Risco de internação por vírus que causa a bronquiolite é 16 vezes maior em prematuros

Vírus sincicial respiratório é altamente contagioso e pode provocar epidemias sazonais

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São Paulo

O risco de hospitalização por vírus sincicial respiratório (VSR) em bebês prematuros, nascidos com até 32 semanas, é 16 vezes maior do que em bebês nascidos a termo.

Nos bebês que nasceram com 37 semanas ou mais de gestação, a incidência de hospitalização é de 1% a 2%; em casos de bebês prematuros, essa taxa fica entre 8% e 25%.

O risco de mortalidade também é elevado para bebês prematuros: de 1% a 4%. Para bebês nascidos no período normal de gestação, a mortalidade é de 0,1%.

Principal agente causador de bronquiolite em bebês de até um ano, o vírus sincicial respiratório é altamente contagioso e pode provocar epidemias sazonais de doenças respiratórias em crianças.

Na foto, mãe segura o bebê que está internado em enfermaria com bronquiolite causada por vírus sincicial respiratório, no hospital Sabará Infantil, em São Paulo
O vírus sincicial respiratório é um dos principais agentes causadores de hospitalizações por bronquiolite em bebês de até um ano - Rubens Cavallari - 11.dez.22/Folhapress

Os dados são da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e foram apresentados nesta terça (11) no evento "Prevenção ao VSR: muito além de um detalhe", organizado pela farmacêutica AstraZeneca para jornalistas. Estiveram presentes no evento o infectologista e presidente da SBP, Renato Kfouri, Denise Leão Suguitani, diretora executiva da ONG Prematuridade, e Rafaela Brites, apresentadora e mãe de um bebê que teve internação por VSR nos três primeiros meses de vida.

O VSR tem transmissão similar a outros vírus respiratórios, como o influenza, pelo ar, tosse ou por superfícies. A infecção por VSR ocorre em mais da metade dos casos de bronquiolite (70%) nos primeiros seis meses de vida, sendo 5 em cada 10 nos três primeiros meses.

Em bebês prematuros, o risco de ter uma bronquiolite como consequência da infecção é de 60%, enquanto os demais bebês têm 30% de chance de desenvolver o quadro em até um ano.

Isto é devido ao chamado momento da primainfecção, ou a primeira vez que a criança tem contato com o vírus. Em bebês de até 11 meses, o risco de adoecimento grave é maior, e ele aumenta nos bebês prematuros. A idade é um fator de proteção, uma vez que as reinfecções que ocorrem ao longo da vida costumam ser mais leves —em adultos, uma infecção por VSR é praticamente assintomática.

Com a pandemia, houve uma mudança na estação de circulação de outros vírus, e muitas crianças podem se infectar em idade mais tardia. Além disso, a hospitalização em decorrência de complicações da infecção em prematuros com até um ano de idade chega a ser três vezes maior: 63,86 internações por mil bebês (contra 20,01 hospitalizações a cada mil).

Para Renato Kfouri, uma forma de prevenir infecções graves e hospitalizações é por meio do uso do anticorpo monoclonal palivizumabe, disponível no SUS para bebês considerados de maior risco.

"O palivizumabe foi o primeiro anticorpo monoclonal disponível para a prevenção de uma doença infecciosa viral, há 20 anos, mas ainda hoje temos barreiras no amplo acesso", diz o infectologista.

Atualmente, a oferta do palivizumabe na rede pública é restrita a bebês de até um ano que nasceram com 28 semanas ou menos ou que apresentam cardiopatias graves ou doenças pulmonares. No sistema de saúde suplementar, há oferta também do remédio para crianças com 29 a 32 semanas.

"A SBP faz uma tentativa de diálogo com base nos estudos científicos que mostram benefícios do uso do anticorpo em bebês de até seis meses que nasceram com 29 a 32 semanas para tentar ampliar o acesso também na rede pública", afirma Kfouri.

A prematuridade hoje atinge cerca de 12% de todos os nascidos vivos no país, segundo dados do Ministério da Saúde. Os bebês prematuros têm maior risco de mortalidade até os cinco anos por várias doenças, não apenas o VSR.

É por esse motivo que a ONG Prematuridade busca difundir informações e ampliar o conhecimento sobre o vírus e as possíveis complicações de sua infecção. "É fundamental fazer diversas campanhas voltadas para grupos específicos, como pais, médicos, professores e responsáveis, para que cada um seja tocado com a informação", afirma Suguitani.

Além do anticorpo monoclonal, a prevenção do VSR consiste em medidas não farmacológicas, como manter a boa higiene das mãos, evitar o contato com pessoas que apresentem sintomas gripais e usar máscaras na presença de bebês até um ano de idade caso tenha sintomas.

Estudos buscam hoje o desenvolvimento de uma vacina que seja capaz de prevenir a infecção por VSR em bebês de até um ano através da vacinação das gestantes, por meio da transferência de anticorpos no leite materno, e de uma vacina atenuada para a aplicação em crianças de 2 a 5 anos, considerando ainda a carga do vírus nas hospitalizações pelo VSR.

De acordo com o boletim InfoGripe divulgado no último dia 4, com dados até o dia 25 de março, houve um aumento de internações por Srag (síndrome respiratória aguda grave) em crianças menores de quatro anos em 15 estados no país na última semana epidemiológica.

"Estamos já vendo uma franca ascensão do VSR no primeiro trimestre de 2023 em comparação com o mesmo período de 2022, e será possivelmente a pior temporada de VSR desde 2019", completa Kfouri.

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