Descrição de chapéu Coronavírus

Infectados pela 1ª vez com Covid relatam frustração após mais de 2 anos da pandemia

Brasil enfrenta alta de casos onde mesmo aqueles que conseguiram se esquivar do vírus se infectaram

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A recente alta de casos da Covid-19 no Brasil atingiu mesmo aqueles que tinham certeza de que passariam ilesos pela pandemia, sem contrair o coronavírus.

Enquanto alguns relatam um sentimento de frustração por ter recebido o diagnóstico positivo para a doença, outros parecem mais conformados e dizem que é quase inevitável que alguém consiga se manter invicto.

A estudante Jessica Wu, 20, afirma que manteve o uso de álcool gel e máscara, mesmo quando o item se tornou opcional. Mas nada adiantou e ela foi diagnosticada com Covid nesta semana.

Ilustração com 4 pessoas usando máscara no lado esquerdo da imagem; uma pessoa com cabelo azul curto e camisa polo rosa; uma pessoa com cabelo castanho preso vestindo camisa branca e avental escuro; uma pessoa com cabelo longo e volumoso azul vestindo blazer rosa e camisa lilás; uma pessoa com cabelo curto rosa vestindo camisa de manga longa azul e bolsa transversal marrom. No lado direito, há uma lousa '864 dias sem Covid', na qual o '864' está riscado e está escrito 'zero' do lado. O fundo é rosa.
Catarina Pignato

Durante o período mais rigoroso da pandemia, ela não costumava sair de casa. As exceções eram os momentos em que precisava ir a supermercado, farmácia, faculdade e trabalho.

"Quando as coisas começaram a voltar, eu estava muito preocupada", afirma ela. "Só voltei a sair neste ano. Mas, daí, voltei a me acostumar [com a vida presencial]."

A estudante geralmente perguntava a amigos, antes de encontrá-los, se tinham algum sintoma de gripe. Mas esqueceu esse ritual antes de visitar uma amiga na semana passada. Quando chegou, ela estava com sintomas gripais e, depois disso, Wu também começou a apresentá-los. Teve dor de cabeça, enjoo, coriza, tosse, fraqueza e falta de apetite.

Mesmo triste com o resultado positivo, ela tenta olhar pelo lado positivo: "São dez dias descansando, eu estava muito estressada com a rotina e veio na hora certa".

Estudante de ciência biológica, Alice Vieira, 22, compartilha da decepção. "Fiquei revolta. Pensei: 'não é possível’. Desde o início da pandemia, fiquei muito tempo em casa. Agora, quando tudo tá voltando, eu vou lá e pego."

Moradora de Belo Horizonte, Vieira diz estar com um certo trauma da doença. "É muito ruim. É uma dor totalmente diferente, parece uma gripe, mas é muito forte. Estou um pouco receosa para sair de novo, dá um pouco de medo."

Ela, que tem asma, relata que sentiu sintomas muito fortes. "Mesmo vacinada com as três doses, eu passei muito mal. Tive febre, falta de ar, tontura e dores no corpo. Fiquei assustada." Para ela, o quatro poderia ter sido pior caso não estivesse imunizada.

Psicóloga, Anna Karolyne Vilar, 24, afirma que ninguém acredita quando ela conta que está com Covid-19 pela primeira vez. "Dizem que eu devo ter tido, mas fui assintomática."

"Achei que passaria ilesa", diz ela, que vive na cidade rondoniense de Ouro Preto do Oeste. Assim que a quarentena passar, deve retomar ao uso de máscara.

Vilar trabalha em uma escola com cerca de 600 alunos, dos quais apenas 20% estariam com o esquema vacinal completo, estima ela. "Acho que uma hora todo mundo vai pegar. É inevitável."

A frustração da estudante de engenharia civil Milena Moura, 24, tem nome: jogos universitários. "Imaginei que os casos iam estourar depois do feriado, mas começou antes", diz a moradora de Goiânia.

Depois de dois anos sem o evento, ela estava ansiosa pelo retorno. Agora, a expectativa é se curar a tempo do feriado de Corpus Christi, para quando está marcado o último fim de semana dos jogos.

Apesar dos jovens ouvidos pela reportagem afirmarem que estão com as três doses completas, eles compõe a faixa etária que apresenta um gargalo no reforço vacinal no país.

Levantamento recente realizado pela Folha apontou que apenas um terço dos jovens de 18 a 29 anos tomou a terceira dose (33%). Especialistas analisam que pode ter havido um julgamento errado de que a variante ômicron, por provocar casos mais leves em pessoas já vacinadas, era como uma gripezinha.

