Descrição de chapéu The New York Times LGBTQIA+

Estudo mostra maior risco de suicídio para pessoas transgênero

Com quatro décadas de dados de saúde da Dinamarca, pesquisa oferece a imagem mais clara, até agora, do risco de suicídio entre pessoas trans

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Azeen Ghorayshi
The New York Times

As pessoas trans na Dinamarca têm um risco significativamente maior de cometer suicídio do que outros grupos, segundo uma análise exaustiva de registros legais e de saúde de quase 7 milhões de pessoas nas últimas quatro décadas. O estudo é o primeiro no mundo a analisar dados nacionais de suicídio desse grupo.

As pessoas trans no país nórdico tiveram 7,7 vezes mais tentativas de suicídio e 3,5 vezes mais mortes por suicídio em comparação com o restante da população, conforme os registros analisados no estudo, embora as taxas de suicídio em todos os grupos tenham diminuído ao longo do tempo. E as pessoas trans na Dinamarca morreram —por suicídio ou outras causas– em idades mais jovens do que outras.

"Este é, sem dúvida, um grande problema que precisa ser analisado", disse Morten Frisch, epidemiologista de saúde sexual do Statens Serum Institut em Copenhague, na Dinamarca, e coautor do novo estudo.

Vigília por uma adolescente transgênero de 17 anos que morreu por suicídio em Ohio
Vigília por uma adolescente transgênero de 17 anos que morreu por suicídio em Ohio - Meg Vogel/The Enquirer, via Associated Press

As descobertas, publicadas nesta terça-feira (27) no Journal of the American Medical Association, surgem num momento político carregado nos Estados Unidos, onde legisladores republicanos de todo o país promulgaram leis que visam a sexualidade e a identidade de gênero, restringindo performances de travestis, o uso do banheiro para pessoas transgênero e tratamentos médicos relacionados ao gênero.

Estudos com pessoas LGBTQ+ nos Estados Unidos mostraram que elas têm altas taxas de pensamentos e tentativas de suicídio, colocando-as em alto risco de morte por suicídio. Mas com dados escassos sobre as mortes reais o risco de suicídio tornou-se uma questão de especulação e debate acalorado. Alguns republicanos argumentaram que os suicídios entre pessoas transgênero são raros, enquanto alguns defensores LGBTQ+ declararam que as novas leis podem levar mais jovens trans a cometer suicídio.

"Isso apresenta uma refutação total a alguns dos argumentos políticos que sugerem que o risco de suicídio nesses grupos é exagerado", disse Ann Haas, professora emérita da City University de Nova York que estudou os riscos de suicídio entre pessoas LGBTQ+ durante duas décadas.

Mas, acrescentou Haas, "este não é o momento de usar dados para qualquer recriminação política".

Os Estados Unidos, assim como a maioria dos países, não têm informações sobre a orientação sexual ou identidade de gênero das pessoas que morrem de forma violenta, porque essas informações não são registradas nos atestados de óbito. Alguns investigadores estão tentando coletar esses dados entrevistando amigos e familiares dos mortos, embora o progresso tenha sido lento.

A Dinamarca, no entanto, conta com um repositório de dados centralizado para todos os cidadãos, permitindo que os pesquisadores conduzam estudos maciços e rigorosamente controlados.

Os autores do novo relatório identificaram cerca de 3.800 pessoas trans na Dinamarca, extraindo dados de duas fontes: registros hospitalares e pedidos de mudança legal de gênero. Nesse grupo, quase 43% tinham diagnóstico psiquiátrico, em comparação com 7% do grupo não trans.

O estudo identificou 92 tentativas de suicídio e 12 mortes por suicídio no grupo transgênero entre 1980 e 2021, taxa consideravelmente maior que a encontrada no grupo não transgênero. Os pesquisadores disseram que provavelmente houve outros suicídios que não foram capturados nos dados porque nenhum registro indicava a identidade de gênero da pessoa. O estudo também descobriu que a taxa de outras mortes não suicidas no grupo trans foi quase o dobro da taxa do grupo não trans.

Os Estados Unidos e a Dinamarca têm taxas de suicídio comparáveis –14 por 100 mil pessoas em toda a população–, sugerindo que as descobertas do estudo também podem ser aplicadas nos Estados Unidos, disseram os pesquisadores.

"As pessoas trans enfrentam pobreza e discriminação generalizadas, são mais propensas a ficar sem teto, estão super-representadas no sistema prisional e no sistema de assistência social do país", disse Gillian Branstetter, estrategista de comunicações da União Americana de Liberdades Civis, que enfoca os direitos dos transgêneros. "Essa falta material tem consequências muito reais em suas vidas, incluindo mortes prematuras."

Mas os pesquisadores alertaram contra tirar conclusões excessivamente amplas sobre as taxas calculadas. Por um lado, o número bruto de suicídios e tentativas entre pessoas transgênero era pequeno.

Com base em suas ferramentas de pesquisa, os pesquisadores descobriram que aproximadamente 0,06% da população dinamarquesa era transgênero. Em contraste, o Instituto Williams da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, estimou, usando dados de pesquisa, que o número de pessoas que se identificam como transgênero nos Estados Unidos é dez vezes maior. Isso pode significar que muitos transgêneros na Dinamarca –especialmente o crescente número de jovens que se identificam como trans ou não-binários– não foram incluídos nos dados, e talvez a verdadeira taxa de suicídio seja diferente da relatada, disseram os pesquisadores.

"Essas pesquisas tendem a incluir espectros muito mais amplos de indivíduos trans, e não podemos ter certeza de que nossos resultados sejam tão problemáticos no grupo mais amplo", disse Frisch.

ONDE BUSCAR ATENDIMENTO?

Rede de Atenção Psicossocial
Mapa mostra as unidades da rede habilitada pelo Ministério da Saúde até set.2020

Mapa Saúde Mental
Site mapeia diversos tipos de atendimento: www.mapasaudemental.com.br

CVV (Centro de Valorização da Vida)
Voluntários atendem ligações gratuitas 24 horas por dia no número 188: www.cvv.org.br.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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