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Circuncisão afeta a vida sexual? 4 perguntas sobre a prática

Um a cada três homens no mundo são circuncisados; entenda como é feita a prática

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Felipe Llambías
BBC News Mundo

A circuncisão é praticada há milhares de anos.

Os historiadores acreditam que ela já existia 15 mil anos atrás na sociedade egípcia e chegou até os nossos dias, com cerca de um a cada três homens circuncidados no mundo.

Os homens circuncidados – ou seja, que tiveram o prepúcio cortado do pênis, deixando a glande a descoberto – são, em sua maioria, muçulmanos. No islamismo, a circuncisão é praticada como um ritual nos recém-nascidos, da mesma forma que no judaísmo.

Circuncisão
Circuncisão é prática milenar e realizada principalmente em muçilmanos e judeus - Getty Images via BBC News Brasil

Em segundo lugar, estão os homens nascidos nos Estados Unidos – 80,5%, segundo dados de 2016. Naquele país, a circuncisão é considerada há décadas uma intervenção médica benéfica.

A maior parte das circuncisões é realizada imediatamente após o nascimento. Os homens não circuncidados podem precisar submeter-se à intervenção posteriormente por motivos de saúde.

Aqui temos as respostas da ciência a quatro perguntas sobre a circuncisão.

1. Qual é a função biológica do prepúcio e o que acontece quando ele é cortado?

O prepúcio é a parte da pele do pênis que recobre a glande.

Diferentemente do restante da pele do pênis, que está presa ao órgão, o prepúcio fica solto. Em condições normais, o prepúcio deveria poder recuar até descobrir totalmente a glande, tanto no estado flácido quanto durante a ereção.

A superfície interna do prepúcio é uma mucosa lubrificada, similar ao interior da boca ou da vagina, entre as mulheres.

"Sua função é cobrir o órgão e servir de revestimento", segundo a urologista Ana María Autrán, da Confederação Americana de Urologia.

Os especialistas também acreditam que o prepúcio pode ter alguma função imunológica.

O homem pode prescindir do prepúcio, mas a glande é uma região muito sensível do pênis. Quando o prepúcio é retirado por questões de saúde na infância, na adolescência ou na idade adulta, a glande, que antes estava protegida, passa a ficar em contato direto com o ar e com as roupas.

Por isso, nas primeiras semanas, o paciente sente incômodo causado pelo contato da glande com os tecidos. E pode também sentir dores durante as ereções. Mas, com o passar do tempo, a pele da glande fica mais rígida e perde um pouco da sensibilidade.

A cirurgia geralmente é realizada de duas formas: a tradicional, cortando o prepúcio com bisturi, ou com um grampeador cirúrgico. Pode-se aplicar apenas anestesia local, embora, muitas vezes, o paciente seja sedado antes da intervenção em uma região tão sensível do corpo.

2. Quando é preciso submeter-se à circuncisão?

Deixando de lado os motivos religiosos e concentrando-nos nas razões de saúde, existem diferentes opiniões a respeito.

De um lado, encontra-se a posição majoritária nos Estados Unidos, de que é preferível submeter os bebês à circuncisão quando eles nascem. Segundo a Academia Norte-Americana de Pediatria (AAP, na sigla em inglês), "os benefícios para a saúde da circuncisão masculina no recém-nascido superam os riscos".

Entre esses benefícios, a organização menciona a prevenção de infecções do trato urinário, o câncer de pênis e o contágio de algumas doenças sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV/AIDS.

"A circuncisão masculina realizada durante o período neonatal apresenta taxas de complicações consideravelmente mais baixas do que quando realizadas em etapas posteriores da vida", segundo a AAP.

Por outro lado, a organização afirma que não existem elementos suficientes para pedir que a circuncisão seja uma intervenção de rotina para todos os bebês. "É uma decisão que deve ser tomada pelos pais, sempre auxiliados por um médico", explica o pediatra Ilan Shapiro, membro da AAP, à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

Já a Real Associação Médica Holandesa, por exemplo, adota uma posição oposta. Ela afirma que os bebês não devem ser submetidos à circuncisão porque "não existem provas convincentes de que a circuncisão seja útil ou necessária em termos de prevenção ou higiene". Por isso, ela "não é justificável, exceto por razões médicas/terapêuticas".

