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Como a menopausa muda o cérebro e é associada à demência

Estudos apontam que o período pode estar relacionado ao declínio cognitivo

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Alisha Haridasani Gupta
The New York Times

Nos Estados Unidos, aproximadamente 6 milhões de adultos com 65 anos ou mais têm doença de Alzheimer. Quase dois terços deles são mulheres.

[No Brasil, pesquisadores estimam que 1,7 milhão de pessoas com 60 anos ou mais têm algum tipo de demência, e só a doença de Alzheimer corresponde a 55% desses casos. As estimativas apontam também mais mulheres do que homens vivendo com a condição no país.]

A discrepância entre homens e mulheres é atribuída há muito tempo à genética e à maior expectativa de vida das mulheres, entre outras razões. Mas há um consenso crescente de que a menopausa também pode ser um importante fator de risco para o desenvolvimento de demência em idade avançada da vida.

Ilustração
Sintomas da menopausa são associados à demência - Sonia Pulido/The New York Times

As mulheres que passam por essa fase da vida, que é definida clinicamente como o fim da fertilidade, enfrentam tantas mudanças no cérebro quanto nos ovários, diz Lisa Mosconi, neurocientista e diretora da Iniciativa Cerebral Feminina da Weill Cornell Medicine. Embora a grande maioria das mulheres supere essas mudanças sem consequências graves para a saúde, cerca de 20% desenvolverão demência nas décadas seguintes.

O cérebro feminino é rico em receptores de estrogênio, especialmente em regiões que controlam a memória, o humor, o sono e a temperatura corporal, todos os quais "funcionam maravilhosamente quando o estrogênio está alto e consistente", pontua Mosconi. O hormônio também é vital para a capacidade do cérebro de se defender contra o envelhecimento e danos.

A queda característica do estrogênio durante a menopausa não apenas altera o funcionamento de algumas regiões do cérebro, mas também pode mudar a estrutura do cérebro; exames mostram redução de volume em cérebros menopáusicos em comparação com órgãos masculinos da mesma idade e com os de mulheres que ainda não chegaram ao período.

Essas mudanças neurológicas podem ser responsáveis por alguns sintomas, incluindo ondas de calor, alterações de humor e um declínio leve, geralmente temporário, na memória e cognição.

Elas também se assemelham a mudanças no cérebro que precedem a demência, disse Mosconi. "Algumas das regiões cerebrais afetadas pela menopausa também são algumas das regiões afetadas pela doença de Alzheimer", dize ela, mas a ligação entre as duas ainda não é totalmente compreendida.

Os próprios sintomas da menopausa, como falta de sono e ondas de calor, também foram associados à demência.

Um estudo publicado no ano passado descobriu que as ondas de calor estavam associadas a um aumento na quantidade de pequenas lesões no cérebro, que são um sinal de declínio da saúde do órgão, afirma Pauline Maki, professora de psiquiatria e diretora do Programa de Pesquisa em Saúde Mental da Mulher na Universidade de Illinois em Chicago e coautora do estudo.

Um trabalho mais recente determinou que as ondas de calor durante o sono estavam associadas a um aumento nos biomarcadores de Alzheimer, que servem como indicadores precoces da doença.

Embora essa pesquisa pareça alarmante, a maioria dos cérebros e funções cognitivas das mulheres se estabiliza após a transição da menopausa, indica Maki. "Pense em quantas mulheres passam pela menopausa –todas as mulheres, certo? E 80% delas não terão demência", diz ela. "Não podemos catastrofizar essa transição universal."

Além disso, existem coisas que você pode fazer para fortalecer sua saúde e cognição diante da diminuição do estrogênio.

Três Passos para Proteger seu Cérebro

Vários estudos descobriram que até 40% dos casos de demência poderiam ser prevenidos, diz Jessica Caldwell, diretora do Centro de Prevenção do Movimento Alzheimer das Mulheres na Clínica Cleveland em Las Vegas. E algumas mudanças no estilo de vida na meia-idade, incluindo parar de fumar, reduzir o consumo de álcool, dormir melhor e permanecer mental e socialmente ativo, ajudam na prevenção.

Mas para mulheres na menopausa, especialistas dizem que três coisas em particular provavelmente terão o maior efeito, abordando tanto os sintomas de curto prazo quanto o risco de demência a longo prazo.

Faça terapia hormonal no momento certo. Por décadas, os pesquisadores estavam preocupados que a terapia hormonal usada para tratar os sintomas da menopausa estivesse associada a um aumento do risco de desenvolver demência em mulheres mais velhas. Mas estudos recentes, incluindo um publicado no mês passado que revisou os resultados de mais de 50 estudos, analisam mais de perto o momento em que a terapia é introduzida e sugerem uma imagem mais matizada: quando iniciada no momento em que os sintomas começaram foi associada a um risco reduzido de doença de Alzheimer e demência.

Outros estudos descobriram que a terapia hormonal não teve efeito sobre o risco de demência e Alzheimer, pontua Maki, mas esses tratamentos são eficazes no tratamento de ondas de calor e suores noturnos, bem como na melhoria da qualidade de vida, todos os quais são "determinantes importantes da saúde cerebral", diz ela.

Exercícios físicos devem ser regulares. A inatividade física apresenta um risco maior de doenças neurodegenerativas em mulheres do que em homens, afirma Caldwell.

"Sabemos que a inatividade física é um fator de risco para demência. E as mulheres ao longo de suas vidas, em média, têm o dobro de probabilidade de serem fisicamente inativas do que os homens", pontua ela.

Um estudo de 2018 que acompanhou quase 200 mulheres de meia-idade por 44 anos descobriu que quanto maior o nível de aptidão física no início do estudo, menor o risco de desenvolver demência mais tarde na vida. E Mosconi descobriu que exames cerebrais de mulheres de meia-idade fisicamente ativas tinham menos biomarcadores de Alzheimer em comparação com suas contrapartes sedentárias.

Mantenha uma dieta saudável. Nos últimos anos, os pesquisadores descobriram que certas dietas, como a dieta mediterrânea e a dieta Mind, que priorizam vegetais, frutas, grãos integrais, proteínas magras e gorduras saudáveis, estão associadas a um menor risco de demência tanto em homens quanto em mulheres.

A dieta mediterrânea em particular parece ser uma ferramenta protetora, mesmo para mulheres com risco genético de doença de Alzheimer, afirma Mosconi. E pode haver um benefício específico adicional dessas dietas ricas em plantas para as mulheres: pesquisas preliminares sugerem que certas bactérias intestinais –que são nutridas por uma dieta rica em plantas– podem ajudar a equilibrar os níveis de estrogênio no corpo.

Muitas dessas mudanças de estilo de vida levam um tempo que muitas mulheres de meia-idade sentem que não têm, afirma Caldwell.

"Espera-se que pela sociedade coloquemos nós mesmas depois de todos os outros, sejam filhos, pais ou cônjuges, mas precisamos nos manter na lista de prioridades", diz ela. "Porque se não tivermos esses comportamentos de manutenção da saúde, não teremos o envelhecimento cerebral saudável que desejamos."

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