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Fogão a gás pode ser pior para saúde do que fumaça passiva de cigarro

Eletrodoméstico pode elevar a concentração de benzeno, que aumenta risco de câncer

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Hiroko Tabuchi
The New York Times

O uso de um único queimador de fogão a gás pode elevar dentro das casas a concentração de benzeno, substância ligada ao risco de câncer, acima da que é encontrada na fumaça passiva do tabaco, segundo um novo estudo.

Para o estudo revisado por pares, pesquisadores da Escola Doerr de Sustentabilidade da Universidade Stanford (EUA) mediram as emissões de benzeno de fogões em 87 residências na Califórnia e no Colorado.

Eles descobriram que fogões a gás natural e a propano emitem benzeno em concentrações frequentemente acima dos padrões de saúde estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde e outros órgãos públicos.

Fogão a gás em um apartamento de Nova York (EUA), onde os cientistas também fizeram a medição da liberação de gases tóxicos - NYT

Em cerca de um terço das casas, um único queimador de gás no nível máximo ou um forno ajustado para 180 °C por 45 minutos elevou os níveis de benzeno acima da faixa superior de concentrações internas observadas na fumaça passiva do tabaco, descobriram os pesquisadores. Eles observaram que concentrações semelhantes, quando identificadas em 2020 perto de escolas na Grande Los Angeles e no Front Range do Colorado, levaram a investigações pelas autoridades locais.

"Achei surpreendente", disse Yannai Kashtan, principal autor do estudo, "que as concentrações que desencadearam um clamor público quando foram detectadas ao ar livre são as mesmas que encontramos repetidamente dentro das casas, só de fogões."

Um corpo crescente de pesquisas documentou significativa poluição do ar interno e efeitos negativos à saúde causados por fogões a gás. Eles também emitem outros poluentes nocivos, como dióxido de nitrogênio, monóxido de carbono e formaldeído, e ainda podem vazar metano, um potente gás de efeito estufa, mesmo quando desligados. Um estudo publicado em dezembro estimou que 12,7% da asma infantil nos Estados Unidos estava ligada a fogões a gás.

Mas o estudo mais recente, publicado na semana passada na revista Environmental Science and Technology, foi o primeiro a focar na quantificação do benzeno que sai da chama do fogão no processo de combustão.

A Agência Internacional das Nações Unidas para Pesquisa de Câncer e a Agência de Proteção Ambiental dos EUA definem o benzeno como um carcinógeno humano. Respirar o produto químico pode aumentar o risco de leucemia e linfoma, entre outros efeitos graves para a saúde. Os médicos dizem que nenhum nível de exposição é seguro.

A equipe de Stanford mediu as emissões da própria comida, fritando alguns peixes, bem como bacon, e encontrou emissões insignificantes de benzeno. As emissões domésticas de fogões elétricos e de indução também são insignificantes, segundo a pesquisa de Stanford e outros estudos.

Preocupações com os efeitos dos fogões a gás na saúde já levaram algumas cidades e estados americanos a tentar eliminar gradualmente as conexões de gás em prédios residenciais. O governo federal está se movendo para reforçar os critérios de eficiência para fogões a gás.

Ainda assim, a questão tornou-se politizada. No último dia 14, os deputados republicanos dos EUA aprovaram um projeto de lei que impede que fundos federais sejam usados para regulamentar fogões a gás como produtos perigosos. Não se esperava que a medida fosse aprovada no Senado, mas ela salientou a divisão sobre o assunto entre os políticos do país, apesar da ciência.

Kashtan, doutorando que é o principal pesquisador no artigo de Stanford, observou que o estudo se concentrou em casas unifamiliares na Califórnia e no Colorado, que tendem a ser maiores do que apartamentos em grandes cidades como Nova York. Testes mais recentes da equipe de Stanford detectaram concentrações mais altas de alguns poluentes de fogões a gás em pequenas cozinhas de Nova York e descobriram que esses poluentes se espalhavam rapidamente pela casa e permaneciam às vezes durante horas.

A doutora Janice Kirsch, oncologista e ex-investigadora de um estudo em larga escala sobre leucemia infantil, que não participou da pesquisa de Stanford, disse que os níveis de benzeno que os pesquisadores descobriram saindo de fogões a gás nas casas das pessoas são alarmantes.

"Sabíamos que quando você queima metano obtém benzeno. Mas realmente fazer as medições é inovador, e os níveis são mais altos do que o esperado. É muito mais perigoso", disse Kirsch. "O benzeno é o material de que são feitos os pesadelos."

O que a preocupa especialmente é que cada vez mais pesquisas mostram que as pessoas estão sendo expostas a produtos químicos nocivos tanto fora de casa, de coisas como tráfego, fábricas ou fumaça de incêndios florestais, quanto dentro.

Mas em casa, pelo menos, as pessoas têm um pouco mais de controle sobre sua exposição. "Isso nos dá um caminho a seguir", disse Kirsch. As pessoas poderiam comprar placas de indução relativamente baratas, disse ela, ou usar torradeiras e chaleiras elétricas quando possível. "E ventilar", disse ela. "É preciso ventilar."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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