Descrição de chapéu Quilombos do Brasil tecnologia

Curso quer unir conhecimento quilombola a inteligência artificial e games

Formação a distância certificada pela USP, Quilombo Inteligente terá 80% das vagas para cotistas

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Québec

Cultura digital, educação e ancestralidade. Esse é o tripé sobre o qual foi construído o projeto QI - Quilombo Inteligente, um curso de formação a distância que vai promover ferramentas tecnológicas para o desenvolvimento de recursos educacionais e de empreendedorismo baseados na vivência e no conhecimento acumulados por comunidades quilombolas ao longo de séculos no Brasil.

Desenvolvido numa parceria entre universidades brasileiras, do Quebec (Canadá) e de Cuba, o Museu das Favelas e empresas, o QI vai reunir 100 jovens quilombolas e de periferias brasileiras. A partir de suas questões, os estudantes poderão desenvolver projetos de aplicativos, inteligências artificiais, realidades imersivas, games ou podcasts que incrementem sua visibilidade, geração de emprego, renda e valor na esfera digital contemporânea.

Certificado pela USP (Universidade de São Paulo), o curso tem 80% de cotas para pessoas autodeclaradas negras. As inscrições para o processo seletivo foram abertas nesta semana, durante o 11º Festival Games For Change América Latina, que acontece na Escola de Comunicação e Artes da USP até o próximo domingo (19).

Criado por Gilson Schwartz, professor da USP e coordenador do QI, o festival da transformação digital sustentável tem palestras, oficinas e vivências. As inscrições para o QI vão até fevereiro. As aulas e os encontros acontecem a partir de março de 2024.

Quilombolas da comunidade de Tijuaçu, na Bahia
Quilombolas da comunidade de Tijuaçu, na Bahia - Arquivo pessoal/Quilombo Tijuaçu

"Existe um design afro diaspórico acontecendo, com muita gente boa fazendo app e games com viés racial. Viemos somar a esse movimento de afirmação, numa postura colaborativa", explica Schwartz. "Eu sou branco, judeu, professor da USP, ou seja, se eu fosse entrar no debate sobre lugar de fala eu não poderia nem propor este projeto. Mas estamos partindo da perspectiva do diálogo."

Segundo ele, o QI começa com um momento de escuta, no qual os participantes vão colocar as suas demandas, pautas e interesses a serem desenvolvidos ao longo do curso com foco em mídia e na cultura digitais.

"Discutimos o que é cidadania com base no acesso ao conhecimento, a emprego, a geração de renda, formação de competências. Temos a infraestrutura da USP, que é extraordinária, e queremos que a universidade contribua para pagar uma parte dessa enorme dívida social, étnica, racial e territorial que o Brasil tem com essas populações", diz.

Para a pesquisadora Fabíola Morais, que integra o QI, é importante introduzir conteúdos quilombolas na educação formal e levar mais tecnologia para dentro dessas comunidades.

"Os quilombos guardam um conhecimento ancestral em torno de algumas práticas que fazem com que essas comunidades se mantenham coesas e fortes enquanto, no meio urbano, é tudo fragmentado e cada um por si", afirma ela, que pesquisa quilombos de Cavalcanti (GO), região de marcada presença de população quilombola.

A partir dos encontros e suas trocas, os participantes vão decidir quais as áreas em que querem atuar e o QI vai gerar conexões para o desenvolvimento dos projetos dos alunos, sejam eles individuais ou coletivos, a partir de ferramentas digitais.

"A gente quer promover encontros entre quilombolas e jovens de periferia, que tenham alguma semelhança com o mesmo lugar social e seus desafios, para trabalharmos em torno de pesquisas e experiências sobre nossas relações coletivas", explica.

QI é apoiado pela Agência Universitária da Francofonia (AUF), uma organização de cooperação internacional que fomenta a produção científica em língua francesa e tem uma das maiores redes universitárias do mundo, com cerca de mil instituições de ensino e pesquisa de 120 países.

"Fazer parte dessa rede traz o horizonte de aumentar o impacto do projeto e fazê-lo crescer", avalia Schwartz. Segundo ele, o foco do projeto é ter impacto em grupos sociais de maior vulnerabilidade e priorizar participantes que possam multiplicar esses conteúdos. "Queremos que o participante seja alguém com potencial para multiplicar, seja no bairro, do quilombo ou na escola."

O projeto Quilombos do Brasil é uma parceria com a Fundação Ford

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