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Anvisa mantém orientação de uso da Pfizer em adolescentes e contraria governo Bolsonaro

Ministério da Saúde mudou regra para jovens sem comorbidades e pegou gestores de surpresa

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Brasília

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) manteve orientação de uso da Pfizer em adolescentes sem comorbidades, apesar de o Ministério da Saúde ter divulgado nota em que retira esses jovens do público-alvo da vacinação.

O Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e o Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) haviam pedido posicionamento da Anvisa sobre a questão. Isso porque, em junho, a agência havia autorizado o uso do imunizante da Pfizer para todos os brasileiros a partir dos 12 anos.

Adolescente de manga arregaçada espera enfermeira aplicar vacina contra Covid
São Paulo começou a aplicar vacina em adolescentes antes do cronograma federal - Rivaldo Gomes/Folhapress

Os dois conselhos também não recomendaram suspender a vacinação destes grupos, como pediu o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

A SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) também se posicionou contrariamente à ação do ministério. Segundo a entidade, as justificativas dadas para retirar adolescentes sem comorbidades do público-alvo da vacinação não são claras ou não têm sustentação, além de gerarem receio na população e abrirem espaço para fake news.

O texto em que o Ministério da Saúde promove a mudança afirma que a OMS (Organização Mundial da Saúde) não orienta a imunização de crianças e adolescentes. A SBIm aponta que a afirmação está errada e que o Sage (grupo consultivo estratégico de especialistas em imunização da OMS) considera que as vacinas de mRNA, como a da Pfizer/BioNTech, são adequadas para uso em pessoas com mais de 12 anos.

"Não há evidências científicas que embasem a decisão de interromper a vacinação de adolescentes, com ou sem comorbidades. A SBIm, portanto, entende que o processo deve ser retomado, de acordo com o que já foi avaliado, liberado e indicado pela Anvisa", afirma a SBIm.

Em entrevista coletiva, ele atribuiu o recuo a dúvidas sobre a segurança na imunização destes jovens e criticou estados que já começaram a imunizar os menores de 18 anos.

Um dos motivos do ministério para suspender a vacinação em adolescentes sem comorbidades seria a morte de uma adolescente de 16 anos, moradora de São Bernardo do Campo (SP). O caso foi notificado na quarta-feira (15).

No entanto, a agência disse que a morte está sendo investigada e, no momento, não há uma relação causal definida entre este caso e a administração da vacina. Os dados ainda são preliminares e necessitam de aprofundamento.

“A Anvisa já iniciou avaliação e a comunicação com outras autoridades públicas e adotará todas as ações necessárias para a rápida conclusão da investigação. Entretanto, com os dados disponíveis até o momento, não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações nas condições aprovadas para a vacina.”

Segundo a SBIm, a incidência de eventos adversos graves, como miocardite, é extremamente baixa e menos do que o associado à Covid.

A agência disse ainda que vai estabelecer contato com as sociedades científicas para intensificar a identificação precoce dos casos de eventos adversos graves pós-vacinação de adolescentes. Além disso, afirmou que realizará uma reunião com a Pfizer e com os responsáveis pela investigação do caso no estado e no Cievs (Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde).

“Os dados gerados com o avançar do processo vacinal em larga escala são cuidadosamente analisados em conjunto como outras autoridades de saúde. Até o momento, os achados apontam para a manutenção da relação benefício versus o risco para todas as vacinas, ou seja, os benefícios da vacinação excedem significativamente os seus potenciais riscos”, completou.

Secretários disseram à Folha que não foram consultados e que a mudança não passou pela Câmara Técnica do PNI (Programa Nacional de Imunizações).

Os conselhos também afirmam que a vacinação dos adolescentes cumpre papel importante na estratégia de controle da pandemia.

A mudança de posição da Saúde sobre a imunização de adolescentes sem comorbidade foi feita horas após o ministro Marcelo Queiroga afirmar que há vacina em excesso no Brasil.

"Há excesso de vacina, na realidade, o Brasil já distribuiu 260 milhões de doses, 210 milhões já aplicadas", disse o ministro na quarta-feira (15), sem explicar por que há unidades da Federação sem doses disponíveis para seguir o calendário vacinal.

A declaração foi dada durante um evento de entrega de novo lote de vacinas da Pfizer que foram enviadas aos estados. Questionado sobre os problemas enfrentados em algumas regiões do país, ele negou que haja problema de entrega da AstraZeneca.

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