Descrição de chapéu Coronavírus

Para especialistas, ignorar a ciência e falta de liderança são os maiores erros da pandemia de Covid-19

Consequência foi a falha da comunicação e confusão sobre os riscos e formas de se prevenir da doença

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São Paulo

A Folha perguntou a especialistas: qual foi o pior erro do país na condução da pandemia?

Ignorar a ciência e a falta de uma liderança no país foram as respostas mais comuns e que contribuíram para que o país atingisse, nesta quinta-feira (7), a triste marca 200 mil mortes pela Covid-19 em um cenário de crescimento e descontrole da crise sanitária, afirmam médicos e pesquisadores.

Sepultadores carregam caixão com vítima da Covid-19 no cemitério Sao Luiz, na zona sul de São Paulo - Lalo de Almeida/Folhapress

Veja as respostas abaixo.

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"O maior erro do país na condução da pandemia foi não acreditar na ciência. Podemos ver em diversos momentos. O ministro [Luiz Henrique] Mandetta saiu do ministério porque tinha aquela história do ficar em casa, manter o distanciamento e o presidente não concordava. O ministro [Nelson] Teich saiu do ministério porque ele não assinou a recomendação do uso da cloroquina, sem evidência. E agora temos outro momento bastante delicado. Existe todo o investimento e planejamento para a vacina e o presidente descreditando a vacina. O presidente não segue as recomendações científicas."
Julio Croda, infectologista da Fiocruz

"Desprezar a ciência. Não ter uma única voz, um comando único que valorize a ciência."
Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

"Subestimar o tamanho da tragédia. A subestimação do problema revela um desconhecimento técnico do que seja uma epidemia e uma negação absolutamente imperdoável."
Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fiocruz

Montagem com sapatos de pessoas mortas pela Covid no Brasil - Arquivo Pessoal

"Bolsonaro. Os maiores erros do governo federal foram minimizar a pandemia e apostar em curas milagrosas. E o maior erro da população foi nunca ter levado as medidas preventivas realmente a sério."
Natália Pasternak, doutora em microbiologia pela USP e presidente do Instituto Questão de Ciência

"Foi ter um presidente da República empenhado em defender medidas e atitudes que promovem a disseminação da epidemia."
Drauzio Varella, médico e colunista da Folha

"Foi a fato do governo federal não implementar no país as medidas sanitárias básicas de controle da transmissão, como testagem e rastreamento de contatos, distanciamento e uso de máscaras."
Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin, organização sem fins lucrativos voltada à democratização das vacinas

"As ações assumidas em São Paulo e outros estados se mostraram efetivas. Se seguíssemos o proposto pelo governo federal, no caso Manaus, hoje estaríamos com mais de um milhão de mortes. Os estados não tiveram sucesso maior pelo boicote aberto do governo federal e pela demora na liberação do auxílio emergencial. Alguns estados e cidades foram hábeis no atendimento hospitalar. Porém, sucumbiram à pressão econômica, mas principalmente do calendário eleitoral, que motivou flexibilização precoce e inadequada."
Paulo Lotufo, epidemiologista da USP

"A falta de mensagens claras e convergentes nos níveis federal, estadual e municipal, com base em evidências científicas, veiculadas em rádio, TV, redes sociais sobre como se proteger de infecções pelo coronavírus e como evitar transmitir a Covid-19 para outros."
Anderson Brito, virologista formado pela USP e com doutorado pelo Imperial College

"Penso que dois erros foram cruciais para que chegássemos à situação atual: a falta de sincronia nas informações das autoridades federais, estaduais e municipais, associada à politização do problema. Essa combinação deixou a população perdida, sem saber em quem confiar e sem foco no combate ao vírus.
Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas e consultor da SBI.

"O maior erro do Brasil foi a falta de liderança e coesão social para a tomada de decisão rápida e agressiva na implementação de medidas não farmacologicas de controle de transmissao interpessoal."
Márcio Bittencourt, mestre em saúde publica pela Universidade Harvard e médico do Hospital Universitário da USP.

"Demoramos para reconhecer que as máscaras têm papel fundamental. Alguns países asiásticos adotaram mais precocemente. A segunda coisa é a testagem. Demoramos para comprar e conseguir testes. No começo da pandemia mandamos muitos casos suspeitos para casa sem testagem e essas pessoas não se isolavam de maneira adequada, não rastreávamos quem teve contato com elas. Se tivéssemos testes para os suspeitos, se tivéssemos os isolado, testado os contactantes, teríamos talvez a limitação da circulação do vírus. E, por fim, a comunicação. Muito negacionismo em relação à doença. Informações anticientíficas dizendo que drogas funcionariam, preveniriam, tratariam. E agora a comunicação sobre as vacinas."
Renato Kfouri, pediatra e presidente do departamento de imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria)

"O maior erro da condução da pandemia no país foi a interferência político-partidária na ciência!"
Rosana Richtmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas e membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia)

"Pior erro foi confundir economia com saúde. Saúde vem antes e o isolamento social com proteção dos pobres salvaria vidas e evitaria tantas mortes desnecessárias."
Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista e professor de saúde pública da USP

"Demorou a fechar as fronteiras, guerra de narrativas (para mim esse continua sendo o pior) dentro do próprio governo, que culminou nas trocas de ministros e o negacionismo —principalmente que levou a um enorme tempo perdido com medicamentos sem comprovação científica. Foram erros consecutivos e o pior é que ainda permanecermos neles, comprometendo a estratégia de vacinação."
Ethel Maciel, enfermeira, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo

"O maior erro foi não ter dado a devida importância para o que estava acontecendo. O Brasil não foi acometido no primeiro momento. Mas tínhamos certeza que ia chegar. Sabendo o que estava acontecedo lá fora e sabendo da importância que estava tendo, não nos preparamos adequadamente. Isso poderia ter feito a gente comprar reagentes mais cedo, mobilizar os laboratórios públicos numa escala maior. Outro erro foi não procurar soluções alternativas aos testes, por exemplo orientação de isolamente social, uso de máscara, que também não fizemos. E isso foi culpa das autoridades, especialmente das autoridades federais."
Celso Granato, virologista, professor da Unifesp e diretor clínico do Grupo Fleury

"Mudar o Ministro da Saude que tinha um plano e equipe tecnica organizada para responder à epidemia."
Ester Sabino, epidemiologista e pesquisadora do Departamento de Moléstias Infecciosas e do Instituto de Medicina Tropical da USP

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