Porém, a imunidade conferida por infecção natural não é a mesma conferida por vacinas, que protegem contra casos graves. Especialistas alertam ainda que, mesmo depois de dois anos e com boa parte da população imunizada, é preciso manter a quarentena quando infectado pela Covid.

A recomendação do Ministério da Saúde é de isolamento de 7 sete a 10 dias para quem apresenta sintomas e de 5 a 7 dias para quem não apresenta.

Para a pessoa que estiver sintomática, são pelo menos sete dias de isolamento. Passado esse período, ela precisa ser submetida ao teste de Covid. Caso o resultado seja negativo, poderá sair do isolamento. Mas, se for positivo, deverá manter o isolamento até o décimo dia.

A pessoa que estiver assintomática deve ficar em casa no mínimo cinco dias em isolamento. Após esse tempo, ela deve ser testada. Se o resultado do teste for positivo, deve continuar em isolamento até o décimo dia.

André Ricardo Ribas Freitas, professor de epidemiologia da Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic, afirma que é preciso que o médico seja procurado caso a pessoa tenha algum sintoma respiratório, como falta de ar. "É preciso o diagnóstico e que o isolamento seja feito de forma adequada."

Para Freitas, o Brasil deveria seguir os passos de países asiáticos que adotam o uso de máscara no transporte público em períodos de gripe e de temperaturas baixas. "Mesmo que não seja obrigatório, as pessoas deveriam manter o uso de máscara em lugares fechados."

O lado ruim do isolamento, segundo o criador de conteúdo Ricardo Barros, 40, é perder oportunidades de trabalho —ele diz que não pôde comparecer a ao menos dois eventos profissionais nesta semana.

"Sete dias de molho é prejuízo. Eu me cuidei bastante para não pegar, mas a gente sabe que está sujeito e sabia que em algum momento isso poderia acontecer", lamenta ele.

​Quando a quarentena acabar, ele deve continuar evitando lugares lotados. "Quando eu sair, vou reforçar o uso da máscara e álcool gel."


AS ORIENTAÇÕES DO MINISTÉRIO DA SAÚDE

Isolamento de 5 dias

  • Casos sem sintomas: ao quinto dia, se o paciente estiver sem sintomas respiratórios, sem febre e sem uso de medicamentos antitérmicos, por ao menos 24 horas, precisa ser testado para deixar o isolamento
  • Testagem: deve ser feita no quinto dia com RT-PCR ou teste de antígeno
  • Se o resultado for negativo: a pessoa pode sair do isolamento, mas deve manter recomendações adicionais até o décimo dia (leia ao final da lista)
  • Se o resultado for positivo: é necessário manter o isolamento até dez dias completos

Isolamento de 7 dias

  • Casos sem sintomas: ao sétimo dia, se o caso estiver sem sintomas respiratórios, sem febre e sem uso de medicamentos antitérmicos, por ao menos 24 horas, o isolamento pode ser encerrado
  • Testagem: não é necessária para sair do isolamento nessas condições, segundo a nova orientação da Saúde
  • Como funciona o fim do isolamento: quem sai da quarentena após sete dias completos ainda precisa, porém, manter alguns cuidados até o décimo dia (leia ao final)

Isolamento de 7 dias

  • Casos com sintomas: as pessoas que tiveram a forma sintomática da Covid, mas que não apresentarem no sétimo dia sintomas respiratórios, febre e não tiverem necessidade de fazer o uso de medicamentos antitérmicos, por ao menos 24 horas, podem fazer teste para tentar deixar o isolamento
  • Testagem: os testes devem ser do tipo RT-PCR ou de antígeno
  • Se o resultado for negativo: o paciente pode sair do isolamento
  • Se o resultado for positivo: é necessário manter o isolamento até o décimo dia

Isolamento de 10 dias

  • Casos com e sem sintomas: ao décimo dia, se estiver sem sintomas respiratórios, sem febre e sem uso de medicamentos antitérmicos, por ao menos 24 horas, está encerrado o isolamento
  • Testagem: não é necessário testar para sair do isolamento

Recomendações que devem ser seguidas até o décimo dia

  • Evitar contato com pessoas com comorbidades

  • Evitar aglomerações

  • Evitar viagens

  • Manter cuidados não farmacológicos, como higienização das mãos e uso de máscara

Fonte: Ministério da Saúde

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.