A Conferência Anual da ANDE (Aspen Network of Development Entrepreneurs) aconteceu entre os dias 24 e 26 de setembro em Washington e reuniu, mais uma vez, os principais atores globais no apoio aos SGBs
(Negócios Pequenos e em Crescimento) —pequenas empresas em crescimento que contribuem fortemente para o desenvolvimento das economias emergentes.
Atualmente são mais de 300 organizações. O Brasil foi representado pela presença do Impact Hub, da Vox Capital, do ICE e da Aliança Empreendedora.
A conferência aconteceu em paralelo à Assembleia Geral das Nações Unidas. Como ficou claro em várias falas, pesquisas científicas e manifestações, particularmente nas palavras da Greta Thunberg, não podemos mais continuar fazendo business as usual (negócios como os de sempre), precisamos de mudanças radicais se ainda queremos continuar na terra, é urgente.
Em 2019, a ANDE comemorou seus dez anos, e a estratégia para os próximos dez anos será focada em colocar o empreendedorismo a serviço dos temas mais urgentes para as pessoas e para o planeta.
O primeiro deles é como os SGBs podem contribuir para gerar ações efetivas na conservação do meio ambiente e na luta contra as mudanças climáticas.
Para exemplificar, diversos membros da ANDE estão desenvolvendo estratégias para apoiar negócios da economia regenerativa. O Impact Hub tem uma parceria global com a WWF e juntos estão criando formações para apoiar o crescimento das empresas sociais que atuam na preservação de biomas no Brasil e no mundo.
São milhares de pequenas empresas sociais demonstrando que é possível gerar renda com atividades que não só evitam a destruição do meio ambiente como também ajudam a preservá-lo.
A Fundação Grupo Boticário também tem apoiado trabalhos nesse tema e, junto com a ANDE, fará uma pesquisa dos investimentos de impacto na América Latina, com destaque para as oportunidades de investimento que promovem a conservação.
O segundo foco é a busca pela igualdade de gênero. Os SGBs têm um papel fundamental nessa transformação, já que eles geram milhares de empregos e renda, e ainda hoje refletem a desigualdade presente na sociedade.
Durante a conferência foram realizadas sessões para não só avaliar quais negócios são liderados por mulheres, mas também fomentar uma transformação cultural nessas empresas.
Estão sendo conduzidas várias pesquisas para apoiar aceleradoras a contribuírem com essa transformação. Um exemplo é a pesquisa da ANDE no Brasil, em parceria com o British Council e o IDS da Universidade de Sussex. Juntos estão entrevistando empreendedoras e empreendedores, organizações intermediárias e investidores para trazer uma lente de gênero para os processos de aceleração dos negócios no Brasil.
Nas pesquisas da GALI (Global Accelerator Learning Initiative), que já avaliou o trabalho de aceleradoras com mais de 20 mil negócios no mundo, fica claro que os negócios que incluem mais mulheres têm melhor performance financeira.
No entanto, a mesma pesquisa mostra que as empresas lideradas por homens têm muito mais facilidade de acessar capital, demonstrando claramente como a avaliação de investidores e instituições financeiras é bastante enviesada.
Na rede global do Impact Hub temos 65% da equipe formada por mulheres, sendo que o board global e a equipe executiva também têm maior presença do sexo feminino. As mulheres compõem 46% dos nossos membros totais e 57% do número de participantes em nossos programas. Mesmo assim, elas recebem menos investimentos de fundos e de investidores anjos.
Finalmente, o terceiro foco é não só na geração de empregos, mas também na qualidade dos empregos gerados pelos SGBs.
A geração de empregos foi sempre mensurada pelas organizações que apoiam SGBs, mas agora elas estão qualificando mais as suas análises para entender em quais setores, categorias e tipos de SGBs tendem a gerar empregos de maior qualidade.
O nível de desigualdade tem continuado a crescer na maioria dos países, portanto gerar empregos que simplesmente reforçam essa desigualdade não será suficiente para que seja criada uma sociedade mais justa e que, acima de tudo, aproveite da melhor forma o potencial das pessoas.
A tecnologia que muitas vezes é vista como uma vilã dos empregos pode ser uma importante aliada para a geração de empregos de qualidade. Um exemplo interessante apresentado na conferência foi como a GIG Economy (economia do freelance ou sob demanda) pode ser tanto uma ameaça como uma oportunidade de gerar mais empregos e de maior qualidade.
Para isso é fundamental que aqueles que estão apoiando e investindo nessas plataformas tenham consciência da importância da qualidade dos empregos gerados, tanto para criarmos um mundo mais justo quanto para assegurar a sustentabilidade dessas empresas no longo prazo.
O empreendedorismo como força criativa do ser humano deve estar a serviço dessas causas. É urgente e possível criar um mundo onde os negócios trabalham para não só conservar, mas regenerar tudo que já destruímos da natureza, para criar oportunidades iguais para todos os gêneros e incluir a todos nesse processo com empregos e oportunidades de trabalho de qualidade. Não podemos esperar mais.
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