Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Distanciamento social ou isolamento social? Como melhor operar as cidades durante as pandemias?

Vidas são prioridade, mas governantes devem buscar soluções que levem em conta as particularidades de cada local

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Estamos numa era de pandemias. No entanto, está claro que esta última causou o maior impacto mundial e permanecemos tentando lidar, da melhor forma possível, com as suas consequências.

Na falta da vacinação em massa, as cidades procuram alternativas para mitigar os efeitos devastadores da crise sanitária. Dentre as medidas disponíveis, além dos cuidados pessoais com proteção e higiene, estão o distanciamento social e o isolamento social.

Governantes, em várias partes do mundo, optaram por implementar o isolamento social como parte das estratégias de combate à Covid-19, com resultados positivos na contenção do processo de contaminação, é verdade.

Entretanto, estudos desenvolvidos por vários pesquisadores no Reino Unido mostraram que esse isolamento social está associado a um maior risco de inatividade, tabagismo, abuso de álcool, dieta pouco saudável, depressão, introversão, habilidades sociais deficientes e transtorno de estresse pós-traumático, levando a maiores riscos de doenças cardiovasculares, demência e mortalidade prematura, especialmente em pessoas idosas.

Os pesquisadores Richard Cash e Vikram Patel, do Departamento de Saúde Global e População da Universidade de Harvard, nos EUA, em artigo publicado pela revista The Lancet, argumentam que a maioria dos idosos nos países em desenvolvimento são frágeis e dependem de pessoas mais jovens para serviços comunitários. Isolar socialmente essas pessoas de seus parentes pode ter efeitos deletérios ao bem-estar físico, social e psicológico, especialmente para aqueles com dificuldade de locomoção e deficiência cognitiva. A maioria desses idosos não tem acesso à tecnologia ou não a conhece.

Além disso, o isolamento social provocou grandes dificuldades econômicas nas cidades da maioria dos países em desenvolvimento onde foi adotado, criando graves entraves paras as pessoas atenderem às condições mínimas de sobrevivência. Permanecendo esse modelo de enfrentamento a pandemias, precisamos nos aprofundar na avaliação de intervenções que possam enfrentar de forma eficiente as consequências adversas do isolamento social.

Por outro lado, parece mais adequado preparar as áreas urbanas e educar seus habitantes para combater as pandemias por meio do distanciamento social, ao invés do isolamento social, procurando o modelo ideal para o funcionamento das cidades com razoável segurança sanitária, sem os efeitos perversos do isolamento.

Os pesquisadores Cash e Patel sugerem aos países permitir que as pessoas continuem com suas vidas —trabalhar, ganhar dinheiro e colocar comida na mesa. Que os lojistas e prestadores de serviços abram e vendam seus produtos e forneçam serviços. Enfim, permitam que os profissionais exerçam seu trabalho diário, com precauções sanitárias sensatas que possam minimizar o risco de exposição ao vírus.

Segundo esses pesquisadores, os meios de subsistência são um imperativo para salvar vidas. As políticas de bloqueios generalizados podem levar, involuntariamente, a ainda mais doenças e mortes, afetando desproporcionalmente os pobres.

Para que o distanciamento social seja eficiente, devemos ter espaços públicos e espaços privados de uso público preparados para permitir às pessoas usar a cidade de forma adequada no que diz respeito à segurança sanitária.

Não obstante, os deslocamentos fazem parte do funcionamento da cidade, e o transporte público é um gargalo importante nesse processo. A solução de curto prazo para o distanciamento social no transporte de massa passa, obrigatoriamente, pela implantação de um rígido, eficiente e inteligente sistema de escalonamento de horários para os trabalhadores das diversas atividades, que permita efetivamente a diminuição da aglomeração em momentos de pico.

Obviamente, vidas são prioridade, mas os governantes devem, ao buscar as melhores soluções, raciocinar, tendo em mente a disponibilidade de recursos, a demografia única, as condições sociais e culturais diversas e a limitação de infraestrutura de cada cidade e país. Não é possível vislumbrar uma equação de fácil solução, mas é necessário focar no que é possível, aceitável, justo e sustentável para traçar o melhor caminho para as pessoas ao longo da crise sanitária.

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