Liberdade de expressão é base para outros direitos fundamentais

30 anos do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa mostram a necessidade de vigilância constante

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Patricia Blanco

Presidente-executiva do Instituto Palavra Aberta

"Sem fatos, você não pode ter a verdade. Sem verdade, você não pode ter confiança. Sem confiança, não compartilhamos a realidade, não há democracia e torna-se impossível lidar com os problemas existenciais do nosso mundo: clima, coronavírus, a batalha pela verdade."

É da jornalista filipina Maria Ressa, vencedora do Prêmio Nobel de 2021, a correlação que resume bem o tema do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (WPFD, na sigla em inglês) deste ano, celebrado nesta quarta-feira (3) e lembrada pela diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, no discurso de abertura da conferência, realizada na sede da ONU, em Nova Iork:

Sob o tema "Moldando um futuro de direitos: a liberdade de expressão como um motor para todos os outros direitos humanos", a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que lidera as celebrações do WPFD –neste ano em seu 30º aniversário–, quer fomentar um necessário debate a respeito de uma perigosa equação.

A diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, em Kiev (Ucrânia), em abril de 2023 - Valentyn Ogirenko - 3.abr.23/Reuters

Se é verdade que o direito à liberdade de expressão, consagrado no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, é o fiador dos demais direitos, também é verdade que a segurança dos jornalistas e o livre acesso à informação estão sob ameaça, o que pode desencadear um danoso efeito dominó.

Na prática, sem imprensa livre, destaca a Unesco, ficam mais vulneráveis as causas ambientais, os direitos das mulheres, das crianças e indígenas, os direitos digitais, o combate à desinformação, a luta contra a corrupção e outros tantos. Diante dos desafios impostos atualmente à humanidade, também ficam ameaçados o respeito à diversidade e à pluralidade.

O fato é que a escalada de violência contra jornalistas e o aumento de campanhas de desmoralização da imprensa estão, infelizmente, bem consolidados. E não é uma situação apenas brasileira. Ocorre em diferentes regiões do planeta, a reboque de um processo de autocratização que, em 2022, chegou a um número recorde, segundo o mais recente relatório anual do instituto V-Dem, lançado em março.

Imagem de câmera de monitoramento do ataque criminoso contra o jornal Rondoniaovivo, em Porto Velho (RO) - 12.out.22/Reprodução

O estudo registra que 42 países estavam nesse processo no final de 2022, incluindo o Brasil —no ano anterior eram 33, conforme registrou esta Folha. Muitos desses países têm grandes populações: juntos, abrigam 43% da população global. Em 1999, apenas 3% viviam em países com guinada ao autoritarismo, ainda segundo este jornal.

A comemoração dos 30 anos do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa coincide com outra data emblemática: o 75º aniversário da Declaração dos Direitos Humanos. É nesse contexto que o debate em torno da liberdade de expressão como pilar de sustentação de outros direitos ganha força. Somente a partir da livre expressão é possível construir uma sociedade democrática, que preserve a dignidade e autonomia do cidadão.

Nesse processo, há outra correspondência fundamental, destaca Marlova Jovchelovitch Noleto, diretora e representante da Unesco no Brasil, em entrevista exclusiva ao Instituto Palavra Aberta: sem educação midiática não há diálogo humano democrático. "Nesta atual era global –na qual a midiatização se tornou profunda e intensa, e a informação, contínua e crescente–, a fusão entre jornalismo e educação midiática é uma das melhores garantias para a manutenção da democracia", diz Marlova.

Marlova-Jovchelovitch Noleto, representante da Unesco no Brasil - Divulgação Mila Petrillo

Essa foi a mensagem de muitos participantes da conferência realizada na sede da ONU, em Nova York, inclusive da diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, que declarou que a preservação da liberdade de expressão e o respeito aos direitos humanos passam pelo empoderamento do cidadão, pela valorização da informação de qualidade e pela capacidade de saber diferenciar fato de ficção —competências desenvolvidas a partir da educação midiática e informacional.

No rol de alertas, ficou também a mensagem inspiradora da Agnès Callamard, secretária-geral da Anistia Internacional: "Neste cenário desafiador para a liberdade de expressão e de imprensa em que vivemos, precisamos resistir, reconstruir e reimaginar um futuro onde todos possam usufruir dos direitos fundamentais sem medo ou risco".

Que assim seja!

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