No final dos meus 20 anos, um dos meus amigos mais próximo simplesmente sumiu.
Nós nos conhecemos na faculdade e começamos a nos afastar depois da formatura. Ele se mudou para o centro-oeste para fazer pós-graduação e eu fiquei em Nova York, mas nos visitávamos quando nossas circunstâncias e orçamentos permitiam. Também trocávamos emails –no início com frequência, depois menos. Tentei não pensar muito sobre a época em que nosso relacionamento terminou, mas recentemente desenterrei meu último e-mail para ele, de 12 anos atrás.
"Estou escrevendo isto como uma última tentativa de fazer contato", escrevi numa nota que me faz sentir uma combinação de mágoa e constrangimento, mesmo hoje. "Espero que possamos nos reconectar."
Ele não respondeu, e eu não tentei novamente. Parecia muito com ser deixada de lado.
O "ghosting" –quando alguém corta unilateralmente a comunicação sem aviso ou explicação– tornou-se uma parte aparentemente inescapável da cena do namoro moderno, mas prestamos muito menos atenção nisso como um fenômeno entre amigos.
No entanto, pesquisas sugerem que experiências como a minha são bastante comuns. Em um estudo de 2018, 39% dos participantes disseram um dos seus amigos sumiram. E um estudo publicado no início deste ano descobriu que as pessoas geralmente se sentem tão magoadas depois de serem dispensadas por um amigo quanto quando isso acontece com um parceiro romântico.
"Com o ghosting, sabemos que existem quatro necessidades fundamentais que são ameaçadas", diz Gili Freedman, professora assistente de psicologia no St. Mary's College de Maryland, autora de "Seu senso de pertencimento, seu senso de existência significativa –que você tem um lugar no mundo, e esse lugar é significativo– seu senso de controle e sua autoestima", feito em 2018.
Freedman alertou que não há nenhuma pesquisa sobre as melhores estratégias para ajudar alguém a lidar com esse quase desaparecimento de um amigo –e enfatizou que a maior parte da pesquisa sobre ghosting se concentrou em namoro e situações românticas. Mas ela e outros especialistas que estudam amizade e fenômeno ofereceram várias abordagens que podem ajudar.
Valide sua experiência –e sua dor
Há "uma certa vergonha" em ser dispensado por um amigo, diz Irene S. Levine, psicóloga e autora de "Best Friends Forever: Surviving a Breakup with Your Best Friend" (Melhores amigos para sempre: sobrevivendo a uma ruptura com seu melhor amigo, em português). Ela acredita que muito disso vem da mitologia de que você deve manter seus amigos por toda a vida, quando na verdade uma pesquisa feita na Holanda sugere que as pessoas podem perder cerca de metade dos amigos em sua rede social a cada sete anos.
Simplesmente lembrar a si mesmo que a fluidez é uma marca registrada da amizade e que o ghosting platônico é relativamente generalizado podem oferecer algum conforto, diz Levine, porque ajudam a normalizar a experiência.
"Tente recuar e lembrar que nem todas as amizades, mesmo as muito boas, duram para sempre", pontua ela.
Também pode ajudar reconhecer que ser dispensado é uma forma de "perda ambígua", termo da psicologia que descreve uma perda sem informação ou encerramento. Marisa Franco, psicóloga que estuda amizades, diz que é normal se sentir triste, com raiva ou envergonhado.Também é normal remoer o fato.
A pesquisa sugere que simplesmente nomear sentimentos sem tentar os mudar ou afastar –técnica conhecida como "rotulação de afeto"– pode oferecer consolo.
"Qualquer coisa que o ajude a expressar emoções aliviará a dor", pontua Franco. Isso pode incluir registrar no diário, chorar ou conversar com amigos que não minimizarão seus sentimentos. Tente validar seu sofrimento de maneira compassiva, ela sugere, reconhecendo que seus sentimentos o conectam a outras pessoas que lutaram com questões semelhantes –ideia chamada de "humanidade comum".
(Eu, por exemplo, achei catártico escrever esta reportagem e perceber que não sou a única que passou por uma experiência como essa.)
Recupere algum controle
Como o ghosting é caracterizado pela incerteza, ele pode ajudar a "fortalecer sua necessidade de controle", indica Freedman. Concentre seu tempo e atenção em áreas de sua vida onde você sente um senso de agência, diz ela. É no trabalho? Em certos hobbies? Despeje sua energia nessas atividades.
Christina Leckfor, estudante de doutorado em psicologia social na Universidade da Geórgia, acrescenta: "Se você acha que está sendo dispensado, tente preencher esse vazio em sua vida com a conexão social de outras pessoas. Se você puder passar um tempo com amigos íntimos ou familiares, ainda pode se sentir magoado com a experiência, mas espero que não se sinta tão sozinho".
Ao mesmo tempo, embora o fenômeno pareça profundamente pessoal, pode ser útil "lembrar que levar um fora talvez não tenha nada a ver com você", afirma Levine. Ela observou, por exemplo, que seu amigo pode estar lutando com problemas de saúde mental, uma doença ou problemas familiares, e "talvez não esteja pronto para compartilhar –mesmo com um velho amigo".
Considere entrar em contato mais uma vez
Às vezes é óbvio que um amigo terminou com você, como foi o meu caso. Mas, muitas vezes, as amizades simplesmente desaparecem. Por exemplo, um estudo frequentemente citado com jovens adultos descobriu que a separação física era o motivo mais comum para o fim das amizades.
Portanto, considere a possibilidade de que seu amigo não esteja deliberadamente dispensando você, que a vida simplesmente atrapalhou.
"Normalmente, os amigos não dizem: 'Vou me mudar para o outro lado do estado para começar num emprego e, nessa época, não vou manter tanto contato'", indica Jeffrey Hall, professor de estudos de comunicação da Universidade do Kansas. Ele observa que a amizade não tem o mesmo tipo de expectativas claras de comportamento que os relacionamentos românticos tendem a ter.
É possível que, se você entrar em contato, eles possam agradecer sua persistência, indica Hall.
Mesmo que você nunca receba uma resposta, pelo menos pode ajudar a interromper o ciclo de pensamento, diz Franco. Tomar a iniciativa pode oferecer mais a percepção de que a amizade realmente acabou, recomenda, em vez de deixá-lo na dúvida.
"Você pode apenas dizer: 'Ei, amigo, não tenho notícias suas há algum tempo. Neste ponto, não tenho certeza se ainda está interessado em nossa amizade", afirma Franco. "Tente fazê-lo apenas ser honesto com você. Acho que aqueles que somem costumam pensar que a honestidade é pior do que ghosting."
Tradução Luiz Roberto M. Gonçalves
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