Descrição de chapéu Enem

Enem tem questões sobre ditadura, Paulo Freire, Palestina e judeus

Candidatos também responderam a perguntas sobre valorização da identidade indígena e racismo neste domingo (5)

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São Paulo e Brasília

As questões do primeiro dia do Enem voltaram a abordar conteúdos sobre o período da ditadura militar no Brasil. O Enem ficou três anos sem trazer questões sobre esse período da história do país, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Até então, a ditadura havia sido tratada em todas as edições do exame desde 2009. Na prova deste domingo (5), ao menos duas questões abordaram diretamente o período.

Defensor da ditadura, Bolsonaro propôs que o Enem tratasse o golpe militar de 1964 como revolução, como revelou a Folha.

O presidente Lula, acompanhado do ministro da Educação, Camilo Santana, e do presidente do Inep, Manuel Palácios, em visita à sede do Inep, em Brasília, neste domingo (5) de Enem - Pedro Ladeira/Folhapress

As questões também abordaram história da Palestina, migração de judeus para o Brasil, machismo, valorização da identidade indígena e racismo.

O exame também trouxe trechos de livros do pedagogo Paulo Freire e dos escritores Conceição Evaristo e Itamar Vieira Júnior. Outra questão trouxe a música 'Alegria, Alegria', de Caetano Veloso.

Professores avaliaram como positivo o retorno desse tipo de conteúdo à prova. "O Enem não tem mais buracos na história do Brasil, todos os períodos importantes da nossa história voltaram a ser cobrados", disse Giba Alvarez, diretor do cursinho da Poli.

Ele explica que, pela importância do Enem, os temas cobrados na prova se tornam mais valorizados para serem ensinados em sala de aula. "Quando os assuntos caem no Enem, eles são valorizados no currículo do ensino médio", disse.

Para Rodrigo Basilio, professor de história do Poliedro, a prova seguiu a tendência dos últimos anos, com uma abordagem menos conteudista e mais interpretativa.

"Muitas questões abordaram a desigualdade de gênero e o papel da mulher na história. Diversas questões também falaram sobre a importância de valorizar a cultura popular, com a ideia de pluralidade de cultura em oposição a uma ideia de cultura hegemônica, das elites", disse Basilio.

Os professores também destacaram a presença de temas ligados ao meio ambiente.

"Tivemos muitas questões vinculadas à questão ambiental, falando sobre mudanças climáticas, o aquecimento global, desmatamento na Amazônia, substancialmente também à grilagem de terra, além de questões sobre degradação do solo, modelo sustentável, sistema agroflorestal", diz o professor de geografia Althieres Lima, da Escola SEB Lafaiete.

Neste domingo (5), os estudantes responderam a 90 questões das provas de ciências humanas e linguagens. Eles também tiveram que fazer uma redação, que teve como tema "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil".

Pela manhã, antes do início da prova, o presidente Lula afirmou que pretende acabar com a cobrança da inscrição para o Enem nos próximos anos. Hoje, a taxa é de R$ 85.

"Investir em educação não é gasto, é investimento", disse o presidente. "Temos que fazer uma combinação para que se torne mais atrativa para os jovens fazerem o seu Enem e entrarem na universidade", afirmou.

As regras atuais garantem isenção da taxa de inscrição para alunos do terceiro ano do ensino médio, que estudaram em escola pública ou como bolsista integral em escola particular. Além de pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica por serem membros de família de baixa renda.

O presidente também disse que estava feliz porque 63% dos inscritos são mulheres e que é "uma boa notícia saber que elas estão batendo o recorde na tentativa de se transformar em mulheres independentes com profissão".

Neste primeiro dia do Enem, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) acionou a Polícia Federal para investigar a circulação de imagens do caderno de provas durante a realização do exame. As fotos começaram a surgir após as 13h, quando os portões foram fechados. O instituto não trabalha, por ora, com a tese de que a prova tenha sido vazada.

O primeiro dia do Enem também ficou marcado pelos efeitos da tempestade em áreas do estado de São Paulo, na sexta-feira (3). Ao todo, depois da chuva, 84 escolas na capital e em outras cidades da região metropolitana tiveram interrupção de energia.

Neste domingo (5), antes da prova, a Enel, concessionária responsável pelo serviço, chegou a anunciar que o problema havia sido solucionado em todas as unidades. No entanto, ao menos em uma faculdade na zona leste da capital, o exame começou com o prédio contando somente com a luz natural.

Colaboraram Constança Rezende e Leonardo Zvarick

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