Descrição de chapéu Coronavírus

No combate à Covid-19, boletim diário e completo é regra no mundo

Novo modelo do Brasil e os EUA são exceções; França e Itália detalham sexo e local de morte

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São Paulo, Bruxelas, Washington e Buenos Aires

Os boletins informando números de casos e óbitos pela Covid-19 no país sofreram mudanças por parte do Ministério da Saúde desde sexta-feira (5).

A pasta passou a não divulgar mais o número consolidado de casos da doença no país e total de óbitos. Agora, são informados o total de recuperados, novos casos e óbitos nas últimas 24 horas.

A nova medida vai na contramão do que preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS), afirma a epidemiologista e responsável pelo Serviço de Vigilância do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Ana Freitas Ribeiro.

Ribeiro acredita que a decisão do órgão de deixar de divulgar os dados consolidados representa um prejuízo para o país a nível internacional, uma vez que as notificações de casos e óbitos continuarão a serem feitas a nível municipal e estadual.

Para ela, preocupação é qual o motivo de excluir os dados consolidados, uma vez que esses dados ajudam na comparação e para calcular incidência de casos. “Se o governo quer mudar o horário ou a plataforma de divulgação, tudo bem, mas não divulgar o acumulado não tem sentido. Isso acarretará prejuízo. Falta transparência, temos uma caixa escura onde não podemos ver os dados.”

Outra especialista que vê com perplexidade a nova forma de divulgação é Maria Amélia Veras, epidemiologista e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Veras afirma que isso não pode ser chamado de metodologia pois não existe nenhum país no mundo que divulgue os dados dessa maneira. Ela receia que seja uma estratégia de ocultação dos dados.

“As autoridades não divulgando os casos consolidados é difícil saber o que está acontecendo. Isso não ajuda ninguém, pelo contrário.”

Ribeiro e Veras fazem parte do grupo Observatório Covid-19 BR, iniciativa independente de pesquisadores que visa a disseminação de informação qualificada sobre a doença. O painel consolida dados por estado e por município, além de apresentar cenários de evolução, índice de contágio e taxa de ocupação de leitos, entre outras.

Na Europa, os quatro países mais atingidos pelo coronavírus —Reino Unido, Espanha, Itália e França (em ordem decrescente de número de mortos)— publicam seus dados à tarde.

No Reino Unido, o primeiro-ministro e secretários de governo realizam entrevista coletiva diária entre 16h e 18h (horário local), na qual respondem a perguntas de jornalistas e, desde o mês passado, do público. Antes da entrevista são divulgadas planilhas com número de casos, pessoas hospitalizadas, doentes em UTI e número de mortes.

Há dados detalhados por região e ao longo do tempo. No caso das mortes, o governo calcula também a média dos sete dias anteriores.

Divulga ainda a taxa de contágio estimada (para quantas pessoas um infectado transmite o vírus, na média), o número de mortes estimado na semana, a evolução prevista e os números de testes feitos.

A Itália publica números na internet a partir das 15h. O governo divulga número de casos por sexo e idade, o local da infecção (casa, trabalho, escola etc.), taxas de contágio por região e distribuição regional, com a taxa por 100 mil habitantes em cada uma dela.

As mortes são divulgadas por faixa etária e por região no país, com séries históricas.

Na França, além dos dados sobre contaminados e mortos (separados entre os que morreram em hospitais ou em casa), o governo divulga no início da tarde o número de testes realizados e os resultados positivos por faixa etária.

No site, há mapas interativos detalhados onde se pode consultar a situação da epidemia em cada zona urbana (se estão na fase verde ou laranja, com respectivas regras de quarentena) e relação dos programas de assistência, com dados de concessões já feitas.

Na Espanha, um painel atualizado vespertinamente divulga dados da epidemia por região e por gravidade, mortalidade em geral e de pessoas com Covid-19 (com o cálculo das mortes em excesso) e dados estatísticos sobre a doença, como a taxa de contágio.

O governo espanhol está também fazendo um estudo nacional para detectar qual a porcentagem de pessoas que já tiveram contato com o coronavírus, e divulga resultados parciais.

Nos Estados Unidos, apesar de não serem feitos anúncios diários pela Casa Branca, outras plataformas como o jornal The New York Times e a Universidade Johns Hopkins atualizam diariamente os números de casos e mortes. O Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês), órgão do governo, atualiza números em seu site constantemente, sem boletins públicos.

Mesmo quando o presidente concedia entrevistas coletivas para falar sobre a pandemia todos os dias, esses dados não eram disponibilizados pelo governo.

Alguns governadores têm optado por divulgar dados diários, caso do democrata Andrew Cuomo, de Nova York.

Na Argentina, o governo mantém, desde o início da quarentena, entrevistas coletivas todas as manhãs, quando são apresentados os números de infectados e mortos pelo coronavírus nas últimas 24 horas. Devido à baixa quantidade de testes, contudo, vem sendo criticado, principalmente pela oposição, por não ter números confiáveis.

Desde meados de abril, porém, a curva de casos começou a subir, e o governo implementou o plano Detectar, cuja ação é ir de bairro em bairro para realizar testes rápidos e isolar pacientes.

Hoje, há disparidade grande entre números das províncias, onde os casos vêm diminuindo —há 10 províncias sem coronavírus há mais de um mês—, e os da capital federal e da Grande Buenos Aires, que aumentam. Buenos Aires concentra 95% dos casos no território.

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