O papel das empresas na redução de desigualdades

Negócios podem ser agentes para geração e distribuição de riqueza

Marcel Fukayama

Após quase uma década de disputa na justiça, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) derrubou a liminar que permitia as empresas de capital aberto não dar transparência ao anexo 24 da instrução normativa 480/09. Com isso, a autarquia determinou a divulgação dos salários dos executivos das maiores empresas do Brasil desde o dia 25 de junho.

Uma delas pagou ao seu principal executivo em 2017 o equivalente a um salário mensal de R$ 3.409.833,33. Assumindo que o menor salário dessa empresa seja o piso estabelecido em lei –R$ 954–, isso significa que o múltiplo salarial seria de 3.574 vezes. Em comparação com o PIB per capita de 2017, que de acordo com o IBGE, foi de R$ 31.587, um brasileiro médio levaria mais de cem anos para gerar o que alguns dos executivos recebem em um mês. Nos EUA, de acordo com a portal PayScale, seis dos executivos mais bem pagos recebem 350 vezes a mais que média dos colaboradores da empresa. 

Vale ressaltar que não há um juízo de valor sobre o mérito dos profissionais, tampouco se a empresa tem ou não a liberdade de remunerar seus executivos da forma como melhor lhe convir. Mas, então por que isso é importante?

Não há dúvidas de que as empresas são o principal agente econômico no modelo atual. Foram uma grande plataforma para tirar 90% da população mundial da linha da pobreza extrema nos últimos cem anos. É impensável um mundo sem o protagonismo das empresas, que criaram e escalaram soluções de grande impacto em nossa sociedade.

Porém, é preciso reconhecer que as graves distorções sociais e consequências ambientais são externalidades negativas desse modelo, que precisa urgentemente ser ajustado. Para o Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, a empresa tem dois papeis na redução da desigualdade. Primeiro, pagar seus impostos e, segundo, pagar melhor seus colaboradores.

O que temos visto, na verdade, é o oposto disso. A maior empresa do mundo, Apple, pagou em 2016 o equivalente a 0,05% de seus lucros em impostos, devido a um sofisticado arranjo tributário. A determinação da CVM pode estar nos mostrando empresas com múltiplos salariais na casa de 3.500x.
No Sistema B, acreditamos em uma nova economia mais inclusiva e sustentável. Todos os dias, somos movidos em todo o mundo por um novo conceito de sucesso na economia que inclui, além do êxito financeiro, o bem estar da sociedade e do planeta. Hoje, somos milhares de empresas melhores para o mundo, medindo o nosso impacto social e ambiental com mesmo rigor que os nossos lucros. Somos mais de 2.500 Empresas B Certificadas em 67 países.

Ao passar pelo processo de certificação, a empresa é avaliada em 5 dimensões: governança, modelo de negócios, impacto ambiental, impacto na comunidade e relações com os colaboradores. São mais de 160 questões para mais de 130 setores, com mais de 100 combinações distintas. Uma das questões que fazemos às empresas, na dimensão colaboradores, é exatamente o múltiplo salarial entre a maior e menor remuneração na empresa. 

Acreditamos que as empresas podem ser uma poderosa plataforma para, além de gerar riqueza, também distribuí-la e, com isso, contribuir para um dos principais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o número 10 – redução de desigualdades. Atualmente, a média do múltiplo na comunidade global de Empresas B é de 19 vezes.

As Empresas B são uma nova geração de empresas com propósito de gerar impacto social e ambiental positivo, com responsabilidade ampliada para consideração de seus stakeholders na decisão de curto e longo prazo e compromisso com a transparência para mensuração e reporte de seu triplo impacto. São um grupo que lidera, inspira e influencia uma nova cultura empresarial, saindo da lógica de mitigação de impacto negativo para geração de impacto positivo.

Você acredita nisso também? Vamos mudar esse status quo e olhar nos olhos da próxima geração e dizer que não negligenciamos o seu futuro. #BtheChange.

 

Marcel Fukayama é cofundador do Sistema B Brasil e empresário B. Formado em Administração de Empresas, com MBA e mestrado em Administração Pública. 

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.