Ministro critica greve em universidades federais e diz que governo mantém diálogo

Camilo Santana disse que fez apelo a sindicatos para não haver paralisação e que tenta atender as demandas de professores e técnicos

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Brasília

O ministro da Educação, Camilo Santana, criticou a greve nas instituições federais de ensino, iniciada na segunda-feira (15) em todo país. Segundo o ministro, não haveria necessidade da paralisação porque o governo Lula (PT) mantém as negociações.

"Pessoalmente recebi dois sindicatos, fazendo apelo de que não havia necessidade de fazer greve agora. Greve para mim é quando não há mais diálogo, quando acabou negociação ou toda e qualquer possibilidade de melhorias", disse Camilo, em audiência no Senado nesta terça (16). "Reconhecemos necessidade de melhorar servidores técnico-administrativos."

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Presidente Lula e o ministro da educação, Camilo Santana (PT), durante evento de educação em Brasília, em janeiro - Gabriela Biló - 30.jan.2024/Folhapress

Camilo ainda afirmou que, na greve, quem perde é o Brasil e o alunos. "Prejuízo é para Brasil e para alunos e queremos evitar isso. Mas governo é aberto ao diálogo".

Ele afirmou que o ministério trabalha para atender as demandas das categorias. Professores de universidades, centros de educação tecnológicas e institutos federais das cinco regiões do Brasil exigem reajuste salarial de 22%, a ser dividido em três parcelas iguais de 7,06% —a primeira ainda para este ano e outras para 2025 e 2026.

A paralisação teve início com a adesão de 21 instituições e, nesta terça, chegou a 24 universidades, institutos federais e Cefets, segundo balanço Andes-SN (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior).

A entidade afirmou que, além da recomposição salarial, existe a necessidade de investimentos públicos nas instituições federais de educação, diante da corrosão desses investimentos no governo passado, sob Jair Bolsonaro (PL).

Em nota encaminhada na segunda, o MEC (Ministério da Educação) da gestão diz que busca alternativas de valorização dos servidores da educação. No ano passado, o governo federal promoveu reajuste de 9% para todos os servidores, argumentou a pasta.

Nesta terça, representantes de sindicatos de trabalhadores federais de educação participaram de uma audiência pública sobre a greve na Comissão de Administração e Serviço Público na Câmara dos Deputados.

Docentes e outros servidores grevistas planejam fazer uma marcha em Brasília na quarta (17).

Na audiência no Senado, Camilo Santana também afirmou que o governo prepara a publicação de decretos e portarias para desburocratizar o funcionamento da pasta e destravar obras paradas.

A Folha revelou que o MEC (Ministério da Educação) não reiniciou nenhuma das 3.783 obras de educação básica paralisadas após quase um ano do anúncio de um grande plano para retomar as construções.

Até o momento, o Executivo federal não conseguiu fechar um único termo de compromisso com prefeituras para permitir a retomada.

O ministro afirmou que negocia com a Casa Civil a publicação de novas regras para viabilizar as obras.

"O FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação] hoje tem 250 mil prestação de contas acumuladas de municípios e estados. Estamos com proposta de mandar projeto de lei para resolver de forma mais desburocratizada esse problema", afirma.

Segundo o ministro, as novas normas assinadas por Lula irão mudar "um pouco alguns parâmetros, alguns fatores no fluxo do FNDE para melhorar a desburocratização do processo".

"Estamos empenhados, não tenho duvida que agora vamos destravar um pouco. Mas lembrando que depende muito também de estados e municípios. Não é FNDE nem MEC que retoma obra na ponta", disse.

Estudantes de instituto em SP dizer apoiar movimento

Em meio à greve de professores, estudantes da rede em São Paulo manifestam apoio ao movimento por reajuste salarial e levantam suas próprias demandas.

O IFSP (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo) é uma das instituições em que os trabalhadores paralisaram as atividades. Ao todo, 32 dos 38 campi da instituição estão em greve, segundo levantamento do Sinasefe-SP, sindicato que representa os servidores federais da educação.

No campus da capital paulista, a maioria dos estudantes não tem aula desde o dia 8 de abril. Embora a greve nacional tenha começado oficialmente nesta segunda, parte dos docentes e servidores vem paralisando atividades desde o início do mês.

Os alunos que estiveram por lá nesta terça participaram de atividades propostas especificamente para o período de greve, como debate e sarau, e também de projetos de extensão e estágios. Além disso, também apontaram o que precisa melhorar na unidade.

No campus, o calor é uma das reclamações dos alunos. "A sala onde estamos é um forno. Tecnologia também é um problema, quase não temos computador. Para nós, que somos alunos, a infraestrutura é o mais importante", diz o estudante de licenciatura em matemática Thiago Moura, 18.

"Achamos [a greve] necessária. Até por estarmos fazendo um curso de licenciatura. [A docência] É um ramo em que eventualmente vamos trabalhar, então é importante ajudar os professores", diz.

Alunas da licenciatura em ciências biológicas, Vitória Silva, 24, e Stella Rubia, 22, confirmam as reivindicações. "As salas de aula têm problema de acústica, não têm ar-condicionado. Só algumas têm ventilador. Nos laboratórios, quando os microscópios funcionam, precisamos dividir. Também sofremos por não ter saída de campo e a maior justificativa é a falta de verba.", diz Vitória. "Às vezes tem 40 alunos em salas que não comportam tanta gente", complementa Stella.

As duas colegas afirmam entender e apoiar a mobilização dos professores. "Apoio essa greve pela revogação [da reforma] do ensino médio e pelo salário. São anos sem reajuste", diz Stella. "Eu não vejo [a greve] como um problema. Para nós é muito válido", afirma Vitória.

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