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A urgente formação continuada de educadores

Inovações tecnológicas alteram modo de aprender e ensinar e exigem atualização constante

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Daniela Machado

Coordenadora do EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto Palavra Aberta

A discussão sobre o futuro do ensino médio ganhou novos capítulos nesta semana e, ainda que não haja consenso sobre como ajustar o projeto aprovado em 2017, uma lição já está mais do que clara: não há qualquer possibilidade de avanço na educação sem formação continuada de professores. Esta é, aliás, uma das queixas mais antigas e frequentes na área da educação.

A preparação para lidar com o novo Ensino médio é mais um dos muitos gargalos que evidenciam a necessidade de olharmos com muita atenção para a formação continuada dos educadores. Outros temas urgentes que precisam ser contemplados no processo de capacitação contínua estão relacionados às inovações que vêm mudando (e ampliando) significativamente a maneira como podemos aprender e ensinar.

Num mundo em constante transformação, em que as tecnologias digitais apresentam novas oportunidades e novos desafios quase diariamente, a necessidade de se manter atualizado precisa ser atendida. Nas últimas décadas, o crescente uso da internet e das redes sociais (ainda que, infelizmente, o acesso pleno não esteja garantido a toda a população), alterou a maneira como nos comunicamos e conectamos com o mundo —por um lado, temos a possibilidade de interagir com pesquisadores, escritores e especialistas das mais diversas áreas, além do poder de criar e compartilhar conteúdos; por outro, a necessidade de interpretar os múltiplos autores para avaliar quando estamos diante de uma informação confiável e de qualidade.

Estudantes protestam contra o novo ensino médio na avenida Paulista, em São Paulo - Bruno Santos/Folhapress

Isso sem falar na inteligência artificial que, a cada dia, apresenta ferramentas mais acessíveis para a produção de conteúdo, seja na forma de textos (como no caso do ChatGPT) ou de imagens (por exemplo, com o robô que responde a comandos em linguagem natural Midjourney).

Nesse ambiente efervescente, o país precisa garantir aos educadores as condições necessárias para aprender ao longo de toda a carreira. Quando pensamos no conjunto de habilidades para lidar de forma crítica e responsável com o universo de informações disponíveis, os profissionais responsáveis por mediar e guiar a experiência de crianças e jovens no mundo conectado precisam, eles próprios, ter a oportunidade de se atualizar para tal missão.

Chamamos as competências ligadas ao manejo consciente e qualificado da informação, sobretudo na cultura participativa, de educação midiática —que já é política pública no Brasil, presente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de forma transversal, seja para o pleno domínio das práticas de pesquisa e comunicação, seja para a leitura crítica e autoexpressão responsável em mídias de diferentes formatos.

Para que essas diretrizes se concretizem, os educadores precisam inserir as diversas linguagens midiáticas no processo de ensino e aprendizagem, em todas as áreas de conhecimento. Na prática, isso significa conectar os currículos com temas como desinformação, discurso de ódio, produção responsável de mídias e participação cidadã por meio da comunicação, entre outros.

A formação continuada é o melhor caminho para garantir que educadores ensinem COM mídias e SOBRE as mídias, comuniquem-se de forma responsável e crítica em diversas linguagens, facilitem e orientem práticas de investigação e criação de conteúdo, ampliando o pensamento crítico dos estudantes, e encorajem a participação deles na sociedade por meio do uso ético e fortalecedor da comunicação.

Sem isso, corremos o risco de perpetuar as iniquidades sistêmicas na representação e na participação de crianças jovens no mundo conectado, reforçando a exclusão digital que já provoca tantos males.

No caso do novo ensino médio, uma das críticas de especialistas é que os educadores nem sempre têm a formação específica para estar à frente de disciplinas eletivas dos mais variados assuntos (nos chamados itinerários formativos). Mas, também nos demais segmentos da educação básica, a formação continuada carece de atenção.

Para a diretora de formação de docentes do Ministério da Educação, Cybele Amado, "a formação continuada é um direito do professor e um dever do Estado, e seu papel é manter a reflexão cotidiana dos temas contemporâneos". Nada mais contemporâneo do que a transformação da sociedade por meio das tecnologias digitais e midiáticas. Que os educadores possam participar plenamente delas.

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