Brasil tem mais de um ataque por mês em escolas desde agosto

Para pesquisadora, pandemia está entre as causas da explosão de violência; estudo mapeou atentados

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São Paulo

Desde agosto, o Brasil sofre mais de um ataque a cada mês em escolas. Em oito meses, foram nove ataques de extrema violência, com sete mortes, sendo o mais recente o que ocorreu nesta segunda (27) na escola estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, em São Paulo, em que um estudante de 13 anos matou uma professora a facadas e feriu outras três docentes, além de dois alunos.

O levantamento, feito por um grupo que reúne pesquisadores da Unicamp e da Unesp, contabiliza 22 ataques a escolas brasileiras desde 2002, com um total de 35 mortes (sem contar o parente de um dos agressores em Suzano, morto por eles a caminho da escola). Isso quer dizer que, em 20 anos, de 2002 até julho de 2022, foram 13 ataques, uma média, portanto, de pouco mais de um ataque a cada dois anos. A média que era bienal passou a ser mensal a partir de agosto de 2022, uma explosão de violência.

Pessoas colocam flores na frente da Thomazia Montoro, na zona oeste da São Paulo, em homenagem a professora assassinada por aluno de 13 anos - Bruno Santos/ Folhapress

O agravamento está, em parte, relacionado à pandemia e ao prolongado fechamento das escolas, que chegou a dois anos em algumas regiões do país, na avaliação de Telma Vinha, doutora em educação pela Unicamp e professora da universidade, que coordena a pesquisa, em parceria com a pesquisadora advogada Cleo Garcia.

"A pandemia ampliou o adoecimento psíquico", ressalta Vinha, que coordena dois grupos que estudam conflitos escolares, o Grupo de Estudos, Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública, do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp, e o Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral), da Unicamp e da Unesp.

"A insegurança financeira impactou esse adoecimento, assim como conflitos familiares e a falta de perspectiva de vida dos adolescentes", ela diz. "Também é preciso considerar as dificuldades de relacionamento causadas pelo isolamento, o aumento do tempo online e, consequentemente, a maior interação com grupos extremistas."

O levantamento considera apenas os ataques de extrema violência, ou seja, nos quais houve tentativas de crimes contra a vida, e que foram planejados; estão, portanto, de fora as brigas que surgem no ambiente escolar, mesmo as mais violentas.

Também só contabiliza ataques realizados por alunos e ex-alunos das escolas, não aqueles cometidos por pessoas externas ao ambiente escolar. "Nossa intenção é entender os ataques em que o foco é a escola, saber por que o ambiente escolar é alvo, que significado tem para os jovens que cometem essa violência."

Dos 22 ataques, 16 foram cometidos por alunos e 12 por ex-alunos. Os agressores têm de 10 a 25 anos, a maioria é branca e do sexo masculino. Doze foram realizados com armas de fogo, sendo que seis já tinham arma em casa.

No perfil dos agressores traçado pelo estudo, aparece a misoginia e a masculinidade tóxica. Eles são machistas e agressivos. Já haviam demonstrado anteriormente o gosto pela violência e o culto a armas. Apresentam histórico de distúrbio psiquiátrico variado e um isolamento, relacionando-se apenas com grupos restritos.

Convivem com desemprego na família, falta de perspectiva e de propósito. Alguns apresentam histórico de violência doméstica e muitos abandonaram a escola.

Apesar de todos terem como alvo a escola, as motivações são distintas. Os ataques motivados principalmente por vingança ou raiva, o que envolve, por exemplo, ciúmes e bullying.

São premeditados e têm planejamento, com a aprendizagem de métodos de ataque via internet. Os agressores participam de fóruns online de incentivo à violência, frequentam a chamada deep web (internet profunda, em que há atividades ilegais), mas estão cada vez mais na superfície digital, ou seja, utilizando as redes legais e disseminadas, como Instagram, Tik Tok, WhatsApp, Twitter, Telegram e Discord.

A cooptação para as ideias extremistas é feita, em grande parte, por jogos online, como Roblox, Fortnite e Minecraft, e os agressores estão cada vez mais conectados a ideias de extrema direita.

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