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Solidão aumenta o risco de doença cardíaca em mulheres, diz estudo

Pesquisa acompanhou 58 mil participantes com idade média de 79 anos por mais de uma década

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Fernanda Bassette
Agência Einstein

Para mulheres mais velhas, o isolamento social e a solidão são fatores que aumentam o risco de desenvolverem alguma doença cardiovascular, aponta novo estudo publicado no período científico JAMA (Jornal da Associação Médica Americana, em inglês).

Durante quase dez anos, os pesquisadores acompanharam cerca de 58 mil mulheres na pós-menopausa, com idade média de 79 anos, e concluíram que o isolamento, por si só, aumentava o risco da doença cardíaca em 8%, e a solidão em 5%. Quando os dois sentimentos eram associados, o risco chegava a até 27%, quando comparado com mulheres da mesma idade sem esses sentimentos.

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Mulher observa embarcação na Alemanha - LVDESIGN/Adobe Stock

Vale destacar que solidão e o isolamento social não são a mesma coisa:

  • Solidão é sentir-se sozinho mesmo estando em contato regular com outras pessoas;
  • Isolamento social é estar fisicamente longe das pessoas.

Segundo a médica cardiologista Juliana Soares, do Hospital Israelita Albert Einstein, que atua na área de cardiologia da mulher, o grau de isolamento social de uma pessoa pode ser aferido por meio de questionários internacionais específicos. Já o grau de solidão é muito subjetivo, porque se trata da percepção do indivíduo sobre a própria situação.

"Quando os pesquisadores analisaram o grande conjunto de variáveis, eles concluíram que o isolamento social sozinho interfere na saúde cardiovascular da mulher, assim como a solidão sozinha também interfere. E quando a mulher relatava sentir as duas coisas, era um fator de risco maior ainda, independentemente de outros que a mulher possa ter. Esse é um número muito alto e é importante sabermos que eles, sozinhos, já podem ser considerados fatores de risco cardiovascular", diz a médica.

É importante destacar que a pesquisa foi realizada entre 2011 e 2019, antes da pandemia de Covid-19, que provocou o isolamento social forçado de milhões de pessoas, e pode ter aumentado a sensação de solidão.

Para chegar à conclusão, os autores da pesquisa corrigiram outros fatores de risco cardiovasculares por meio de programas estatísticos para realmente observarem o efeito da solidão e do isolamento nessas mulheres.

Por que solidão e isolamento impactam no coração?

De acordo com Soares, alguns comportamentos que não são benéficos à saúde estão mais associados ao isolamento social e à solidão, entre eles: o aumento do sedentarismo, tabagismo, consumo de bebida alcoólica, dietas menos balanceadas e mais voltadas ao consumo de doces e de produtos industrializados.

Ainda segundo a especialista, o isolamento e a solidão também podem aumentar os casos de depressão e de ansiedade e provocar situações de estresse crônico, que acabam alterando níveis hormonais nas mulheres.

"Esses são hábitos que acabam levando a outros fatores de risco cardiovascular. Ademais, tem um substrato biológico envolvido. O estresse crônico, por exemplo, promove um desequilíbrio hormonal favorecendo o estresse oxidativo e, consequentemente, um processo inflamatório no organismo. Com os hormônios desbalanceados, com o cortisol aumentado, o processo de aterosclerose [formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos] fica mais intenso. Esse processo de alterações em cascata aumenta o risco de a mulher sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) ou de ter um quadro de infarto", explicou a cardiologista.

Principal causa de morte

As doenças cardiovasculares ainda são a principal causa de morte no mundo, e esta não é a primeira vez que um estudo aponta a associação de solidão e isolamento social com o aumento do risco desse tipo de evento.

Uma pesquisa publicada em 2016 na revista científica Heart já apontava que a solidão e o isolamento estavam associados a um risco acrescido de 29% de ataque cardíaco e de 32% de sofrer um AVC. A explicação era justamente os comportamentos associados à solidão: tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo e má alimentação.

"Essa era uma situação que nós médicos já observávamos e esse estudo, com uma população feminina dessa magnitude, veio corroborar. Esses resultados destacam a necessidade de reforçarmos ações de prevenção de doenças cardiovasculares nas mulheres. O ideal é que elas recebam suporte antes que cheguem nessa situação", completou Juliana.

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