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Com anticorpos para coronavírus, cacique Raoni é internado pela segunda vez em dois meses

Líder caiapó teve dor torácica que pode ser sequela de Covid-19

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Manaus

Pouco mais de um mês depois de receber alta médica após passar nove dias em um hospital de Mato Grosso devido a uma hemorragia digestiva, o cacique Raoni Metuktire, 90, voltou a ser internado nesta segunda-feira (31), em Sinop (MT), com complicações de saúde que podem ser uma consequência da Covid-19.

O cacique respira sem intervenções e o quadro dele é estável, mas inspira cuidados, pela idade.

Liderança caiapó na região do Xingu, Raoni apresentou dor torácica e foi internado após a constatação de alterações na taxa de leucócitos no sangue e sintomas de pneumonia. Exames específicos, tomografia computadorizada e sorologia confirmaram que o cacique teve Covid-19, segundo o Instituto Raoni.

"A equipe médica do Hospital Dois Pinheiros (em Sinop) confirmou que o cacique teve Covid-19 e que exames mostram a presença de anticorpos", informou o instituto, em nota divulgada nesta segunda (31).

Ainda segundo o instituto, os médicos informaram que a dor torácica relatada por Raoni pode ser indicativa de miocardite inflamatória, talvez relacionada ao coronavírus. O cacique deve permanecer no hospital e realizar novos exames.

No dia 26 de agosto, os caiapós perderam um dos três últimos grandes caciques tradicionais de seu povo para a Covid-19: o cacique Nikaiti Menkragnoti, que vivia na aldeia Kororoti, na TI Menkragnoti.

Esta é a segunda internação do cacique Raoni em dois meses. No dia 16 de julho ele foi levado para um hospital de Colíder, no Mato Grosso, com problemas de saúde que começaram a se agravar depois da morte de sua mulher, Bekwyjkà Metuktire, vítima de um AVC, em 23 de junho.

Dois dias depois, o cacique foi transferido para um hospital de Sinop, onde recebeu diagnóstico de úlceras intestinais e inflamação no cólon e chegou a passar por uma transfusão de sangue. Os exames para Covid-19, na época, deram negativo.

Raoni, que teve participação fundamental nos direitos indígenas conquistados na Constituinte de 1988, quando rodou o mundo com o músico Sting divulgando a luta indígena na Amazônia, pertence à geração contatada pelos irmãos Villas-Bôas, sertanistas que defendiam as populações indígenas nas décadas de 1940 a 1950 —cerca de uma década antes da criação do Parque Nacional do Xingu.

Recentemente, o cacique caiapó se encontrou com personalidades como o papa Francisco, no Vaticano, e com o presidente da França, Emmanuel Macron, em Paris, em maio do ano passado, pedindo ajuda para financiar a proteção da Amazônia durante o governo Bolsonaro, que acusou o indígena de estar sendo usado por governos internacionais com interesses na Amazônia.

As lideranças da Terra Indígena (TI) Capote/Jarina, onde vive o cacique Raoni, denunciam o avanço de invasores sobre seus territórios, que vem contribuindo para o avanço da Covid-19 entre os indígenas.

No dia 24 de agosto, uma barreira sanitária, construída pelos próprios indígenas para manter o isolamento social nas aldeias, foi destruída por homens armados que, depois de dispararem 29 vezes contra a barreira, invadiram a TI e seguiram até a aldeia Piaraçu, expondo a riscos como a Covid-19 os 327 caiapós que vivem na aldeia. Ninguém ficou ferido.

De lá, seguiram para a cidade de São José do Xingu, segundo informações do Instituto Raoni.

Os indígenas acionaram a Polícia Militar e um boletim de ocorrência foi registrado. O caso está sendo investigado, mas ninguém foi preso. A reportagem acionou a Funai sobre medidas adotadas para a proteção dos territórios indígenas de invasores durante a pandemia, mas não obteve resposta até a conclusão deste texto.

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