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Entenda o que fazer se o seu filho cometer um ato racista

Para especialistas, casos não devem ser tratados como algo isolado, e responsabilidade não deve ficar só com a escola

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São Paulo

Na última semana, o caso de racismo sofrido por uma das filhas da atriz Samara Felippo levantou um debate nas redes sociais. A menina, de 14 anos, sofreu ofensas racistas de duas outras alunas no colégio Vera Cruz, na zona oeste de São Paulo. A atriz, uma mulher branca, diz que sempre falou sobre o assunto com as filhas. Mas e quando são os pais de filhos que cometeram o ato racista? Especialistas falam sobre como construir um debate dentro das famílias quando situações como essa ocorrem.

O primeiro ponto, segundo psicólogos ouvidos pela Folha, é não tratar como um caso isolado, uma situação única e esporádica. "É importante pensar como o racismo é tratado dentro dessas famílias ou desse grupo de cuidadores", diz Ana Albuquerque, psicóloga especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho e sócia-fundadora do Canto Baobá - Espaço especializado em Saúde Mental e diversidade.

Para ela, é preciso fazer questionamentos. "O racismo é debatido com profundidade, como uma violência estrutural, que todas as pessoas têm responsabilidade sobre isso, ou está sendo colocado como algo irreal, chamando de forma errada como bullying, ou dizendo que foi uma brincadeira?"

A atriz Samara Felippo durante entrevista ao Fantástico sobre caso de racismo sofrido pela filha em escola
A atriz Samara Felippo durante entrevista ao Fantástico sobre caso de racismo sofrido pela filha em escola - Reprodução

A responsabilidade não é só da escola

O caso da filha de Samara Felippo, que aconteceu em uma escola, joga grande parte da responsabilidade sobre a instituição. O coordenador de ensino fundamental do colégio, Daniel Helene, afirmou que se a instituição confirmar que as alunas são reincidentes em episódios racistas, elas seriam expulsas. Esse, inclusive, é o desejo da atriz, manifestado durante entrevista ao Fantástico.

No entanto, para o psicólogo Douglas Felix, o peso não deve ser revisto dentro das famílias. "Não é uma grade curricular da escola", diz. "O racismo foi, entre aspas, se normalizando de tantos jeitos e tantos aspectos que, quando chega nas famílias, ainda não tem essa base para poder conversar de forma mais educativa e não punitiva com essas crianças e adolescentes."

Para os psicólogos, a punição não é o melhor caminho. "Ela acaba sendo uma medida extremamente rasa, porque ela não aprofunda o contexto, não traz educação, conscientização e responsabilidade", diz Albuquerque. A medida acaba sendo imediatista e sem continuidade.

"Se a gente não ensina essa responsabilidade social, com a vida do outro, essas formas punitivas só vão criando atitudes mais violentas dentro da sociedade", diz Felix.

É por isso que a psicóloga Maiara Pontes, que se especializa em Clínica Fenomenológica das Infâncias, Adolescências e Família, pelo Nucafe, afirma que o jovem deveria ser orientado, e não simplesmente mudado de escola. "Assim a criança não aprende porque ela simplesmente sai do lugar onde ela mesma cometeu algo errado contra uma colega e machucando essa colega", diz.

Ela aponta que a adolescência é um período de incertezas e mudanças e que, por isso, o adolescente se vê diante de várias influências. "A orientação e o exemplo dos pais ou responsáveis sempre será a mais eficaz atitude a ser tomada", diz Pontes.

Contextos e representatividade são importantes

Uma vez que os casos de racismo não são isolados, é preciso refletir sobre como essas atitudes surgem. "O racismo não é só aquilo que é escrito ou falado abertamente, mas ele acontece de outras formas. Muitos aspectos influenciam, não só a família ou a escola, é todo o cotidiano", diz Felix.

Para o psicólogo, a falta de representatividade na comunidade escolar, de pessoas negras ocupando cargos de professores, coordenação e direção, pode impactar negativamente. "Tudo isso influencia na forma que a gente vai vendo, nessa reprodução que muitas crianças e jovens vão aprender a ser racistas."

Os especialistas são unânimes em dizer que ações devem ser feitas todos os dias, e não de forma pontual, como no mês de novembro ou, por exemplo, em junho com a população LGBTQIA+. "Se a violência estrutural atravessa a gente de toda forma, como falar dessas questões uma vez por ano ou quando uma situação específica acontece?", questiona Albuquerque. "Esse assunto é algo rotineiro, do dia a dia, de todas as pessoas se comunicarem, é da família, da escola com os alunos presentes nesses debates."

A psicóloga também fala sobre usar os termos corretos quando precisarem ser ditos. Ou seja, dizer sempre que isso foi racismo, que essa pessoa é uma pessoa negra, que isso foi homofobia. "É não ter medo de usar as palavras certas."

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