Proposta de mudança do diagnóstico de Alzheimer usa escala de classificação semelhante à do câncer

Diretrizes preliminares reveladas neste domingo (16) abrangem um sistema de estágios numéricos que avalia a progressão da doença

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Julie Steenhuysen
Reuters

Especialistas em doença de Alzheimer estão propondo uma modificação na forma como os médicos diagnosticam pacientes com o distúrbio cerebral progressivo —o tipo mais comum de demência—, criando uma escala de classificação de sete pontos com base nas alterações cognitivas e biológicas do paciente.

As diretrizes propostas, reveladas por especialistas neste domingo (16) em um relatório divulgado em uma conferência da Associação de Alzheimer em Amsterdã, abrangem um sistema de estágios numéricos que avalia a progressão da doença, semelhante ao usado em diagnósticos de câncer. Também é eliminado o uso de termos como leve, moderado e grave.

Especialista aponta evidências da doença de Alzheimer em exames realizados em hospital de Boston - Brian Snyder - 30.mar.23/Reuters

As diretrizes preliminares estão abertas para revisão e comentários de especialistas e serão revisadas posteriormente para refletir essa opinião, de acordo com um porta-voz da Associação de Alzheimer.

A reformulação —substituindo as diretrizes emitidas em 2018— foi motivada pelo aumento da disponibilidade de testes que detectam as principais proteínas relacionadas ao Alzheimer, como beta-amiloide no sangue, e novos tratamentos que exigem confirmação da patologia da doença antes do uso.

O novo sistema foi projetado para ser mais preciso e refletir melhor a doença subjacente de uma pessoa, de acordo com o médico Clifford Jack, da Clínica Mayo, em Rochester (Minnesota), principal autor do relatório patrocinado pela Associação de Alzheimer e pelo Instituto Nacional do Envelhecimento, parte dos Institutos Nacionais de Saúde do governo dos Estados Unidos.

A alteração ocorre num momento em que os médicos se preparam para identificar e tratar pacientes com o medicamento Leqembi, das farmacêuticas Eisai e Biogen, aprovado pela Administração de Alimentos e Drogas (FDA) este mês, e o medicamento experimental da Eli Lilly, donanemab, que agora está sob revisão da FDA.

"Realmente estamos entrando numa era de medicina muito mais personalizada, onde começamos a entender que certos biomarcadores são elevados até certos graus em pessoas em diferentes estágios", disse Maria Carrillo, diretora científica da Associação de Alzheimer.

Sob a nova abordagem diagnóstica, os pacientes receberiam uma pontuação de 1 a 7 com base na presença de biomarcadores anormais da doença e na extensão das alterações cognitivas. O sistema também adota quatro estágios biológicos classificados como a, b, c e d. Por exemplo, o estágio 1a é quando uma pessoa é completamente assintomática, mas possui biomarcadores anormais.

"O estágio 1a é realmente o início da evidência de que a pessoa tem a doença", disse Jack.

No estágio 2, um indivíduo pode ter biomarcadores anormais e mudanças muito sutis na cognição ou no comportamento. O estágio 3 equivale aproximadamente ao atual estágio pré-sintomático conhecido como comprometimento cognitivo leve, enquanto os estágios 4, 5 e 6 são equivalentes à demência leve, moderada e grave.

A nova escala inclui ainda um estágio 0, para pessoas que possuem genes que garantem que elas desenvolverão a doença de Alzheimer. Essa categoria inclui pessoas com síndrome de Down, 75% das quais desenvolvem Alzheimer quando adultas.

Observando a semelhança do novo sistema com os estágios do câncer, Jack disse: "Não existe câncer de mama leve. São estágios numéricos". Jack também observou que muitas outras condições podem causar demência, mas nem toda demência é doença de Alzheimer.

As diretrizes propostas se destinam ao uso por médicos na prática clínica, já que muitos enfrentam a perspectiva, pela primeira vez, de oferecer aos pacientes tratamentos que podem retardar o curso da doença, em vez de apenas tratar os sintomas.

A doença de Alzheimer, que destrói gradualmente a memória e as habilidades de pensamento, é caracterizada por alterações no cérebro, incluindo placas beta-amiloides e emaranhados neurofibrilares, ou tau, que resultam na perda de neurônios e suas conexões.

As diretrizes de 2018, destinadas ao uso em pesquisa, incorporaram as tecnologias existentes para detectar proteínas de Alzheimer com base em exames PET (tomografia por emissão de pósitrons) do cérebro e testes de líquido cefalorraquidiano, que só eram acessíveis por punção lombar. Esses testes eram caros e não eram normalmente usados na prática médica padrão.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.