Saúde estuda compra de vacina contra varíola dos macacos e busca amostra do vírus

Ministro diz à Folha que profissionais da saúde que lidam com casos suspeitos podem ser imunizados

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou à Folha nesta quarta-feira (1º) que o governo estuda a compra da vacina que pode prevenir a contaminação pela varíola dos macacos.

A aquisição, ainda em avaliação, pode ser feita para grupos específicos, como profissionais de saúde que lidam diretamente com infectados ou vivem em regiões de fronteira.

"Primeiro tem de circunscrever qual é o público. Não são [todos] os profissionais de saúde de maneira geral", afirmou. "A princípio, [serão] aqueles que estão lidando com esses casos, aqueles que vivem em regiões de fronteira… Estamos, junto com as autoridades sanitárias mundiais, buscando qual é o nicho em que se deve aplicar", disse.

Amostra de multiplicação de vírus para vacina contra a varíola em laboratório na Alemanha, vista por microscópio - Lukas Barth - 24.mai.2022/Reuters

"Estamos com a Opas [Organização Pan-Americana da Saúde] buscando contatos para ter a vacina", complementou.

O Brasil ainda não tem casos confirmados da doença. São monitorados três suspeitos, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Ceará.

Segundo Queiroga, a situação é de "monitoramento" —mas não de "preocupação".

"Não é algo que seja grave. Naturalmente, [entre] os mais vulneráveis, crianças pequenas, idosos, pode ter uma repercussão. Estamos monitorando", afirmou.

O Ministério da Saúde também quer obter uma amostra do vírus para usar como referência em testes laboratoriais. No termo técnico, essa amostra serviria de "controle positivo".

A expectativa é de que o material chegue ao Brasil até o fim da semana, também via Opas.

Segundo o ministro, três laboratórios brasileiros estão aptos a fazer o diagnóstico da doença: a Funed (Fundação Ezequiel Dias), em Minas Gerais, a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e o Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo.

O Ministério da Saúde tem evitado o termo "varíola dos macacos" por receio de que, com a eventual chegada da doença ao Brasil, a população comece a matar os animais.

O ministro, assim como sua equipe, têm usado o nome em inglês —"monkeypox".

Apesar do nome da doença, são os roedores (como esquilos) os principais suspeitos de serem os reservatórios do vírus.

Segundo a epidemiologista e professora da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) Ethel Maciel, existem duas vacinas capazes de proteger contra a varíola dos macacos: uma específica para a doença e a vacina contra a varíola humana, que foi usada no passado.

O Ministério da Saúde criou uma sala de situação para acompanhar o avanço da doença, e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações reuniu especialistas em um grupo consultivo.

Os principais sinais e sintomas da varíola são febre, erupções na pele e aumento dos gânglios linfáticos (adenomegalia).

Apesar da resistência do presidente Jair Bolsonaro às máscaras de proteção durante a pandemia de Covid-19, os informes do Ministério da Saúde sugerem que as pessoas usem o instrumento também no caso da varíola. Além disso, que lavem as mãos com frequência.

Duas amostras de casos suspeitos de varíola dos macacos passam por testes em laboratório do Hospital La Paz, em Madri (ESP)
Duas amostras de casos suspeitos de varíola dos macacos passam por testes em laboratório do Hospital La Paz, em Madri (ESP) - Susana Vera/Reuters

Mesmo sem registro no país, o surgimento de novos casos de varíola dos macacos no mundo tem feito os brasileiros irem atrás da vacina. Com a erradicação da doença, o imunizante parou de ser aplicado no Brasil em 1979.

Em um levantamento feito pela Abcvac (Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas) a pedido da Folha, 73% dos associados responderam que aumentou a procura pelo imunizante.

O último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde sobre a doença indica que 435 casos já foram confirmados em 24 países, e 27 estão em investigação.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.