Descrição de chapéu unicamp USP

Provão Paulista: Tarcísio exclui escolas federais de aplicação local e faz alunos viajarem 9 h

Estudantes terão de realizar vestibular na capital, e não nos municípios onde estudam; OUTRO LADO: secretaria diz que regras foram amplamente divulgadas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Estudantes da rede federal de ensino de São Paulo terão que viajar de ônibus por até nove horas para fazer o Provão Paulista, vestibular seriado criado neste ano pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) e que começa nesta quarta (29). Diferentemente do que ocorre com os candidatos das redes estadual e municipais, os testes não serão aplicados na escola e na cidade onde estudam, e sim na capital.

É o caso de um grupo de alunos de Votuporanga, município do noroeste paulista a mais de 500 quilômetros de São Paulo. Mesmo com a aplicação do Provão Paulista nas escolas estaduais da cidade, os adolescentes tiveram que alugar um ônibus e vão viajar de madrugada até a capital para poder realizar o exame.

Eles também vão ter que arcar com o custo de hospedagem, já que a prova vai ser realizada em dois dias diferentes.

Candidatos realizam a prova da Fuvest, uma das formas de acesso às vagas da USP, universidade mais prestigiada do país - Rivaldo Gomes - 12.dez.21/Folhapress

Criado neste ano, o Provão Paulista vai ser aplicado pela primeira vez a partir desta quarta-feira (29) —a data foi alterada por causa da greve de metroviários, ferroviários e funcionários da Sabesp. O vestibular seriado vai selecionar alunos de escolas públicas para ingressar nas universidades paulistas (USP, Unicamp e Unesp), nas Fatecs e na Univesp.

O exame, uma espécie de "Enem estadual", foi criado com o objetivo de estimular os alunos de escola pública a tentar uma vaga no ensino superior. As regras do exame, no entanto, podem prejudicar aqueles que estudam na rede federal de ensino —são cerca de 10 mil matriculados no ensino médio no IFSP (Instituto Federal de São Paulo), mais de 8.500 deles estudam em campus localizados no interior do estado.

A Secretaria Estadual de Educação, sob o comando de Renato Feder, decidiu que só alunos da rede estadual e de municípios paulistas podem fazer as provas nas cidades em que estudam. O restante (alunos de escola pública de outros estados e da rede federal) deve realizar o exame na capital paulista.

Cerca de 1,2 milhão farão o Provão Paulista. A secretaria inicialmente não informou quantos deles estudam em unidades da rede federal em São Paulo, mas após a publicação deste texto, afirmou que são 1.501. O IFSP divulgou em outubro que havia 3.500 inscritos na prova vindos de seus 36 campi do interior. Nem a pasta nem o instituto explicaram a diferença.

Em nota, a pasta disse que o Provão tem sido amplamente divulgado desde seu lançamento e que todas as regras de participação foram publicadas no Diário Oficial. "A resolução deixa claro que os alunos das demais redes estaduais, municipais e federais deveriam realizar provas na capital do estado de São Paulo", diz a pasta.

A secretaria afirmou ainda que o Provão é uma política "concebida para gerar equidade e como foco nos alunos da rede estadual e municipais de São Paulo, respeitando o princípio constitucional do federalismo".

Em 26 de outubro, um mês antes da realização da prova, o reitor Silmário Batista dos Santos encaminhou um ofício ao secretário Renato Feder solicitando que os estudantes do IFSP fossem autorizados a fazer as provas no município em que residem ou estudam.

Segundo o documento, foi só após a homologação das inscrições que os estudantes souberam que teriam de fazer a prova na cidade de São Paulo. O reitor argumentou que muitos alunos do instituto poderiam ter dificuldade de se locomover à capital, especialmente os de famílias mais pobres. Feder não respondeu o ofício.

Mãe de uma aluna de 16 anos do campus de Votuporanga, do IFSP, Vanessa Ribeiro, 41, considera a situação um desrespeito. "A prova vai ser realizada na nossa cidade, em escolas vizinhas. Por que não deixaram nossos filhos fazerem a prova aqui? Eles também são alunos da rede pública, deveriam ter os mesmos direitos dos demais", diz.

Ela e um grupo de pais ajudaram os estudantes a fretar um ônibus até São Paulo. Só com o deslocamento, eles terão que desembolsar cerca de R$ 8.200, que será dividido entre 40 alunos. Como as provas para os alunos da 1ª e 2ª série serão realizadas nos dias 1º (sexta-feira) e 4 (segunda-feira), eles também terão que custear ao menos três diárias de hospedagem para os adolescentes.

"Sem falar que estamos tratando de adolescentes, de 15 e 16 anos, que não podem viajar sozinhos, ainda mais para uma cidade perigosa como São Paulo. Então, estamos nos organizando para mandar três ou quatro responsáveis com eles. O custo vai ser alto e muitos alunos acabaram desistindo por não ter condições", conta Vanessa.

