Menstruação pode atrasar após vacinação contra Covid, sugere estudo

Mulheres começaram a alertar que seus ciclos menstruais ficaram irregulares depois de receberem o imunizante

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Roni Caryn Rabin
The New York Times

Pouco após a chegada das vacinas contra o coronavírus, há cerca de um ano, mulheres começaram a alertar que seus ciclos menstruais ficaram irregulares depois de receberem a vacina.

Algumas disseram que sua menstruação atrasou. Outras relataram ter tido sangramento mais intenso que o usual ou sangramento doloroso. Algumas mulheres na pós-menopausa, que não menstruavam havia anos, informaram que haviam voltado a sangrar.

Imagem close mostra uma mão com luvas segurando uma seringa. Ao fundo, há uma placa na parede escrito: vacinas
Mulheres começaram a alertar que seus ciclos menstruais ficaram irregulares depois de receberem a vacina - Eduardo Anizelli - 11.nov.2021/ Folhapress

Um estudo publicado na quinta-feira (6) descobriu que, de fato, os ciclos menstruais de mulheres mudaram depois da vacinação contra o coronavírus. Segundo os autores do estudo, as mulheres inoculadas tiveram ciclos menstruais um pouco mais longos depois de receberem a vacina, comparadas com mulheres não vacinadas.

A menstruação atrasou em média um dia para chegar, mas não durou mais que o normal. E o efeito foi passageiro; a duração dos ciclos voltou ao normal após um ou dois meses. Por exemplo, uma mulher com ciclo menstrual de 28 dias que começa com sete dias de sangramento ainda começava o ciclo com sete dias de sangramento, mas o ciclo todo durava 29 dias. O ciclo menstrual termina quando começa a menstruação seguinte. Um dois ou meses após a vacinação, o ciclo voltava aos 28 dias habituais.

O atraso foi mais pronunciado em mulheres que receberam as duas doses da vacina no mesmo ciclo menstrual: no caso delas, a menstruação começou dois dias após o prazo normal, segundo os cientistas.

Publicado no periódico Obstetrics & Gynecology, o estudo é um dos primeiros a fundamentar relatos empíricos de mulheres dizendo que seus ciclos menstruais haviam mudado depois de elas serem vacinadas, disse o Dr. Hugh Taylor, diretor do departamento de obstetrícia, ginecologia e ciências reprodutivas da Escola Yale de Medicina.

"O estudo fundamenta a ideia de que há algo de real acontecendo", disse Taylor, que ouviu relatos de suas próprias pacientes sobre ciclos irregulares.

Mas ele destacou que as modificações constatadas no estudo não foram significativas e que parecem ser transitórias.

"Queremos dissuadir as pessoas de acreditar nos mitos falsos que circulam aí fora sobre efeitos sobre a fertilidade", disse Taylor. "Um ou dois ciclos em que a menstruação difere um pouco do habitual podem ser irritantes, mas não vão prejudicar ninguém de maneira médica."

Mas ele transmitiu uma mensagem diferente a mulheres na pós-menopausa que apresentam sangramento vaginal, mesmo leve, após serem vacinadas ou não, avisando que elas podem ter uma condição médica séria e precisam passar por avaliação médica.

Uma desvantagem séria do estudo, que enfocou mulheres residentes nos Estados Unidos, é que a amostra não foi nacionalmente representativa e não pôde ser generalizada para a população como um todo.

Os dados foram fornecidos por uma companhia chamada Natural Cycles que produz um aplicativo que acompanha a fertilidade. Suas usuárias são em média mais brancas e com nível de instrução superior, comparadas à população como um todo. Além disso, são mais magras que a média das mulheres americanas (o peso corporal pode afetar a menstruação) e não usam contraceptivos hormonais.

Os resultados do estudo devem ser tranquilizadores para as mulheres em idade fértil, disse a Dra. Diana Bianchi, diretora do Instituto Nacional Eunice Kennedy Shriver de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano (NICHD). O Escritório de Pesquisas sobre Saúde da Mulher, dos Institutos Nacionais de Saúde, e o NICHD ajudaram a financiar o estudo, além de pesquisas relacionadas promovidas pela Boston University, a Harvard Medical School, a universidade Johns Hopkins e a Michigan State University.

"Seus médicos podem dizer: ‘Se você tiver um dia a mais de sangramento, isso é normal, não algo para se preocupar’", disse Bianchi.

O estudo foi realizado por pesquisadores da Oregon Health & Science University e da Warren Alpert Medical School da Brown University, em cooperação com pesquisadores da Natural Cycles, cujo aplicativo é usado por milhões de mulheres em todo o mundo.

Dados não identificados de usuárias que concordaram que suas informações fossem incorporadas à pesquisa ofereceram grande volume de evidências de como os ciclos menstruais de mulheres mudaram durante a pandemia.

Os pesquisadores analisaram as informações de quase 4.000 mulheres que monitoraram sua menstruação cuidadosamente em tempo real, incluindo 2.400 mulheres vacinadas contra o coronavírus e cerca de 1.550 não vacinadas. Todas eram residentes nos Estados Unidos, na faixa dos 18 aos 45 anos, e monitoraram suas menstruações por pelo menos seis meses.

No caso das mulheres vacinadas, os pesquisadores examinaram os três ciclos anteriores e os três posteriores à vacina para flagrar alterações, comparando as informações com outras, também colhidas ao longo de seis meses, de mulheres não vacinadas.

Ao todo, a vacinação foi vinculada a menos de um dia completo de alteração na duração do ciclo menstrual após cada uma das duas doses de vacina, em comparação com os ciclos anteriores à vacinação. O grupo não vacinado não apresentou alterações significativas ao longo dos seis meses.

Estudos futuros usando o banco de dados vão examinar outros aspectos da menstruação, por exemplo se os sangramentos foram mais pesados ou dolorosos após a vacinação.

As descobertas do novo estudo talvez não se apliquem igualmente a todas as mulheres. De fato, segundo a Dra. Alison Edelman, professora de ginecologia e obstetrícia na Oregon Health & Science University e autora principal do estudo, boa parte das alterações na duração do ciclo ocorreu num grupinho de 380 mulheres vacinadas que apresentaram uma alteração de pelo menos dois dias em seus ciclos.

Algumas das mulheres vacinadas tiveram ciclos que duraram oito dias mais que o normal, algo que é considerado clinicamente significativo, disse Edelman.

"Embora a duração do ciclo diferisse em média menos de um dia do nível normal, isso pode ser importante para a mulher individual, dependendo de seu ponto de vista e seu caso", ela destacou. "A mulher pode estar esperando uma gravidez, pode estar preocupada com a possibilidade de uma gravidez, pode estar usando calças brancas."

Não está claro por que o ciclo menstrual pode ser afetado pela vacinação, mas a maioria das mulheres com menstruação normal ocasionalmente tem um ciclo incomum ou uma menstruação que não acontece. Hormônios liberados pelo hipotálamo, a glândula pituitária e os ovários regulam o ciclo menstrual e podem ser afetados por fatores ambientais, fatores de estresse e mudanças na vida.

Os autores disseram que as mudanças observadas no estudo não foram causadas por condições ligadas à pandemia, dado que as mulheres do grupo não vacinado também estavam vivendo na pandemia.

Tradução Clara Allain.

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