O sonho da Associação Viva e Deixe Viver sempre se baseou no propósito de fomentar a leitura e a literatura no Brasil.
Por meio dela, fortaleceríamos o direito à cultura, a nossa identidade nacional e características regionais, fruto processos de mestiçagem e miscigenação de cidadãos culturalmente diversificados.
Somos uma sociedade única, mas também vivemos nossos conflitos em inúmeras práticas racistas, discriminatórias e preconceituosas que desvalorizam aquilo que somos: seres com possibilidade de produzir saúde, cultura, educação, paz e bem-estar social.
Se quem canta seus males espanta, imagine um contador de histórias que, com frequência, abre mentes e corações de pessoas que geralmente leem pouco e não são estimuladas ao prazer pelo conhecimento por seus familiares.
Na escola, o ato de promover a leitura exige dos professores criatividade e imaginação para não se transformar em tortura.
Quando iniciamos a caminhada, em agosto de 1997, oferecendo leitura de narrativas, contos e poesias, uma das dificuldades eram os comentários de nossos interlocutores: “não gosto de ler”, “ler é muito chato” ou “este livro tem muitas palavras, prefiro figuras”.
O desalento também vinha dos pais que, na sua maioria, contextualizavam a falta de hábito de leitura em casa. Se uma criança não vê um adulto lendo, dificilmente poderá ser introduzida ao fantástico mundo do conhecimento, da ciência e do saber.
Já que somos um povo único, plural na diversidade de gênero e étnico-racial, contar histórias é a salvação para a transformação de uma sociedade, pois é através do compreender a palavra que podemos oportunizar, descobrir e valorizar nossos autores, nossa gente
Diversidade tem vários significados. Diferenças, multiplicidade e variedade. A leitura também é assim: cada obra aberta é a descoberta de um mundo novo.
Desde as primeiras incursões fortalecendo o hábito da leitura no campo da saúde, onde dor e sofrimento se misturam ao branco asséptico dos hospitais, fui instigado a ampliar o poder da arte de contar histórias para outros públicos.
Nem todo voluntário tem a vocação de atuar com crianças e adolescentes, mas eles poderiam levar essa milenar arte para lugares como escolas, bibliotecas, creches, presídios, asilos, áreas da pedagogia e da psicologia e, principalmente, para a família.
Entre 2018 e 2019, a Associação Viva e Deixe Viver se deu a oportunidade de rever conceitos, normas e práticas para entrar nos espaços citados acima e diversificar seus públicos.
A partir da implantação da nova governança, portanto, nosso premiado curso "A arte de contar histórias e do brincar", que há anos capacita voluntários para atuar em hospitais, tornou-se mais abrangente. Além de preparar voluntários para a atividade de contação de histórias no ambiente da saúde, passou a dar subsídios para pessoas que quisessem utilizar essa ferramenta em outros lugares.
A pandemia acelerou processos e estimulou a utilização de tecnologia para chegarmos a outros lugares e beneficiários. Ajudou-nos a repensar a vida da Viva e humanizou o contato virtual. Listo alguns exemplos de conquista durante a pandemia.
Por meio do Viva Eduque, espaço dedicado à difusão cultural e educacional e à gestão do bem-estar para a sociedade, ressaltamos a importância da arte de brincar, contar e ler histórias, através da comunicação humanizada em nossos eventos, cursos e consultoria.
O afastamento social nos aproximou de nossas afiliadas e de novos parceiros ligados à educação, abrindo espaço para a criação e cocriação de outras plateias. O espaço digital Bisbilhoteca Viva diversificou seu conteúdo e surgiram as Domingueiras virtuais, lives sobre diversos temas; os fóruns, as oficinas e os workshops virtuais.
E surgiu nosso mais recente e encantador bebê, a Viva On, plantão ao vivo de contadores de histórias aberto a quem queira participar – seja criança, adolescente ou adulto.
Além da atividade de contação, o plantão propicia encontros entre voluntários e líderes de diferentes praças, que trocam dicas e informações. Oferecemos a Viva On a qualquer cidadão que queira participar de um encontro cultural virtual, esteja ele no hospital, na escola, na biblioteca ou em casa.
Quando a situação da pandemia amenizar, temos certeza de que a Viva On ganhará maturidade e caráter forte, a partir da programação estruturada, e sobreviverá para ser nosso modelo híbrido.
Ou seja, quem está credenciado a contar histórias em hospital, vestirá o jaleco, e quem fez o curso para qualquer outro espaço vestirá a camisa da nossa Associação.
Para finalizar, quero que saibam que nunca produzimos tanto conteúdo e conhecimento, e isso em meio à dor e ao sofrimento. O hospital hoje é a sociedade.
O “excelente” virá! Quero agradecer pela oportunidade de dizer que, se estamos vivos no meio desta pandemia, já temos muito a comemorar, sobretudo, pela amizade que constituímos.
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