Em inovação, há um 'vale da morte' entre academia e mercado, diz cientista

Pesquisadores carecem de formação empresarial para que ideias do laboratório virem negócios

Everton Lopes Batista
Poços de Caldas (MG)

Ciência + negócios é uma soma que pode melhorar a sociedade, gerando novas tecnologias e inclusão digital. O problema é que, em matéria de inovação, há um "vale da morte" entre universidade e mercado, na opinião de Guilherme Rosso, presidente da Emerge Lab, que promove cursos de empreendedorismo para profissionais das ciências.

"É difícil ser cientista e é difícil ser empreendedor. Muitos cientistas têm boas ideias nas mãos, mas não sabem que elas podem gerar um negócio", afirmou Rosso.

É um campo pronto para crescer, segundo especialistas presentes no Fiis. Mas para que isso ocorra é preciso fortalecer a ciência brasileira, atraindo os jovens, e dar educação empreendedora para os pesquisadores que já atuam no laboratório.

Guilherme Rosso
Guilherme Rosso, presidente da Emerge Lab, que promove cursos de empreendedorismo para profissionais das ciências - Keiny Andrade/Folhapress

Neste ano, 40 pesquisadores participam do programa de formação da Emerge. A maior parte da turma tem mestrado e doutorado e alguns já abriram empresas.

Graças a um convênio firmado com a USP, uma equipe da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) faz a mentoria dos cientistas interessados em entrar no mundo dos negócios.

A Braincare é um exemplo de empreendedorismo de base científica com impacto social. A empresa produz um dispositivo criado pelo físico Sérgio Mascarenhas, que monitora a pressão intracraniana a partir da leitura de impulsos elétricos feita por chip.

A medição, necessária em portadores de algumas doenças neurológicas, geralmente requer cirurgias invasivas.

A inspiração para criar a ferramenta surgiu quando Mascarenhas recebeu um diagnóstico de hidrocefalia (acúmulo de água no cérebro) e teve de se submeter ao procedimento.

A insatisfação com o método levou o pesquisador a buscar uma solução para reduzir o sofrimento dos pacientes. Daí surgiu a Braincare, desenvolvida em sociedade com Plínio Targa, um ex-aluno. O dispositivo, diz Targa, está em funcionamento no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

A Braincare fez a première mundial do documentário "O Nascimento de um Sinal Vital", com direção de Henry Grazinoli, no Fiis.

Cientistas que enveredam pelo empreendedorismo são uma tendência que deve crescer, mas para isso é necessário atrair mais jovens para a carreira científica, avalia Mirella Domenich, diretora da Ashoka Brasil, ONG que dá apoio a empreendedores sociais.

"A juventude é um momento de experimentação. Nessa fase, todos deveriam experimentar como a ciência pode ser transformadora e se reconhecer como agentes de mudança social", afirmou.

Em 2019, a Ashoka prevê o lançamento do Desafio de Inovação Social, programa que visa selecionar candidatos a partir de 12 anos, interessados em ciência e tecnologia.

A ideia é que, durante nove meses, os selecionados participem de aulas e seminários para formar rede nacional de empreendedores inovadores.


ciência empreendedora

Startups brasileiras de base científica

One Skin

Onde Vale do Silício (EUA)

O que faz Criada pela brasileira Carolina Reis, a empresa fabrica pele artificial similar à humana para ser usada em testes com produtos cosméticos, evitando o uso de animais

Hermes Braindeck

Onde Aquidauana (MS)

O que faz Permite que pessoas em coma se comuniquem através de um dispositivo, criado pelo cientista Luiz Fernando da Silva Borges, que lê padrões cerebrais e os converte em respostas simples (sim ou não)

Bright Photomedicine

Onde São Paulo (SP)

O que faz A partir do estudo dos efeitos da luz nos neurônios, o físico Marcelo Sousa criou um aparelho que emite luz para tratar a dor

Braincare Health Technology

Onde São Carlos e Ribeirão Preto (SP)

O que faz Fabrica um dispositivo, desenvolvido pelo físico Sérgio Mascarenhas, que monitora a pressão intracraniana sem necessidade de cirurgia

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