Descrição de chapéu aborto

Fotos mostram que não há embrião visível até 9 semanas de gravidez

Grupo divulgou imagens a fim de combater a desinformação sobre aborto

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Lisboa

Para tentar combater a desinformação relacionada ao aborto, um grupo de profissionais de saúde e ativistas pelos direitos reprodutivos dos Estados Unidos decidiu divulgar imagens reais do desenvolvimento dos tecidos dentro do útero durante as primeiras nove semanas de gravidez. As fotos revelam que, até esse estágio, não há embrião visível ou qualquer coisa que se pareça com um feto.

Responsáveis pela iniciativa chamam a atenção para o fato de que muitas das imagens de evolução gestacional em circulação foram produzidas por grupos contrários à interrupção da gravidez.

Uma das fundadoras da MYA Network, rede responsável pela divulgação do conteúdo, a médica Joan Fleischman afirma que muitas de suas pacientes se surpreendem ao ver, no consultório, a verdadeira aparência do material que foi coletado no aborto.

Material gestacional coletado com nove semanas de gravidez aparentando pedaços de algodão
Como o material gestacional realmente se parece com nove semanas de gravidez - MYA Network

"Fui motivada pelas minhas pacientes a criar esse projeto. Algumas vezes, elas escolhiam ver os tecidos da gravidez no meu consultório. Elas se sentiam aliviadas, surpresas e até enganadas pelo fato de que [o material] não se assemelha a nada do que elas viram na internet", diz a especialista em medicina familiar, em vídeo no site da campanha.

"Vendo a reação que elas tinham eu percebi que era importante deixar essas imagens disponíveis publicamente. Eu acredito que as imagens falam por si mesmas", completa Fleischman, que há 25 anos trabalha com abortos.

O conteúdo apresentado pelo grupo foi retirado em interrupções de gestações em estágios iniciais. Os profissionais usam um dispositivo de aspiração manual, que consegue recuperar os delicados tecidos. O procedimento dura aproximadamente cinco minutos no consultório.

Antes de ser exibido em discos de Petri, o material coletado foi "enxaguado" e teve vestígios de sangue e revestimento menstrual removidos. As fotos mostram o chamado saco gestacional, que é o precursor do saco amniótico, e a decídua, um tecido gestacional.

Em uma gestação de cinco semanas, o tecido coletado tinha cinco milímetros. Os especialistas detalham que o saco gestacional cresce, em média, cerca de um milímetro por dia. Na imagem do material coletado na nona semana de gravidez, não é possível ver o embrião nascente, embora ele já possa estar em estágio de formação.

"Nós lavamos o sangue e removemos o revestimento menstrual na preparação para essas fotos. O que você vê nelas é o saco gestacional sozinho. Quem toma pílulas abortivas em casa ou tem um aborto espontâneo verá algo diferente. A maioria dessas pessoas experimentará um fluxo menstrual intenso, que pode incluir coágulos sanguíneos de tamanhos variados e, por isso pode ser difícil ver o tecido da gravidez, a menos que você o procure propositalmente. Se você estiver grávida de mais de nove semanas e optar por olhar, poderá ver um embrião precoce", descreve a iniciativa.

Os profissionais também chamam a atenção para a desinformação sobre os sons que são produzidos nos estágios iniciais da gestação.

"Não existe ‘coração’ com seis semanas de gravidez, mas existem células que se unirão para formar o coração, e essas células já ‘batem’. Este é o movimento que é visto no ultrassom e que as pessoas chamam de ‘batimento cardíaco’, mas novamente ainda não há um coração formado", detalha o projeto.

No site da iniciativa, é possível ainda ouvir depoimentos reais de pessoas que passaram por procedimentos de interrupção de gravidez e tiveram a chance de ver os tecidos retirados do útero. A maioria descreve sensação de surpresa e alívio.

Não existe ‘coração’ com seis semanas de gravidez, mas existem células que se unirão para formar o coração, e essas células já ‘batem’. Este é o movimento que é visto no ultrassom e que as pessoas chamam de ‘batimento cardíaco’, mas novamente ainda não há um coração formado

MYA Network

rede responsável pela divulgação do conteúdo

Uma das pacientes revela que tinha conflitos religiosos com a interrupção da gravidez e diz que ter a oportunidade de ver os tecidos foi fundamental para acabar com o medo e a culpa.

Na internet, a busca por imagens de desenvolvimento gestacional e de abortos costuma trazer imagens de fetos completamente desenvolvidos e bebês mutilados e ensanguentados. Fotos muitas vezes sem referência de fonte, idade gestacional ou escala de tamanho, que são frequentemente produzidas e usadas em material de campanhas contra a interrupção voluntária da gravidez.

Por outro lado, fotos reais e bem documentadas do material coletado em abortos nos estágios iniciais da gravidez são bem mais difíceis de encontrar. Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, a médica Michele Gomez, que também faz parte da MYA Network, avaliou que ainda há alguma resistência entre certos profissionais.

"Acho que alguns médicos estão preocupados com as reações dos pacientes. Mas não é realmente nosso direito ou nossa responsabilidade decidir como as pessoas responderão a isso. Estamos apenas divulgando as informações e os fatos para combater a desinformação. Para dizer: isso não é algo assustador, perigoso ou violento. É apenas uma imagem de algo que está em seu corpo."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.