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Mais de 8 milhões não puderam fazer teste de Covid no último mês, aponta Datafolha

Ausência de testagem no país amplia a subnotificação da doença e dificulta controle da pandemia

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São Paulo

Em meio à explosão de casos de Covid no país, 8,1 milhões de brasileiros dizem que não conseguiram encontrar testes para a doença em farmácias ou unidades de saúde nos últimos 30 dias, aponta pesquisa do Datafolha.

O levantamento foi feito por telefone nos dias 12 e 13 de janeiro, com 2.023 pessoas de 16 anos ou mais em todos os estados do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Do total de entrevistados, 3% afirmam ter tido Covid no último mês, o que representa 4 milhões de brasileiros. Entre os 97% que relataram não ter contraído a doença, 5%, o que representa 8,1 milhões de pessoas, disseram não ter conseguido encontrar o teste disponível.

Profissional de saúde recolhe amostra de mulher para teste de Covid-19 no Rio, no dia 12 deste mês - Lucas Landau/Reuters

O país corre risco de desabastecimento de testes de Covid no momento em que há projeção de uma escalada de casos, com estimativas de que o Brasil possa chegar a ter 1,3 milhão de infecções por dia. O temor já levou a Abramed (Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica) a recomendar aos laboratórios que priorizem a testagem em pacientes com sintomas mais graves.

Levantamento feito pela Folha já havia mostrado que, mesmo em farmácias, há fila de espera de até cinco dias para a testagem.

A falta de testes faz com que o país tenha um apagão de dados sobre a Covid, o que impede saber o tamanho da onda de contaminações impulsionada pela variante ômicron atualmente.

Com alto poder de transmissão a variante já provocou aumento de casos, internações e óbitos em diversos países. O que também está sendo observado no Brasil, ainda que sem dados precisos.

Dados do consórcio de imprensa desta sexta-feira (14), coletados com as secretarias estaduais de Saúde, mostram que o Brasil registrou 110.037 casos de Covid em 24 horas, o terceiro maior valor já computado em toda a pandemia. A média móvel de mortes, que até então estava em estabilidade, teve aumento de 42% e chegou a 138 óbitos por dia.

Especialistas alertam que a subnotificação das infecções coloca o país em risco de colapso no atendimento de saúde, já que, sem saber a velocidade do avanço da transmissão, não são adotadas medidas de restrição ou planejamento para lidar com o aumento de casos.

Segundo boletim divulgado na última semana pela Fiocruz, ao menos um terço dos estados já está em alerta crítico ou intermediário para a ocupação de leitos públicos de UTI para a Covid.

A indisponibilidade de testes já atinge as redes públicas e privadas do país, o que tem levado até mesmo pessoas com sintomas a desistir do diagnóstico. Foi o que aconteceu com a publicitária Ulhiana Oliveira, 26.

Ela começou a apresentar tosse, dor no corpo, garganta inflamada e coriza na segunda (10) e iniciou uma saga para realizar o exame. Ela encontrou uma vaga em um laboratório. No entanto, no dia do exame, recebeu uma mensagem informando a suspensão do teste.

"Desisti e vou continuar em casa até o décimo dia [da doença]", diz ela, que mora com o namorado, que também não conseguiu o exame. "Não fizemos o teste por causa desse caos todo."

A dona de casa Roberta Costabile, 48, também desistiu de ser testada e até mesmo de receber atendimento médico. Ela, que mora em Atibaia, no interior de São Paulo, procurou um hospital da cidade depois de ter febre e dor de garganta.

Além da espera, que poderia durar até cinco horas, informaram que só fariam testes em casos com sintomas mais graves, como falta de ar. "Eu realmente desisti", afirma.

​Costabile tentou ir a laboratórios para fazer exames, mas a espera estava muito grande. "Resolvi ficar em casa e aguardar em isolamento. É melhor prevenir e evitar contaminar os outros caso seja Covid ou influenza", diz ela, que completa que na sua casa todos estão vacinados. "Agora, estou no aguardo para vacinar minha caçula, de nove anos."

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