Fila do SUS tem mais de 1 milhão de procedimentos represados por causa da Covid

Levantamento da Fiocruz leva em conta atendimentos clínicos, cirurgias e exames em hospitais

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Brasília

O Brasil tem ao menos 1,1 milhão de procedimentos hospitalares represados por causa da Covid-19, segundo estudo realizado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). O levantamento leva em conta atendimentos clínicos, cirurgias e exames em hospitais.

Cirurgias do aparelho digestivo, da parede abdominal e de seus órgãos anexos, do sistema urinário, cardiovascular, vias aéreas, face, cabeça e pescoço lideram a lista.

O estudo foi realizado considerando a média de atendimentos, cirurgias e exames realizados entre 2014 e 2019 e os observados entre 2020 a maio de 2022, período em que há dados disponíveis e consolidados no SUS (Sistema Único de Saúde).

Profissionais de saúde atendem paciente no Hospital Municipal Moyses Deutsch (M' Boi Mirim), na zona sul de São Paulo, no primeiro ano da pandemia - Lalo de Almeida - 2.jun.20/Folhapress

A fila do SUS tem sido um dos temas trabalhados pelo grupo de trabalho da saúde no governo de transição, que deve sugerir propostas no relatório final para tentar zerá-la.

Diego Xavier, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz e um dos responsáveis pelo levantamento, ressalta que as informações podem ser bem maiores que as divulgados porque o estudo considerou dados hospitalares —não foram incluídos serviços ambulatoriais, por exemplo.

Xavier diz que os tratamentos "represados" somados à continuidade do tratamento de síndromes pós-Covid trazem desafios adicionais ao SUS.

"A consequência dessa fila é ter doenças não tratadas em tempo hábil, podendo levar a complicações do quadro de saúde", destacou.

Um exemplo, segundo ele, é a queda dos atendimentos por glaucoma e catarata que seriam cirurgias eletivas e que, realizadas no momento oportuno, evitariam o agravamento da situação.

"A doença quando não cuidada pode trazer a longo prazo impactos maiores e indiretos como a cegueira."

O estudo revela ainda que as regiões do país apresentam represamentos diferentes. No Nordeste e no Norte há um déficit, por exemplo, de consultas e de atendimentos, o que não ocorreu no restante do país. Em todas elas, os números de procedimentos cirúrgicos não se recuperaram.

Xavier explica que a diferença pode ocorrer por diversos motivos, como perfil demográfico e epidemiológico da população, estrutura do serviço e disponibilidade de especialidades.

O diagnóstico indica ainda que o represamento dos atendimentos no SUS deve ter influenciado nos óbitos da Covid-19. O quadro de desassistência em saúde não se limitou a agravos ligados diretamente à doença.

"O indicador de excesso de mortalidade que dá uma dimensão mais real dos óbitos diretos e indiretos pela doença destaca que nos períodos em que ocorreu o maior volume de óbitos pela doença também foi o período com o maior volume de óbitos por outras causas", afirma Xavier.

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