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Licença-paternidade no Brasil é 'limitada' e rever prazo é 'mais urgente do que nunca', diz diretor da OIT

STF decidiu dar prazo para que o Congresso legisle sobre a questão após considerar que houve omissão do Legislativo

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BBC News Brasil

A licença-paternidade de cinco dias prevista no Brasil é uma regra "limitada" e a revisão desse prazo previsto na Constituição há 35 anos é "mais urgente do que nunca", na avaliação do diretor do escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para o Brasil, Vinicius Pinheiro.

"Comparada aos padrões internacionais, é uma regra muito limitada. As regras de licença-maternidade e paternidade hoje jogam as tarefas de cuidado sobretudo sobre as mulheres, geram um desequilíbrio em relação à distribuição das tarefas de cuidados", disse Pinheiro, em entrevista à BBC News Brasil.

A regra da licença-paternidade foi alvo de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (14). Os ministros estabeleceram um prazo para que os parlamentares analisem esse tema.

recém-nascido branco nos braços de uma pessoa branca
STF julga se deve estabelecer um prazo para que o Congresso analise licença-paternidade - Getty Images

Uma ação direta de inconstitucionalidade apresentada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS) argumentava que houve omissão do Congresso ao não ter feito uma lei sobre licença-paternidade, embora a Constituição preveja cinco dias de licença até que uma lei específica.

O plenário do STF decidiu dar um prazo de 18 meses para que o Congresso Nacional edite lei sobre a matéria.

Da forma como funciona hoje no Brasil, além do prazo geral de cinco dias para a licença-paternidade, as empresas filiadas ao Programa Empresa Cidadã concedem mais 15 dias, totalizando 20 dias de licença-paternidade - em troca, elas têm benefícios fiscais concedidos pela Receita Federal.

Para Vinicius Pinheiro, as mudanças que ocorreram na sociedade nos últimos 35 anos, "com a necessidade de uma participação maior da mulher no mercado de trabalho, pressionam por uma urgência ainda maior a necessidade de regulação desse tema".

"Vejo isso como mais urgente do que nunca e como mais relevante do que era na Constituição de 1988", disse.

Líder da OIT no Brasil, ele diz que a diferença de participação de mulheres (55%) e de homens (75%, segundo o IBGE) no mercado de trabalho brasileiro é, em grande parte, "explicada pela sobrecarga de trabalho relacionada à economia do cuidado".

Vinicius Pinheiro é um homem branco de barba, usa um paletó azul-marinho e uma gravata vermelha
Vinicius Pinheiro, da OIT: 'Regras de licença-maternidade e paternidade hoje jogam as tarefas de cuidado sobretudo sobre as mulheres' - Filipe Cardoso/OIT Brasil

Licença-paternidade no mundo: média de nove dias

A duração média de licença-paternidade no mundo é de nove dias, segundo levantamento da OIT. Ao mesmo tempo, a licença para mães tem uma média de 18 semanas.

Os dados, divulgados em 2022, mostram que 115 de 185 países oferecem direito à licença-paternidade. São quatro a cada 10 homens em idade reprodutiva vivendo em países com esse benefício. E apenas um em 10 homens que vivem em países com pelo menos 10 dias de licença.

Pinheiro diz que é observada no mundo uma "tendência de aumento" do prazo de licença para pais. De 2011 a 2021, 16 países com licença-paternidade aumentaram a duração, segundo o mesmo levantamento.

Chile, Zambia, Nicarágua, Timor Leste e Vietnã estão entre os países que aparecem no levantamento junto ao Brasil, ao prever 5 dias de licença-paternidade.

Pinheiro também destaca que, mesmo nos países com o benefício previsto, alguns ficam de fora, como trabalhadores autônomos. A OIT também aponta que um número crescente de países e empresas estão adotando medidas para promover os direitos das pessoas LGBTIQ+.

Nova regra de licença-paternidade?

Pinheiro menciona o prazo de 20 dias, hoje em vigor no Brasil para as empresas que aderiram ao Programa Empresa Cidadã, como base para a eventual discussão sobre um novo prazo de licença.

Ele sugere "começar com 20 dias e com uma perspectiva de aumentar gradualmente".

"Você não pode chegar do dia para noite e esperar que todo mundo vai estar pronto. Seria uma inserção gradual, com base no que já existe."

O desafio, diz ele, é encontrar uma forma equilibrada de financiar o benefício, entre o que seria obrigação da empresa e os financiamentos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), para que a licença-paternidade seja remunerada, como funciona hoje.

Quando o valor é inferior ao salário, isso "desencoraja" o uso da licença, diz Pinheiro.

"Esse sistema tem que ser desenhado de forma sustentável - sem onerar demasiadamente as empresas, de forma que possam absorver esse tipo de benefício e entender que é um estímulo à produtividade."

"Se você tem uma família bem estruturada, trabalhadores com bom equilíbrio pessoal e profissional, isso pode também ter um impacto positivo em aumento da produtividade, mas isso não é automático."

Ao defender a discussão sobre aumento da licença deve ser feita, Pinheiro destaca que o aumento do prazo "ajuda o maior equilíbrio das responsabilidades familiares e profissionais, não sobrecarregando tanto a mulher e fazendo com que haja divisão do trabalho".

"A mudança que tem que começar em casa - se você quer aumentar a participação da mulher no mercado de trabalho, é importante a presença masculina nas atividades domésticas", disse.

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