Descrição de chapéu câncer

Câncer de esôfago, como de Mujica, apresenta sintomas em estágio já avançado

No Brasil, neoplasia é a sexta mais comum entre homens e tem 80,65% de taxa de mortalidade nesse grupo

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Ribeirão Preto

O câncer de esôfago, que acomete o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, é um desafio para o diagnóstico precoce. De acordo com dados do Inca (Instituto Nacional de Câncer) do Ministério da Saúde do Brasil, a neoplasia costuma apresentar sintomas apenas quando já está em estágio avançado e é prevalente entre homens, que representam 74,6% dos casos.

O problema de Mujica foi diagnosticado em um exame de rotina e, segundo declaração do ex-chefe do Estado vizinho, o diagnóstico apontou um quadro "muito comprometido."

A situação de tratamento de Mujica é descrita por ele mesmo como "duplamente complexa", uma vez que ele possui há mais de 20 anos uma doença imunológica afetando, entre outras coisas, os rins. "O que cria dificuldades óbvias para técnicas de quimioterapia e uma cirurgia", afirmou.

O ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica - Daniel Ramalho/AFP

O World Cancer Research Fund International aponta que o câncer de esôfago é o 8º mais comum em todo o mundo, com cerca de 600 mil novos casos registrados em 2020, sendo o 7º câncer mais recorrente entre homens e o 13º, entre mulheres.

As estimativas de câncer de esôfago no Brasil, segundo o Inca, apontam para um panorama de 10.990 casos novos ao ano, sendo 8.200 em homens e 2.790 em mulheres. A mortalidade chega a 76,7% dos registros totais, sendo que, no grupo masculino, esse índice bate 80,65% dos casos (ou 6.614 mortes) ante 65% (1.816) dos casos femininos da doença.

O Inca também destaca que o câncer no órgão é a sexta neoplasia masculina mais comum no país e a 15ª entre mulheres.

Os sintomas na maior parte dos pacientes incluem dificuldade progressiva de engolir, fadiga, perda de peso e, em casos com grandes lesões, dor torácica. Também pode ocorrer anemia, tosse, rouquidão por envolvimento do nervo laríngeo e dispneia. O tratamento envolve participação de múltiplos especialistas e costuma ser conduzido com auxílio de cirurgia, radioterapia e quimioterapia.

O problema pode ser provocado em longo prazo por diversos fatores. Há indícios que o consumo frequente de bebidas muito quentes, em temperatura de 65ºC ou mais, como chimarrão, e de bebidas alcoólicas também podem influenciar.

Pode ser provocado ainda por excesso de gordura corporal (sobrepeso e obesidade), que facilita o desenvolvimento da doença do refluxo, fator de risco para o desenvolvimento desse tipo de câncer. Outras causas são o tabagismo (responsável sozinho por 25% dos casos dessa doença), contato com poeira e vapores industriais ou herbicida, histórico de neoplasias anteriores em cabeça, pescoço ou pulmão, infecção por HPV.

Estão vulneráveis também, de acordo com o Inca, aqueles que têm problemas pré-existentes como "tilose (espessamento da pele nas palmas das mãos e na planta dos pés), acalasia (falta de relaxamento do esfíncter entre o esôfago e o estômago), esôfago de Barrett (crescimento anormal de células do tipo colunar para dentro do esôfago), lesões cáusticas (queimaduras) no esôfago e Síndrome de Plummer-Vinson (deficiência de ferro)".

A médica Anelisa Coutinho, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), reforça que o tratamento do câncer de esôfago, assim como o da maioria dos tumores, depende do estágio em que a doença é encontrada.

Se o tumor for diagnosticado no estágio precoce, o tratamento pode ser feito, por exemplo, com a retirada do tumor via endoscópica ou por cirurgia, opção mais invasiva que corta parte do esôfago para retirar o tumor.

Em casos localmente avançados, geralmente, o recurso costuma ser o chamado trimodal, uma combinação entre radioterapia e quimioterapia, seguida de uma programação cirúrgica.

"Depois da cirurgia, analisamos alguns fatores e vemos se há necessidade de complementação de tratamento. A suplementação pode ser com imunoterapia e, a depender da histologia, até com quimioterapia", explica Coutinho.

Contudo, quando a doença já tem metástase, indicando um avanço muito significativo, a oncologista diz que a indicação precisa ser primariamente sistêmica, com a combinação de quimioterapia associada ou não à imunoterapia.

Em situações como a de Mujica, em que o paciente, além do câncer, tem outras deficiências, outras insuficiências de órgão ou até insuficiências imunológicas, a recomendação médica, segundo Coutinho, é buscar um tratamento que não venha somar em toxicidade renal para as doenças já previamente conhecidas.

A indicação, porém, deve ser sempre caso a caso. "A gente tenta organizar ao ponto de poder oferecer um tratamento para a infecção oncológica e tentar não incrementar as toxicidades de órgãos que já são sabidamente e previamente comprometidos", pondera a oncologista.

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