Máscaras reduzem contágio por Covid nas escolas, mostra estudo

Para comparação, dois distritos escolares de Boston (EUA) mantiveram o uso de máscaras depois que a obrigatoriedade foi suspensa em outros

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Roni Caryn Rabin
The New York Times

As máscaras têm sido um ponto de discussão cultural desde o início da pandemia, e a obrigatoriedade de seu uso nas escolas é especialmente incendiária. Os críticos argumentam que não há evidências fortes para provar que as máscaras retardam a propagação da Covid-19 e que, em todo caso, as crianças não estavam usando os tipos certos de máscaras ou não as usavam adequadamente.

Agora, uma pesquisa detalha um chamado "experimento natural" que ocorreu quando todos os distritos escolares, exceto dois, na área da grande Boston (nordeste dos EUA), suspenderam a exigência de máscaras na primavera. Os pesquisadores aproveitaram a oportunidade para fazer uma comparação direta da disseminação da Covid-19 em escolas com e sem máscaras.

Conclusão: o uso de máscaras foi associado a um número significativamente reduzido de casos de Covid-19 nas escolas.

Escola em Bridgeport, Boston, onde a contaminação por Covid-19 foi menor devido ao uso de máscaras em sala de aula
Escola em Boston onde a contaminação por Covid-19 foi menor devido ao uso de máscaras em sala de aula - Christopher Capozziello - 23.fev.22/The New York Times

As taxas de infecção foram mais baixas entre os alunos mascarados –mesmo nas escolas públicas de Boston, onde muitos prédios são antigos e não têm bons sistemas de ventilação, as salas de aula são lotadas e os alunos com frequência pertencem a comunidades de risco– do que entre os alunos sem máscaras que frequentam escolas mais novas em comunidades como Cambridge e Newton.

O estudo, feito por cientistas da Escola de Saúde Pública T.H. Chan de Harvard e do Hospital Geral de Massachusetts, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston e da Comissão de Saúde Pública de Boston, foi publicado na quarta-feira (9) no The New England Journal of Medicine.

Os dados devem ajudar a dissipar a desinformação sobre a eficácia dos requisitos de uso geral de máscaras para conter a transmissão viral nas escolas, disse Julia Raifman, professora assistente da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston e autora de um editorial que acompanha o novo estudo.

"Ainda recentemente, neste verão, as pessoas diziam: 'Ah, a Covid não se espalha nas escolas', e havia um equívoco de que as crianças não pegam Covid", disse Raifman, que não participou da nova pesquisa. "Mas o que vemos no estudo é que a Covid se espalha nas escolas, se espalha na volta para casa e se espalha para os professores."

O estudo não especificou os tipos de máscaras usados pelas crianças, sugerindo que qualquer tipo era pelo menos um pouco protetor, acrescentou.

"Este estudo mostra que, se as pessoas estiverem usando máscaras como um grupo, isso diminui a transmissão para toda a população e reduz as faltas escolares e de professores", disse Raifman.

Mesmo depois que os Centros de Controle e Prevenção de Doenças suspenderam a exigência de máscaras nas escolas, no ano passado, muitos estados mantiveram a obrigatoriedade. Massachusetts, juntamente com outros 18 estados e Washington, DC, mantiveram o uso de máscaras em escolas públicas no início do ano letivo de 2021-22, mas cancelou a política em fevereiro.

Até então, as tendências da incidência de Covid-19 eram semelhantes nos distritos escolares da área metropolitana de Boston. Depois de suspender a obrigação de usar máscaras, o estado exigiu que os distritos continuassem relatando todos os casos de Covid-19 entre estudantes e funcionários, e forneceu financiamento e serviços de apoio para testes.

Os pesquisadores envolvidos no estudo usaram esses dados para rastrear casos de Covid-19 a cada semana em 72 distritos escolares, comparando os dois que mantiveram as máscaras durante 15 semanas –Boston e Chelsea– com outros 70 que suspenderam esse requisito em momentos diferentes.

A suspensão do uso obrigatório de máscaras foi associada a 44,9 casos adicionais de Covid-19 por 1.000 alunos e funcionários, correspondendo a uma estimativa de 11.901 casos durante o período de 15 semanas, concluíram os cientistas.

"Vimos taxas sustentadas e aumentadas de incidência de Covid consistentemente em escolas que suspenderam a exigência de máscara", disse Tori L. Cowger, primeira autora do estudo e pós-doutoranda na Escola de Saúde Pública de Harvard.

Em 12 semanas do período de 15 semanas, "observamos um aumento da incidência que foi estatisticamente significativo", acrescentou.

Mas apenas 1 em cada 3 casos de Covid-19 em escolas onde a obrigatoriedade de usar máscara foi suspensa pôde ser atribuído à mudança na política; 4 em cada 10 casos entre os funcionários foram atribuíveis à mudança de política, disse ela.

Como as pesso as que deram positivo foram instruídas a se isolarem durante pelo menos cinco dias, os casos adicionais levaram a pelo menos 17.500 dias letivos perdidos para alunos e 6.500 dias letivos perdidos para funcionários, calculou o estudo.

Os opositores do uso de máscaras nas escolas criticaram os dados sobre sua eficácia, mas também levantaram outras preocupações.

As máscaras podem causar problemas de comunicação e atrasos no desenvolvimento da fala, podem ser particularmente onerosas para crianças com dificuldades de aprendizagem e dificultam a leitura ou a comunicação de expressões emocionais, disseram os críticos.

E muitos adultos, assim como crianças, acham as máscaras muito desconfortáveis, especialmente quando usadas durante todo o dia escolar.

A doutora Tracy Beth Hoeg, pesquisadora de saúde pública e crítica feroz das máscaras nas escolas, observou que o novo estudo é observacional, e não um ensaio clínico randomizado e controlado. Assim sendo, disse ela, pode apontar uma correlação, mas não provar uma relação causal entre o mascaramento obrigatório e uma menor incidência de Covid-19.

Shira Doron, médica de doenças infecciosas do Centro Médico Tufts, em Boston, que criticou a obrigatoriedade do uso de máscaras nas escolas no passado, disse que o novo estudo é apenas uma publicação e que a literatura médica sobre o uso obrigatório de máscaras nas escolas é mista.

As escolas não abandonaram as políticas de máscaras porque eram ineficazes em conter a transmissão viral, disse Doron, mas porque poderiam levar a outras complicações.

"Crianças com dificuldades de aprendizado de idiomas estão tendo problemas para entender seus professores e colegas", disse Doron. "As crianças com dificuldades de fala estão tendo problemas para serem compreendidas a ponto de se retraírem. Crianças e funcionários com dificuldades auditivas estão tendo problemas para se comunicar e entender uns aos outros."

Ela acrescentou: "Mesmo os professores que optaram por continuar usando máscara preferem que não haja uma obrigação, para que não precisem lidar com a disciplina o dia todo".

Mas um grupo de pais de Boston, o BPS Families for Covid Safety, já pediu o restabelecimento do uso universal de máscaras nas escolas, dizendo que o novo estudo dá evidências de que a prática protege contra doenças e dias perdidos de aprendizado em um distrito onde as taxas de vacinação são relativamente baixas e as famílias vêm de comunidades que sofreram de forma desproporcional durante a pandemia.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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