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Os benefícios de respirar pelo nariz (e não pela boca) durante exercício

Ação aumenta a produção de óxido nítrico, que faz com que o oxigênio atinja pulmões e músculos com mais facilidade

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Dan Gordon Chloe French Jonathan Melville
BBC News Brasil

Respirar é um ato inconsciente. Nós não precisamos pensar na respiração – ela simplesmente acontece.

Mas, quando nos exercitamos, muitos de nós tomamos mais consciência da respiração do que o normal. E, às vezes, chegamos a pensar em cada uma das nossas respirações.

Durante exercícios de baixa e média intensidade (como caminhar e andar de bicicleta), a maioria de nós inspira pelo nariz e expira pela boca. Mas, quanto mais intenso se torna o exercício, maior é a nossa tendência de respirar exclusivamente pela boca.

A maioria de nós acredita que respirar pela boca é a melhor técnica durante exercícios intensos, já que permite que maior quantidade de oxigênio chegue aos nossos músculos. Mas as evidências indicam o contrário – respirar pelo nariz, na verdade, pode ser melhor para os exercícios de alta intensidade (como corridas).

Pessoas correndo ao ar livre em uma floresta
É preciso praticar para respirar pelo nariz durante exercícios mais intensos - Getty Images via BBC

Diversos estudos demonstraram que, quando nos exercitamos em diferentes intensidades, nosso corpo consome menos oxigênio quando respiramos pelo nariz, em comparação com a respiração pela boca. Pode não parecer um benefício, mas isso indica, basicamente, que o corpo ainda consegue realizar a mesma quantidade de exercício, utilizando menos oxigênio.

Esta pode ser uma vantagem real, especialmente para os atletas de resistência, pois a economia de movimentos é fundamental para o sucesso.

Pense no oxigênio como o combustível de um automóvel. Quanto mais quilômetros por litro o carro fizer, melhor é a sua "economia de combustível".

O mesmo se aplica ao oxigênio. Quanto menos oxigênio for usado para cada passo, menos energia a pessoa consome – e, portanto, mais econômica ela é.

Isso significa que você pode correr mais, sem ficar exausto com tanta rapidez.

Respirar pelo nariz também é associado à redução do volume de ar inalado – o que faz sentido, já que as narinas são muito menores que a boca e não conseguimos inspirar a mesma quantidade de oxigênio de cada vez.

Mas o mesmo estudo também concluiu que as pessoas respiram com menos frequência pelo nariz quando se exercitam, o que não parece ser tão lógico.

O ponto principal aqui é entender que o ar se move da pressão alta para a pressão mais baixa, o que ajuda no seu trânsito do ambiente aberto para dentro dos pulmões.

Embora o volume de ar seja menor na cavidade nasal em comparação com a boca, a pressão é maior – o que significa que o ar se move mais rapidamente para o sistema respiratório. Como resultado, o oxigênio pode ser fornecido com maior rapidez para os músculos em funcionamento.

E cada respiração também libera maior quantidade de oxigênio, o que explica por que não há diferença nos batimentos cardíacos quando respiramos pela boca ou pelo nariz, durante o mesmo exercício.

Por isso, embora estejam entrando menores volumes de oxigênio no organismo, isso indica que o coração não precisa trabalhar mais para fornecê-lo para os músculos. Ou seja, o coração não sofre estresse adicional quando respiramos pelo nariz durante os exercícios.

Os pesquisadores indicam ainda que respirar pelo nariz aumenta a produção de óxido nítrico, que faz com que o oxigênio atinja os pulmões e os músculos com mais facilidade e também pode evitar danos causados por patógenos suspensos no ar, como vírus.

O óxido nítrico presta este serviço reduzindo a pressão sanguínea e ajudando o sangue a fluir com mais facilidade, permitindo que o tão necessário oxigênio atinja os músculos em funcionamento.

Treinamento e aprendizado

De forma geral, parece que respirar pelo nariz realmente pode ser benéfico quando corremos. Nossos movimentos ficam mais econômicos, a quantidade de partículas suspensas no ar que respiramos é menor, a pressão sanguínea do exercício é reduzida e o oxigênio pode atingir os músculos em funcionamento com mais eficiência.

Mas as evidências não são tão claras para outros tipos de exercícios, que necessitam de esforços curtos e abruptos, como o levantamento de peso. Este tipo de exercício precisa retirar energia de outras fontes além do oxigênio, como o açúcar (glicose) armazenado nos nossos músculos.

Mas estes processos metabólicos, que se esgotam durante os exercícios, ainda precisam de oxigênio para a recuperação. E respirações profundas pelo nariz nos intervalos dos exercícios podem ajudar a fazer com que este processo aconteça de forma ideal.

Todos estes pontos podem parecer incrivelmente positivos e motivadores, mas é preciso tomar cuidado com alguns pontos negativos.

Respirar apenas pelo nariz durante os exercícios, em grande parte, é um processo de aprendizado e não deve ser introduzido instantaneamente.

Se você iniciar este processo sem treinamento adequado, ele pode gerar "fome de ar" – uma pequena quantidade de dióxido de carbono é retida ao final de cada respiração, podendo causar desconforto e hiperventilação.

Como em qualquer processo, a prática leva à perfeição.

Ao aprender a respirar pelo nariz, certifique-se de não forçar a entrada do ar. Tente relaxar durante o processo. Verifique se a sua língua está no alto da boca, o que relaxa a mandíbula e os músculos do rosto, facilitando a respiração profunda pelo nariz.

Talvez você prefira alternar inicialmente, respirando pelo nariz e pela boca, até se acostumar a respirar apenas pelo nariz. Quanto mais você fizer isso, mais o processo irá se tornar inconsciente.

Respirar pelo nariz durante os exercícios pode ser muito eficiente. Só é preciso praticar bastante e dar ao corpo o tempo necessário para se ajustar, evitando prejuízos.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.

Este texto foi publicado aqui

Dan Gordon é professor de Fisiologia dos Exercícios Cardiorrespiratórios da Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido. Chloe French e Jonathan Melville são candidatos a PhD em Ciência dos Exercícios e Esportes da Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido

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