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Brasil atinge 650 mil casos de dengue em meio a escalada histórica da doença

Registros prováveis saltaram cerca de 300% em relação ao mesmo período ano passado; são 113 mortes

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São Paulo

O Brasil atingiu a marca de 113 mortos pela dengue nas sete primeiras semanas de 2024 em meio a escalada histórica da doença. Há ainda 438 óbitos em investigação, de acordo com informações divulgadas nesta segunda-feira (19) pelo Ministério da Saúde.

Até o último dia 17, o país havia registrado 653.656 casos prováveis, alta de 294% em comparação com o mesmo período do 2023, ano em que o país bateu recorde de mortes pela doença.

O atual patamar nunca foi atingido tão rapidamente, segundo dados do ministério. A pasta projeta que o país pode atingir os 4,2 milhões de casos até o fim do ano.

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Pacientes com dengue são atendidos em hospital de campanha montado em Ceilândia, no Distrito Federal - Pedro Ladeira - 06.fev.2024/Folhapress

Segundo dados do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), na atual situação, o ano atual já supera epidemias graves em número de casos. Em 2019, por exemplo, foram 141 mil ocorrências em todo o país. Já em 2015, pior ano da série histórica do Ministério da Saúde, foram 208 mil casos no período.

Em número de mortes, o início de 2024 é o pior dos últimos quatro anos, mas não atingiu níveis registrados em crises anteriores. Em 2015, foram 172 mortes no período. No ano seguinte, 234. Já em 2020, foram 159 óbitos. O número desse ano, no entanto, ainda pode aumentar, já que há mais de 400 casos em investigação.

Especialistas ouvidos pela reportagem apontam fatores climáticos como centrais para a explosão de casos. O calor acima da média e o período chuvoso criam condições ideais para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença.

"Observamos expansão recente do vetor para áreas geográficas que não tinham o mosquito, como Rio Grande do Sul, ou até a cidade de São Paulo", afirma o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e professor da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul).

A elevação da temperatura também acelera a multiplicação do vetor. "Quando você tem mais calor, o ciclo do mosquito diminui. Normalmente ele leva uns 10 dias para se desenvolver depois da eclosão do ovo. Quando faz mais calor, o ciclo é encurtado para até cinco dias", acrescenta Croda

Para o infectologista Marcos Boulos, professor titular da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), ainda é cedo para dizer se o pico de infecções, que normalmente ocorre em abril, será antecipado nesse ano. "Enquanto chover, a tendência é que os casos continuem aumentando", diz ele, citando o fenômeno El Niño como importante influência para a atual situação.

O médico ainda alerta para a possibilidade da epidemia se prolongar devido à circulação de diferentes subtipos do vírus causador da dengue. Atualmente, os sorotipos predominantes são o 1 e 2, mas o tipo 3 voltou a circular recentemente.

"Agora o sorotipo 3 também aparece e começa a subir. Apesar de não oferecer grande impacto nesse momento, é um risco de prolongar esse quadro", avalia.

Segundo o Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde, Minas Gerais é a unidade da federação com maior número de casos: 218.066, praticamente um terço dos registros nacionais. Em seguida vem São Paulo (111.470), Distrito Federal (79.287), Paraná (69.991) e Rio de Janeiro (49.263).

Ao se considerar como parâmetro a taxa de incidência da dengue a cada 100 mil habitantes, o Distrito Federal aparece como o cenário mais preocupante. São 2.814 casos para cada 100 mil habitantes. Em seguida está Minas Gerais (1.061), onde quase metade dos municípios registram incidência acima de de 300 casos –marca usada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para delimitar quando a situação é considerada epidêmica.

Em todo o país, outros cinco estados ultrapassam essa marca: Acre (644), Paraná (611), Goiás (569), Espírito Santo (510) e Rio de Janeiro (306).

A vacinação contra a doença, iniciada neste mês em municípios pelo Brasil, não terá impacto no enfrentamento à dengue em 2024 devido à limitada quantidade imunizantes prevista e o intervalo de três meses entre a aplicação da primeira e segunda doses.

O Ministério da Saúde pretende vacinar cerca de 3,2 milhões de pessoas até o fim de 2024. Recentemente, o fornecimento do imunizante para o mercado particular brasileiro foi suspenso pela fabricante, que irá priorizar a distribuição ao SUS (Sistema único de Saúde).

A campanha de vacinação será concentrada em aproximadamente 500 municípios, definidos como prioritários devido às altas taxas de transmissão e incidência do sorotipo 2 do vírus. Crianças e adolescentes de 10 a 14 anos foram definidos como público-alvo, e a indicação da Saúde é que os municípios mirem inicialmente aqueles de 10 e 11 anos.

O Distrito Federal foi a primeira unidade da federação a iniciar a campanha, há dez dias. No estado de São Paulo, quem deu a largada foi a cidade de Itaquaquecetuba, na região metropolitana, nesta segunda-feira (19). Outros 10 municípios da região do Alto Tietê receberam doses do imunizante.

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