O IFSP chegou a disponibilizar o ginásio do campus de São Paulo, no Canindé, na zona norte da capital, para que os estudantes de fora tenham onde dormir. No entanto, como parte dos alunos terá de passar todo o fim de semana na cidade, muitos pais acabaram desistindo de enviar os filhos.

Alguns alunos também desistiram de viajar para fazer a prova, por avaliarem que chegariam cansados na capital e não teriam bom rendimento. "Eles vão viajar a madrugada toda, dormindo em um ônibus. Eles não vão ter uma boa noite de sono, como deveriam ter antes de uma prova importante", diz Vanessa.

A Secretaria de Educação não explicou por que não autorizou os alunos do IFSP a fazerem a prova nos municípios em que estudam ou por que não incluiu as unidades do instituto para a aplicação do Provão.

Assim como nas escolas estaduais, professores das escolas municipais, de Etecs (escolas técnicas do Centro Paula Souza) e até, por exemplo, na Escola de Aplicação da USP (que não faz parte da rede estadual paulista), receberam treinamento para aplicar o exame.

Especialista em avaliação educacional, Ocimar Alavarse diz que a regra fere o princípio da isonomia de condições entre os candidatos. Ainda que a regra conste no edital da prova, afirma, ela pode ser questionada judicialmente.

"A regra faz sentido, quando pensamos em candidatos de outros estados. Porque o governo paulista aumentaria os custos da prova ao realizá-la fora de São Paulo. Mas, neste caso, não há mudança já que a prova já vai acontecer na cidade desses alunos. Era só enviar mais provas para esses municípios", diz.

Somente na noite desta terça (28), o governo afirmou que os alunos do instituto federal serão alocados no grupo B de classificação, junto com estudantes de outros estados. Alunos da rede estadual paulista estão no grupo A de distribuição de vagas —ou seja, os grupos não competem diretamente. Essa explicação não constava inicialmente do edital.

Além disso, a secretaria anunciou que os alunos do 1º e do 2º ano da rede federal e de outros estados que não puderem comparecer ao segundo dia de exame, na segunda, em razão do adiamento causado pela greve dos transportes não serão desclassificados e poderão participar do Provão Paulista de 2024. A medida ocorreu após pedido do Ministério Público.

Pelas regras, o aluno que não fizer a prova em algum dos três anos está automaticamente desclassificado de tentar uma vaga nas universidades.

Para a promotora Fernanda Cassiano, do Geduc (Grupo de Atuação Especial de Educação), o cronograma e as regras definidas pelo governo Tarcísio implicariam em "exclusão de de diversos alunos do sistema de avaliação para fins de acesso às universidades públicas paulistas, gerando situação de desigualdade entre os participantes do certame e, portanto, violando o dever do Estado de garantir acesso aos níveis mais elevados do ensino."


Conheça o Provão Paulista

Provas do vestibular seriado começam nesta quarta (29)

Datas e horários

  • Alunos do 3º ano: 29 (quarta), das 8h às 12h, e 30 (quinta), das 8h às 13h
  • Alunos do 1º e do 2º anos: 1º (sexta) e 4 de dezembro (segunda-feira); os estudantes da 2ª série fazem no período da manhã —das 8h às 12h, nos dois dias— e os estudantes mais novos, da 1ª série, no período da tarde, das 14h às 18h

Quais são as provas

As provas das três séries serão compostas por 90 questões de múltipla escolha; apenas os alunos do 3º ano realizarão a redação

Primeiro dia:

  • Linguagens e suas tecnologias: língua portuguesa (20 questões) e língua inglesa (4 questões)
  • Ciências da Natureza e suas tecnologias: física (8 questões), química (8 questões) e biologia (8 questões)

Segundo dia:

  • Matemática e suas tecnologias: matemática (20 questões)
  • Ciências humanas e suas tecnologias: história (7 questões), geografia (7 questões), sociologia (4 questões) e filosofia (4 questões)
  • Redação (texto dissertativo-argumentativo) - só para o 3º ano

O que levar

  • documento oficial (e original) de identidade com foto
  • caneta esferográfica transparente com tinta de cor preta

O que NÃO pode levar

Durante a realização das provas é expressamente proibido usar ou portar telefone celular, pager ou similares e/ou relógios, mesmo que desligados. Caso o candidato esteja portando qualquer equipamento
proibido, deverá, imediatamente após sua entrada na sala, colocá-lo em embalagem plástica com lacre disponibilizada, colocando-a sob a carteira

Vagas ofertadas

  • USP (Universidade de São Paulo): 1.500 vagas
  • Unicamp (Universidade Estadual de Campinas): 325 vagas
  • Unesp (Universidade Estadual Paulista): 934 vagas
  • Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo): 2.610 vagas
  • Fatecs (Faculdades de Tecnologia do Estado de São Paulo): 10 mil vagas (4.864 vagas para o 1º semestre e 5.166 vagas para o 2º semestre de 2024)

No processo de escolha, cada estudante poderá selecionar entre 1 e 11 opções de cursos nos três grupos: o primeiro da USP, Unicamp e Unesp, o segundo das Fatecs e o terceiro, da Univesp

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.