Descrição de chapéu The New York Times câncer

Terapia CAR-T contra câncer pode causar a própria doença, diz FDA

Agência diz que recebeu 19 relatos de novos tipos da doença no sangue de pacientes que se submeteram ao tratamento

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Gina Kolata
The New York Times

Um tratamento contra o câncer que salva vidas pode, ele mesmo, causar o câncer, segundo informações divulgadas na última terça-feira (28) pela FDA (agência reguladora de medicamentos e alimentos nos EUA).

O tratamento, denominado CAR-T, foi aprovado pela primeira vez em novembro de 2017 para cânceres no sangue potencialmente fatais. A FDA, porém, disse que recebeu 19 relatos de novos tipos de câncer no sangue em pacientes que se submeteram ao tratamento.

Bolsa de sangue que contém a célula CAR-T, no Laboratório Nutera, em Ribeirão Preto - Joel Silva/Folhapress

Milhares de vidas salvas

O CAR-T envolve a remoção das células T – um tipo de glóbulo branco – do sangue do paciente e, em seguida, trabalho de engenharia genética para produzir proteínas – receptores de antígenos quiméricos (CAR) – que permitem que as células T se liguem às células cancerígenas e as matem. Depois, as células modificadas são injetadas de volta no sangue do paciente.

A FDA aprovou seis produtos comerciais de CAR-T. Especialistas em câncer afirmam que os tratamentos salvaram a vida de milhares de pacientes com câncer no sangue. Mesmo que exista uma ligação causal entre os tratamentos e um pequeno risco de um novo câncer, segundo os reguladores, os benefícios do tratamento superam os riscos. Esse sentimento também foi manifestado pelos médicos envolvidos no tratamento.

Embora o risco hipotético fosse conhecido, não foi observado em pacientes, diz a médica Marcela V. Maus, diretora de imunoterapia celular do Hospital Geral de Massachusetts.

O médico John DiPersio, diretor do centro de imunoterapia genética e celular da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, em St. Louis (estado de Missouri, EUA), diz que seu centro tratou de 500 a 700 pacientes. E acrescenta: "Não vi nenhum" desenvolver um novo câncer de células T.

A terapia CAR-T foi reservada para pacientes que morreriam sem ela, explica ele.

"Todos vão morrer, e rapidamente, sem esse tratamento. Isso salva a vida deles", diz DiPersio. "Funciona em uma parcela substancial dos pacientes. O benefício é enorme."

O que desencadeou a pesquisa da FDA

A FDA disse em seu anúncio que os relatos de cânceres adicionais incluíam consequências graves –hospitalizações e mortes. E, segundo a agência, sabe-se que a forma como as células CAR-T são produzidas apresenta o risco de causar câncer nos receptores.

Quando as células T dos pacientes são modificadas para produzir proteínas que atacam as células cancerígenas, um vírus ajuda a inserir novos genes no DNA das células T. Isso tem o potencial de perturbar outros genes, levando ao câncer.

Mas existem outras explicações possíveis. A terapia CAR-T é usada quando os pacientes já fizeram pelo menos uma rodada de tratamentos convencionais com quimioterapia intensa e, muitas vezes, radioterapia. Esses tratamentos podem provocar novos tipos de câncer no sangue. Mesmo sem quimioterapia ou radiação, acrescenta Maus, os pacientes com câncer nas células sanguíneas são especialmente suscetíveis de desenvolver outros cânceres nas células sanguíneas.

A busca por uma prova clara

Uma questão sem resposta, dizem Maus e DiPersio, é se os novos cânceres envolviam células T que transportam as proteínas CAR adicionais. Isso não prova que a inserção do gene causou os cânceres. Entretanto, diz DiPersio, "é mais uma prova clara".

A FDA não descreveu quaisquer resultados previstos de sua pesquisa, mas disse que está "avaliando a necessidade de ação regulatória".

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