benedito Tolosa, 434. Ou seja, a unidade da Casa Verde terá que abrigar o dobro de estudantes, além dos professores e funcionários da escola interditada.

Questionada, a Secretaria de Educação não informou como vai garantir que a acomodação de todos os alunos não irá prejudicar o funcionamento escolar. Também não informou porque as obras na Alarico Silveira não foram feitas antes.

A pasta respondeu apenas que os alunos serão "atendidos pela escola indicada e, assim que as obras terminarem, retornam para a escola de origem. Nenhum aluno será prejudicado", disse em nota.

Placa do governo indica que obra começou em março, mas elas só iniciaram de fato em outubro
Placa do governo indica que obra começou em março, mas elas só iniciaram de fato em outubro - Arquivo Pessoal

Em frente à escola, há uma placa da FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), autarquia ligada à secretaria e responsável por obras nas escolas, com a informação de que a reforma de R$ 5,9 milhões começou em 11 de março de 2022. Também informa que a obra deveria ficar pronta em 15 meses, ou seja, em junho deste ano.

A secretaria informou que a previsão de finalização da reforma é "até o final deste ano". A pasta não explicou por que a placa diz que a obra começou antes.

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