Dar descarga com tampa aberta pode gerar nuvem de coronavírus, diz estudo

Gotículas podem ser inaladas pelo próximo usuário do toalete ou pousar nas superfícies

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Knvul Sheikh
The New York Times

Este é mais um comportamento do qual devemos estar hiperconscientes para evitar a transmissão do coronavírus: o que você faz depois que usa o vaso sanitário.

Cientistas descobriram que, além de eliminar qualquer coisa que você tenha deixado para trás, dar a descarga no vaso pode gerar uma nuvem de gotículas que se ergue por quase 1 metro. Essas gotículas podem ficar suspensas no ar por tempo suficiente para ser inaladas pelo próximo usuário do toalete ou pousar nas superfícies do mesmo.

Essa nuvem de banheiro não é apenas repugnante. Em simulações, ela pode carregar partículas infecciosas do coronavírus que já estão presentes no ar circundante ou foram descartadas recentemente nas fezes de uma pessoa. A pesquisa, publicada na terça-feira (16) na revista científica Physics of Fluids, traz mais evidências de que o coronavírus pode ser transmitido não só por gotículas da respiração mas também pelas fezes.

Ainda não se sabe se os banheiros públicos ou compartilhados são um ponto comum de transmissão de vírus, mas pesquisas salientam a necessidade de se repensar alguns dos espaços que as pessoas utilizam em comum durante a pandemia.

"Os aerossóis gerados pelo vaso sanitário são algo que já sabíamos, mas muitas pessoas não davam importância", disse Joshua Santarpia, professor de patologia e microbiologia na Universidade de Nebraska, que não participou da pesquisa. "Esse estudo acrescenta muitas evidências de que todo mundo precisava para cuidar melhor de seus atos."

Homem usa banheiro no Japão e usa lenço para limpar o celular - Reuters

Geralmente, o coronavírus fica mais à vontade em células dos pulmões e no aparelho respiratório superior. Mas estudos descobriram que ele também pode se acoplar a receptores celulares no intestino delgado.

Pesquisadores descobriram partículas viáveis de vírus em fezes de pacientes, assim como vestígios de RNA viral em vasos sanitários e pias nos quartos de isolamento em hospitais, embora experimentos em laboratório tenham sugerido que o material talvez seja menos infeccioso em comparação com os vírus que são expelidos por tosse.

Uma simulação em computador do mecanismo de descarga de um banheiro mostrou que, quando a água cai no vaso, produz um redemoinho que desloca ar no vaso. Esses redemoinhos se movem para cima, e a força centrífuga empurra para fora cerca de 6.000 gotículas e até partículas menores de aerossol.

Dependendo do tipo de vaso, a descarga pode forçar de 40% a 60% dos aerossóis produzidos muito acima do assento.

"É muito alarmante", disse Ji-Xiang Wang, que estuda dinâmica de fluidos na Universidade Yangzhou, na China, e foi coautor do estudo.

É praticamente impossível manter os banheiros limpos o tempo todo, e compartilhar um banheiro pode ser inevitável para pessoas da mesma família, mesmo quando uma delas está doente e isolada num quarto, disse Wang.

As partículas borrifadas podem permanecer em banheiros usados individualmente, e estes quase sempre são espaços mal ventilados, o que pode aumentar o risco de exposição à infecção. Os usuários também devem considerar os riscos de superfícies de alto contato, como maçanetas e torneiras.

Experiências com outros coronavírus mostram quão rapidamente a rota fecal-oral pode causar a disseminação de doenças. Em março de 2003, mais de 300 pessoas que viviam no conjunto de apartamentos Amoy Gardens, em Hong Kong, se infectaram com o coronavírus original da Sars porque aerossóis fecais infecciosos se espalharam pelos sistemas precários de encanamento e ventilação.

Wang admite que os cientistas ainda não examinaram os aerossóis de banheiro em situações reais envolvendo o novo coronavírus, mas outras pesquisas mostraram que o RNA viral foi encontrado em áreas comuns de banheiro em um hospital em Wuhan, na China.

Os pesquisadores não sabem ainda a quantidade de vírus infecciosos há nos aerossóis ou se os pacientes com casos mais graves de Covid-19 espalham mais vírus que os casos mais leves, disse ele.

Felizmente, as pessoas também podem evitar facilmente a disseminação de infecções pelos borrifos do banheiro.

"Feche a tampa antes de dar a descarga", disse Wang, reconhecendo que isso nem sempre é possível em banheiros públicos.

Você também deve lavar as mãos com frequência e cuidadosamente, sobretudo se estiver usando um banheiro compartilhado em que o vaso não tem tampa ou a descarga é acionada automaticamente quando a pessoa se levanta. Evite tocar seu rosto e permaneça com a máscara no banheiro, o que pode evitar em parte a exposição ao coronavírus.

Wang espera que a nova pesquisa ajude a produzir aperfeiçoamentos no projeto de banheiros, como maior atenção a dispensadores automáticos de sabão e papel toalha, e vasos que só deem a descarga depois de fechada a tampa.

Outros especialistas já pensam em luzes ultravioleta e sprays automáticos de desinfetante que podem matar o coronavírus e aliviar em parte a pressão de manter os banheiros públicos limpos.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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