"Ao contrário do que se costuma pensar, a circuncisão traz o risco de complicações médicas e psicológicas. As complicações mais comuns são o sangramento, infecções, estenose do canal (o estreitamento da uretra) e ataques de pânico", defende a organização.

Os principais motivos médicos que podem levar à circuncisão são a fimose, a parafimose e a balanopostite.

A fimose ocorre quando o prepúcio é tão estreito na sua extremidade que não permite o seu deslizamento normal até liberar totalmente a glande. Quando detectada com pouca idade, pode ser curada com cremes para que não seja necessário realizar a cirurgia.

A parafimose ocorre quando o prepúcio desliza completamente, mas depois não retorna para a posição original.

Já a balanopostite é a inflamação da glande, quase sempre causada por falta de higiene. Para evitá-la, desde pequenos, os meninos devem retirar o prepúcio e limpar bem a região com água e sabão para retirar o esmegma – uma secreção espessa e esbranquiçada – que é produzido abaixo do prepúcio.

Estas complicações podem aparecer em qualquer etapa da vida, desde a infância até a terceira idade.

3. A circuncisão tem algum impacto na vida sexual e na sensibilidade?

Segundo Shapiro, esta é uma pergunta difícil de responder. Estatisticamente, são poucos os casos de homens que conseguem comparar sua vida sexual antes e depois da circuncisão e, por isso, não existem estudos contundentes a respeito.

Enquanto o pênis se acomoda à sua nova conformação após a circuncisão, o paciente sofre aumento da sensibilidade na glande, o que pode gerar incômodos, segundo Autrán.

Posteriormente, a pele da glande, que era protegida pelo prepúcio lubrificado, muda ao ficar em contato direto com o ar. "Ela começa a ressecar e, quando a pele endurece, essa sensibilidade muda", explica Shapiro.

Ele acrescenta que o prepúcio também é uma região repleta de nervos que são perdidos quando ele é extraído.

Alguns pacientes chegam ao consultório pedindo ao médico que os submeta à circuncisão por razões estéticas. Eles entendem que o seu pênis ficará mais bonito sem a cobertura protetora.

Também se faz este tipo de intervenção, mas é preciso eliminar alguns mitos: o pênis não aumentará de tamanho, não ficará mais longo, nem terá maior potência na hora do sexo. E a ejaculação será igual à de antes.

Uma advertência dos especialistas é que os pacientes não tenham relações sexuais nas quatro ou cinco semanas posteriores à intervenção cirúrgica, para evitar dores e complicações da cicatrização.

4. A circuncisão ajuda a prevenir o HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis?

Um dos benefícios promovidos pelos defensores da circuncisão é que ela ajuda a prevenir doenças sexualmente transmissíveis (DST), como o HIV/AIDS.

A própria ONU, no seu programa de luta contra o HIV, realiza campanhas de circuncisão em massa em países do leste e do sul da África que apresentam altos níveis de incidência do vírus.

Já foi demonstrado que a eliminação do prepúcio reduz a taxa de contágio do HIV, mas apenas em homens heterossexuais e em regiões de alta transmissão.

"A relação entre a circuncisão e a transmissão do HIV é, no mínimo, pouco clara, o que é ilustrado pelo fato de que os Estados Unidos apresentam alta incidência de DSTs e infecções por HIV com alto percentual de circuncisões de rotina", afirma a associação holandesa. "Na Holanda, ocorre exatamente o contrário: baixa incidência de HIV/AIDS, combinada com um número relativamente baixo de circuncisões."

Em homens que mantêm relações sexuais com outros homens e são ativos, a proteção da circuncisão contra o HIV é parcial, enquanto, entre os passivos, não foram observadas diferenças.

Outras DSTs, como a gonorreia, sífilis, clamídia, herpes, o vírus do papiloma humano e úlceras genitais, foram estudadas pela medicina porque se acreditava que a circuncisão evitaria seu contágio. Mas não existem evidências que comprovem esta afirmação.

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