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Eu não quero ser lembrada como uma mulher exausta

Edição da newsletter Todas fala sobre sobrecarga de trabalho

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São Paulo

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Foi com essa frase que a psicóloga e autora inglesa Nicola Jane Hobbs começou um texto publicado em suas redes sociais.

"Eu não quero ser lembrada como uma mulher que estava sempre estressada, sempre ocupada, sempre com pressa, sempre segurando as pontas e superando dificuldades", continuou ela. "Eu gostaria de ser lembrada como uma mulher relaxada, uma mulher solidária, curiosa, alegre, uma mulher que ama o prazer. Uma mulher que trabalha duro e descansa profundamente."

Me identifiquei com o texto do começo ao fim. A soma do trabalho e cuidados com a casa e a família tem resultado em cansaço. Apesar de entusiasta dos encontros inesperados e de última hora, recuso convites em dias úteis para me preparar para o dia seguinte. No final de semana estou tão cansada que deixo de celebrar meus amigos e parceiro.

Mulheres estão sobrecarregadas e ansiosas - Adobe Stock

E eu realmente não quero ser lembrada como uma mulher exausta. Mas parece que nós, mulheres, estamos indo por esse caminho –é, ao menos, o que pesquisas nos indicam.

O relatório "Esgotadas", da ONG Think Olga, mostra que a sobrecarga de trabalho, dentro e fora de casa, a pressão financeira e os desafios de ser responsável pelo cuidado de alguém causam impacto na saúde mental das mulheres brasileiras.

O documento, apresentado pela repórter especial Fernanda Mena nesta reportagem, indica que 86% delas consideram ter uma alta carga de responsabilidades, e 48% dizem viver aperto financeiro.

Dentre as entrevistadas, 28% afirmam que são a única ou principal provedora do lar, enquanto 57% daquelas entre 36 e 55 anos são responsáveis por cuidar de alguém.


Há ainda um agravante: as brasileiras adoecem ainda mais do que a média global quando o assunto é saúde mental. Enquanto no mundo a prevalência de transtorno mental é de 13,3 mil por 100 mil habitantes, no Brasil esse número chega a 19 mil.

Por aqui, 45% das mulheres têm algum diagnóstico de transtorno e 6 em cada 10 têm ansiedade.

O trabalho aponta ainda que metade das brasileiras se sente ansiosa (55%) e estressada (49%). Outros sentimentos que consideram comum no dia a dia são a irritabilidade (39%), a fadiga (28%), a baixa autoestima (28%) e a sonolência (28%).

Estudos internacionais também indicam que a síndrome de burnout é 25% maior entre nós, relata Mena.

Conversei com a psicóloga especialista em terapia familiar e de casal Manuela Moura, mestre em psicologia do desenvolvimento, sobre o tema. Ela corrobora os resultados do estudo: o que tem deixado as mulheres cansadas são nossas jornadas, que combinam o trabalho doméstico, profissional e a responsabilidade do cuidado.

"O trabalho doméstico se acumula, é incessante, não tem fim. Então, mal se termina de fazer uma coisa, há algo novo a ser feito, somado com a criação dos filhos e ainda uma divisão sexista do trabalho", me disse ela.

Com isso, sobra pouquíssimo tempo para as mulheres cuidarem de si mesmas.

Como, então, descansar?

Ela sugere que a gente encontre ações que funcionam como alento.

"Por exemplo, para mim, Manuela, que te respondo a essa entrevista nesse momento, quando eu coloco meu filho para dormir, também depois de uma jornada tripla de trabalho, para mim é muito importante o momento de silêncio. Às vezes eu vejo um pedaço de uma série, às vezes eu leio um pedaço de um livro, às vezes eu boto dois dedos numa taça de vinho. Eu leio e aquele momento de silêncio ele não diminui a exaustão de um dia inteiro, mas ele tem para mim um função de alento."

Para ler na Folha

Mudando de assunto… Estreamos na semana passada a série Direitos Reprodutivos, que tem como o objetivo discutir os desafios acerca do tema no Brasil. A primeira reportagem, assinada por Geovana Oliveira, fala sobre os obstáculos que mulheres enfrentam mesmo quando precisam fazer um aborto legal. Humilhações, constrangimentos e recusas médicas são alguns deles.

Como parte da iniciativa Towards Equality, uma aliança que reúne a Folha e mais 15 veículos pelo mundo para apresentar desafios e soluções para alcançar igualdade de gênero, publicamos o texto do jornal afegão Hasht-e Subh sobre como cabeleireiras do Afeganistão estão trabalhando escondidas após o Talibã proibir salões de beleza.

Mulheres jovens e negras são as principais vítimas de violência de parceiros, segundo o IBGE. Neste texto, a repórter Isabella Menon fala sobre o levantamento que mostrou também que a taxa de homicídios dolosos de mulheres pretas ou pardas é superior se comparada às brancas. Clicando aqui você encontra formas de denunciar a violência contra mulher.

Também quero recomendar

Em clima de Oscar, indico o filme "Ficção Americana", que já chegou ao streaming e está disponível no catálogo da Prime Video. A obra, uma comédia que ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado, fala sobre um professor e escritor negro que enfrenta (e confronta) questões relacionadas à negritude ao publicar uma nova obra.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com três meses de assinatura digital grátis

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